FENTON, Natalie. New media, old news: journalism and democracy in the digital age.
London: Routledge, 2011.
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Por Andréa Souza e Leila Nogueira
Sobre a autora:
Natalie
Fenton é professora de Mídia e Comunicações em Goldsmiths, Universidade de
Londres, onde ela também é chefe-adjunta do Departamento e Co-Diretora do
Leverhulme Mídia Goldsmiths, Centro de Investigação e do Centro de Estudos de
Mída Global e Democracia. Ela tem publicado extensamente sobre questões
relacionadas ao jornalismo, notícias, política e novas mídias. Seus livros mais recentes são New media, old news: journalism and
democracy in the digital age e Misunderstanding the Internet,
escrito
com James Curran e Freedman Des.
Objetivos
do livro: Segundo a autora, o livro pretende explorar como as mudanças
tecnológicas, econômicas e sociais têm reconfigurado o jornalismo e as
conseqüências destas transformações para uma democracia vibrante, nas palavras
de Fenton.
Argumentação Central: A partir de alguns questionamentos (mudanças tecnológicas, econômicas e sociais reconfiguram o trabalho do jornalista na produção de notícias em termos de apuração, pesquisa, observação, edição e escrita?; quem são os jornalistas e como eles exercem influência um sobre os outros?; de que forma as mudanças tecnológicas e sociais influenciam as perspectivas da natureza das notícias online e do jornalismo participativo, bem como de que forma essas mudanças reforçam o papel do cidadão jornalista e ONG´s como fontes de notícias?), a autora, ao longo dos capítulos que compõem o livro, pretende apresentar, senão respostas, mas, direcionamentos, considerando as perspectivas históricas, econômicas, regulamentares, sociopolíticas, sócio-culturais e organizacionais.
INTRODUÇÃO
Tópico Um.
Afogamento ou ondulação? Novas medias,
jornalismo e democracia
A autora inicia o capítulo
introdutório afirmando que a notícia é o sangue da vida de uma democracia – as
notícias jornalísticas seriam os recursos vitais para os processos de
informação, deliberação, recolha e ação da sociedade. O etos e a vocação
jornalística, segundo Fenton, estão inseridos em uma relação com a democracia e
a sua prática. A tensão entre a história de prática comercial do jornalismo,
controle de regulamentar a sua atuação e as inovações tecnológicas neste campo
formaria o tripé condutor de todo o livro.
Quando a autora fala em
jornalismo, a mesma refere-se ao de assuntos atuais para o bem público e para o
interesse público, mesmo que isto seja visto como algo ideal, no que tange ao
seu horizonte ético, tanto por quem o produz como por quem o consome.
Usando entrevistas, etnografia e
análise de conteúdo qualitativa para investigar processos de produção de
notícias em uma amostra representativa de imprensa, a pesquisa combina análises
macro-social e micro-organizacional para uma compreensão complexa e crítica da
natureza da notícia jornalística na atualidade. O esforço empreendido pela
pesquisadora foi submeter ao escrutínio empírico as formas em que as novas
mídias de notícias e o jornalismo contribuem para a prática política
democrática de alimentar interesse público. De acordo com a pesquisa, a autora
afirma que o jornalismo está passando por transformações fundamentais e que as
naturezas destas mudanças são: natureza tecnológica o que leva à natureza da
produtividade coletiva.
Na introdução, Fenton dá destaque
ao capítulo dois do seu livro, o qual irá abordar que sempre houve a presença
da ‘nova tecnologia’ na história da notícia jornalística e que esta nova
tecnologia tem sido acompanhada pelo seu potencial democrático, sua capacidade
de se tornar uma ferramenta do povo tomar o poder das estruturas da sociedade
de elite. Ainda para a autora, os debates, ao longo da história do jornalismo
sobre o impacto das novas tecnologias, salientam sempre as características de pluralidade,
acessibilidade e a participação.
Finalizando este tópico do
capítulo introdutório, destacamos que a autora declara não ser nenhuma surpresa
que a nova mídia (e aqui ela se refere à internet) oferece ansiedade e preocupação.
Mas, ressalta Fenton, as esperanças e os medos das novas mídias não são tão
novas assim. Estas preocupações não seriam somente fruto da tecnologia ou do
comportamento não tão ético dos jornalistas, mas fazem parte de uma história
mais complexa na qual os aspectos sócio-político-econômico-social são
fundamentais.
Ao longo do capítulo
introdutório, a autora irá tratar a forma como as três características centrais
da internet interferem/contribuem na produção da notícia: a) velocidade e
espaço; b) multiplicidade e policentralidade; c) interatividade e participação.
Tópico
Dois. Novas medias e as mensagens: democracia revigorada ou regulagem ao bom
jornalismo? Velocidade e Espaço
Para esta característica –
velocidade e espaço -, a autora apresenta aspectos positivos e negativos.
Comecemos com os positivos: a) quanto mais espaço mais novidade; b) através de
uma capacidade maior de arquivamento mais profundidade na cobertura; c) reforço
na capacidade de atualização; d) forma inovadora e interessante na apresentação
das informações; e) aumento do alcance geográfico. Já os aspectos negativos: a)
lançamento das notícias sem a devida apuração; b) por conta do imediatismo,
usa-se muito a produção de agências de notícias, em detrimento da reportagem do
próprio veículo; c) “robohacks” praticando “churnalism”; d) mais produção de
notícias com menor necessidade de saída da redação. Quanto a este último item
do aspecto negativo, Fenton descreve como se dá o trabalho jornalístico
considerando o aumento da produção sem a saída do jornalista da redação – o
jornalista não só escreve, mas também compõe um pacote de apresentação completa
na tela: desde aquisição de imagens à escrita da composição da página.
Tópico
Três. Multiplicidade e Policentralidade
O espaço disponível também dá
origem ao potencial para uma pluralidade de fornecedores de notícias, a qual
ameaça o monopólio das grandes corporações jornalísticas, abrindo a produção da
informação para todos os cidadãos, os quais dispõem de acesso a um computador e
software certo. Esta é a tônica desta característica.
Como a internet apresenta o
modelo de difusão de informação muitos –
para - muitos, coloca em pé de igualdade os conglomerados e os provedores
de menores portes: pequenos provedores de notícias online proporcionando
espaços para posições minoritárias de notícias que não seriam veiculadas no
noticiário dominante, por conta da aparente falta de apelo a um público de
massa.
Fenton, citando McNair (1999),
salienta que as novas plataformas de difusão questionam o conceito de público: elas
incentivam a substituição do conceito de público como sendo algo único por uma
visão de ‘múltiplos públicos’. Desta forma, o jornalismo online adquire o
conceito de ser um jornalismo que oferece ao público uma visão do mundo de
forma mais contextualizada, texturizada e multidimensional, diferente da visão
apregoada pelos meios de comunicação tradicionais. A autora salienta ainda que
diante desta realidade, ou seja, os ‘múltiplos públicos’ como sendo pequenos
provedores de notícias abrindo espaços para informações minoritárias etc, as
noções jornalísticas de objetividade e imparcialidade estariam em xeque. “No
jornalismo online, essas âncoras normativas tornam-se desfeitas em favor do
reconhecimento da impossibilidade da objetividade e uma maior sensibilização da
subjetividade.”.
No entanto, a autora salienta que
a multiplicidade nem sempre se traduz em diversidade de informações. Às vezes,
o que efetivamente encontramos é ‘mais do mesmo’, apenas em uma forma menos
extensa. Em outras palavras, multiplicidade pode ser às vezes entendida como
aumento da quantidade de informação, mas que não necessariamente nos leva a
qualidade da mesma. Com isto, segundo
Fenton, maximizamos o público, e isto faz com que se aumente o lucro (mais
pessoas para consumir), mas, nem sempre conseguimos atingir o interesse
público. Neste ponto, a autora destaca que o uso das agências de notícias
promove um discurso público homogêneo.
Tópico
Quatro. Interatividade e Participação
A partir desta característica, a
autora apresenta alguns pontos para refutar as conseqüências negativas do uso
da internet na difusão das notícias. “Estas consequências negativas são
refutadas por aqueles que proclamam que a natureza interativa e participativa
da internet significa que todos ou qualquer um pode ser um jornalista com as
ferramentas certas. O jornalismo cívico é crescente e o acesso à informação
pública e os serviços governamentais está em expansão” (Pavlik, 2001).
No ambiente online, argumenta-se
que os leitores possam ter um maior impacto sobre as notícias através da sua
interação com os jornalistas, no tocante a apresentação do seu ponto de vista:
notícias online permitem um canal maior de contestação do que é típico da mídia
noticiosa tradicional.
O mundo aberto e interativo de
comentários online coloca o jornalismo em outro patamar: valores-notícias são
discutidos e temas mais populistas e/ou aqueles mais direcionados para a
auto-publicidade são mais valorizados, colocando em xeque a ética do valor
público.
Tópico
Cinco. Uma nota sobre metodologia
A autora inicia este ponto dando
destaque ao entendimento do que é notícia ao longo dos últimos 200 anos. Logo
de início, Fenton salienta que notícia é uma categoria culturalmente
construída.
Segundo Carey (1986), notícia não
seria um vislumbre transparente para o mundo, pois na construção do fluxo
jornalístico entrariam em jogo os constrangimentos organizacionais sob os quais
os jornalistas se submetem e as formas literárias e narrativas de construção de
texto jornalístico. Embora a autora saliente que o meio termo entre os
constrangimentos e as formas textuais seja necessário, salienta também que a
pesquisa sobre a produção e o fluxo de notícias, das últimas duas décadas,
precisava de um projeto que refletisse as suas mudanças. Com isto, a autora
identifica que o produtor da notícia está mudando: os atores sociais envolvidos
na construção da notícia têm se expandido e ampliado para fora da redação,
resultando na expansão do lócus de produção de notícias. A autora destaca:
“estas novas vozes formam uma parte crucial desta pesquisa”. Neste ponto, a
autora dá destaque aos seguintes produtores de notícias: o pessoal da
propaganda e o pessoal do design. Estes seriam também jornalistas (?!).
Para refletir a mudança de
produção da notícia, a pesquisadora baseou-se em três eixos metodológicos: a)
160 entrevistas semi-estruturadas com uma gama de profissionais de seção
transversais de mídia estratificada por tipo, alcance geográfico, papéis
profissionais, radiodifusão, setor comercial e público em geral; b) para
adicionar profundidade contextual, a pesquisa apresenta mini-etnografias de
três veículos de notícias – BBC, Manchester Evening News e o The Guardian; c)
com o intuito de promover descobertas críticas emergentes, foi feita uma análise
qualitativa do conteúdo de notícias online (mídias online tradicionais, meios
online alternativos, sites de redes sociais e You Tube).
Tópico
Seis. Conclusão: afogamento ou ondulação?
De acordo com a autora, o livro
apresentará que os dois pontos de vistas proeminentes descritos na introdução estão
errados, ou seja, tanto os tecno-otimistas quando os tecno-pessimistas estão
equivocados em suas premissas.
O pessimismo que afirma ser a
lógica sócio-econômica do capitalismo em que qualquer mudança opera, inevitavelmente,
a favor de um modelo de negócio e contra o bem público é enganosa. A internet
tem modificado as dinâmicas, às vezes, de maneira positiva e produtiva: novas
vozes têm encontrado expressão; permitiu que comunidades estabelecidas de
interesse comum a serem mais eficientes na circulação da comunicação e partilha
de informação umas com as outras; interpretações alternativas de notícias e
assuntos atuais têm encontrado espaço e voz online; e, como repositório de
informações e conhecimentos, a internet é incomparável.
Mas, para a produção deste livro,
a autora tomou o cuidado de salientar que a visão utópica de um admirável mundo
novo com todas as pessoas ligadas a todos os demais, de forma não hierárquica,
com igualdade de acesso também está longe de ser verdade.
CAPÍTULO
DOIS
Tópico Um. A economia política do
novo ambiente de notícias
O fim das notícias (como nós
sabemos?)
O modelo de negócio tradicional
de difusão de notícias está em crise: uma série de acontecimentos tem um
impacto enorme não apenas sobre o futuro do negócio de notícias, mas na
capacidade dos cidadãos comuns para proteger as informações que lhe permite, de
forma mais eficaz, participar da vida pública.
Por que este modelo está em
crise?
Vários motivos são apresentados:
porque as audiências mais jovens estão abandonando-os para o imediatismo e a
interatividade da internet; porque os anunciantes são cada vez mais atraídos
pelas possibilidades de segmentação mais precisa das audiências online; porque
as organizações noticiosas tradicionais perderam a sua posição privilegiada na
entrega do mundo ao seu público; e, porque em um mundo dominado por um
compromisso forte para a eficácia do mercado, os governos e os reguladores
estão relutantes em intervir e ajudar a prevenir a hemorragia de leitores,
espectadores e receitas.
O formato, o modelo de negócio e
a organização deste modelo de jornal tornaram-se obsoleto. Segundo Warren
Buffet, se o cabo e radiodifusão por satélite, bem como a internet viessem
juntos e antes, o jornal, como o conhecemos, provavelmente, nunca teria
existido.
Neste momento, Fenton se
posiciona: a história do modelo de negócio falido é complexa e irredutível para
fatalistas e singulares explicações com base em ‘realidades econômicas’ de
ganhos e perdas, apatia política ou, acima de tudo, a inovação tecnológica. “Esta
não é a primeira crise a afetar a coleta e circulação de notícias que só pode
ser completamente avaliada colocando os desafios aos modelos de negócios
existentes em um amplo contexto político e econômico e confrontando as
premissas daqueles que prevêem um declínio inexorável no valor de fornecedores
de notícias tradicionais, dado o desafio da internet”.
A autora destaca: ‘notícia nunca
foi um bem comum’. Ela (a notícia) sempre teve um estatuto especial no sentido
de facilitar uma esfera pública, fornecendo para as elites um poderoso canal de
influência com, pelo menos, alguma informação necessária para participar da
vida democrática. O seu futuro não pode ser previsto em relação a fatores
exclusivamente econômicos e tecnológicos.
A autora destaca os objetivos
deste capítulo: a) identificar a escala dos problemas econômicos enfrentados
pelos provedores tradicionais de notícias; b) discute algumas estratégias
adotadas pelas organizações para lidar com um ambiente inseguro; c) avalia a
viabilidade e as implicações de um modelo de negócio online.
Tópico
Dois. Declínio em leitores e espectadores
A autora apresenta números da sua
pesquisa feita no Reino Unido.
A leitura de jornais vem caindo
persistentemente. Ela então apresenta números:
a) uma queda de 19% no número de
adultos britânicos que lêem jornais diários nacionais entre 1992 a 2006;
b) uma redução de 22% na
circulação de títulos nacionais entre 1995 a 2007.
Também foi destacada a diminuição
significativa no número de horas de notícia nacional assistida nos principais
canais de televisão deste país:
a)
1994 – os espectadores consumiam mais de 108 horas
de notícias nacionais;
b)
1997 – os espectadores consumiam quase 91 horas de
notícias nacionais;
c)
2006 – foi registrada uma queda de 16,3%.
Tópico
Quatro. Mais concorrência, menos
publicidade
O declínio no número de leitores
e espectadores está relacionado com o crescimento no número de canais de
notícias disponíveis. Isto não quer dizer que antes não havia competição entre
os canais, mas sim que a competição agora tem como tônica as mudanças que
acontecem de forma mais rápida e veloz. O declínio das receitas publicitárias
agravou também os problemas nos jornais e nas emissoras de televisão.
Um dos motivos pelos quais a
publicidade migrou para a internet em detrimento da publicidade para o jornal
e/ou emissoras de televisão é que na internet a capacidade de se atingir nichos
de públicos alvos a baixo custo é maior. Quem mais sente esta evasão da verba
publicitária são os jornais regionais, pois a dependência na verba publicitária
para a sua sobrevivência é bem maior. No entanto, mesmo os jornais que
apresentam uma boa verba publicitária em sua versão online, não conseguem supri
o déficit da verba na sua versão física.
A capacidade da internet para
conectar anunciantes de um jornal, ou, em menor medida, de uma emissora de
televisão, levanta a possibilidade de que a ligação histórica entre publicidade
e editorial será quebrada e, com ele, o modelo que sustentou o fornecimento de
notícias por muitos anos. Neste contexto, o principal problema que afeta
fornecedores de notícias tradicionais não é o declínio das audiências em si,
mas da degeneração do modelo de negócio existente no qual atrela a notícia à
publicidade.
Neste tópico, a autora lança um
questionamento: como fazer mudanças radicais no plano de negócio sob a luz do
desafio da internet?
Tópico
Cinco. Estratégias de enfrentamento em
uma idade em linha
Nesta seção, a autora identifica
estratégias adotadas por organizações tradicionais de notícias em respostas aos
desafios colocados e oportunidades oferecidas pela internet e outras
plataformas digitais.
Qual é o plano de negócio modelo
de sucesso para o jornalismo? Segundo Phil Bronsteim, qualquer um que disser
que tem a resposta está mentindo. A
autora destaca que por serem bastante caóticas, as organizações de mídias
noticiosas são bem cautelosas em investimentos no mundo online. As exceções
apresentadas foram a BBC e o The Guardian.
Tópico
Seis. Redução de custos
Um das alternativas do negócio
jornal se colocar no jogo: redução de custos. Com isto, as redações apresentam
as seguintes demandas: jornalista polivalente (trabalha para a versão impressa
e online); o profissional passou a trabalhar mais horas, porém, não recebe por
este excesso de horas trabalhadas; cortes nas reportagens investigativas e
especializadas e em correspondentes estrangeiros; a imprensa local e regional
sentem mais estes reflexos.
No entanto, os entrevistados da
pesquisa afirmaram que estes cortes existiriam com ou sem a presença da
internet. No caso específico do Guardian, pessoal adicional foi contratado para
as demandas extras de notícias online.
A autora conclui este tópico
declarando que a internet caracteriza-se como um fator cada vez mais significativo
para a reestruturação do que está acontecendo na indústria de notícias.
Tópico
Sete. Diversificar
Uma resposta mais prospectiva por
organizações noticiosas tradicionais para perturbação da internet do seu
território é a diversificação de operações, a fim de expandir tanta a plateia
como fluxos de receita. Essas diversificações se dariam através de aquisições,
parcerias e investimentos.
O exemplo mais importante de
diversificação não tem aquisições e parcerias envolvidas, mas a tentativa dos
fornecedores tradicionais de notícias recriarem-se como empresa totalmente
integrada: fornecendo notícias online e offline. A internet oferece às
organizações de notícias uma oportunidade de se envolver com novos públicos na
esperança de que eles possam de alguma forma compensar o declínio da verba de
publicidade.
Tópico
Oito. Aspectos de um modelo de negócio de
notícias online
Logo no início deste tópico, a
autora salienta que os usuários têm relutância em pagar por conteúdo de
notícias. E destaca mais: a cobrança pelo conteúdo online não é uma grande
fonte de receita. Daí, uma sugestão: usar os usuários, ou seja, a sua
audiência, como moeda de troca para as verbas publicitárias.
Uma outra conclusão apresentada
por Fenton é que a publicidade online para as organizações tradicionais de
notícias pode ser o tipo errado de publicidade. “Em outras palavras, grupos
tradicionais de notícias são mais fortes em um dos menores setores do mercado e
os mais fracos no principal setor de publicidade online”.
A autora destaca dois perigos no
excesso de ênfase ao valor da publicidade online para as operações de notícias:
a) não há prova de que a publicidade online será imune aos ciclos econômicos;
b) sua taxa de crescimento está desacelerando.
Neste tópico, a autora ressalta
ainda que as características que conferem vantagens à internet – seu baixo
custo de entrada, interatividade – são um problema para as organizações
tradicionais de notícias.
Tópico
Nove. Conclusão: apocalipse adiado
Previsões sobre o fim dos jornais
e do colapso da rede de notícias à luz da mudança dramática de audiência online
e anunciantes perdem uma série de pontos importantes.
Primeiro, não existe um único e
fixo modelo de negócio para os jornais. Ele já sofreu mudanças ao longo da
história e poderá mudar novamente. Portanto, não há motivo para pensar que a
indústria não é flexível o suficiente para evoluir e atender às demandas de uma
sociedade em mudança. Segundo, o declínio na circulação antecede à era digital.
O ponto não é subestimar o ritmo acelerado de declínio nos últimos anos, mas a
enfatizar que o declínio em si não é novo e pode não pode ser explicado por
referência exclusiva da internet. Terceiro, o declínio das verbas publicitárias
pode muito bem ser uma experiência de uma crise econômica que já reduziu estas
verbas em outros setores da sociedade, como vendas por exemplo. Quarto,
considerando o país no qual a pesquisa foi feita, apenas 6% da população do
Reino Unido identifica a internet como sua principal fonte de notícias, 65%
optam pela televisão e 15% pelos jornais impressos. A população com idades
entre 16 e 24 anos, 3% identifica a internet como sua principal fonte de
notícias, 45% optam pela televisão; 14% pelos jornais impressos e 17%
declararam não ter interesse nesta questão.
Apresentando uma declaração de
Jeremy Caro, da União Nacional de Jornalistas, Fenton encerra o capítulo: “não
é a tecnologia, não é a plataforma, não é mesmo o jornalismo cidadão ou blogs
ou qualquer uma dessas coisas que são supostamente a ameaça ao jornalismo. A
ameaça ao jornalismo é o baixo investimento e isso é o mesmo em todas as
plataformas”. E autora contribui: “o futuro das notícias como outros capítulos
deste volume irá mostrar, depende da imaginação e independência, mas, acima de
tudo, sobre o investimento – em tecnologia, em recursos e, principalmente, em
próprios jornalistas”.
CAPÍTULO
TRÊS
Um
Déficit Ético? Transperência, Normas e Condições Materiais do Jornalismo
Contemporâneo.
Sobre os autores do capítulo 3:
Ângela
Phillips – professora adjunta da
Universidade de Londres e presidente da comissão de ética do Comitê de
Coordenação para Reforma da Mídia
Nick Couldry –
professor de Mídia e Comunicações da Universidade de Londres
Des Freedman –
professor do Centro de Pesquisa de Mídia Goldsmith
Leverhulme, da Universidade de Londres
Argumentação Central: De
acordo com os autores, independentemente do fato de as discutirmos ou não, a
mídia noticiosa suscita questões éticas. Desde que o jornalismo reivindicou um
papel essencial na democracia, sua ética se conectou com as questões do
funcionamento democrático. Mas, e se as condições, analisadas neste livro, sob
as quais o jornalismo é agora praticado forem inimigas da ação ética? (p. 51)
Quais são as implicações mais amplas para o jornalismo, para a democracia e
para as tentativas de regular o jornalismo nos processos democráticos?
Para fomentar o debate,
os pesquisadores dividem o capítulo em três partes: a primeira oferece os
pontos de referência do que vem a seguir a partir de uma versão dos princípios básicos
da ética da mídia, desenhando de modo particular a tradição ética
neo-aristoteliana. A segunda parte, revisa as evidências do trabalho dos
jornalistas nos jornais para ver o que isso nos conta sobre as condições da
ação ética entre os jornalistas do Reino Unido. A terceira e última parte
considera as implicações da discussão anterior para as responsabilidades e
limitações do atual processo de regulação da mídia.
Tópico 1
– Alguns pontos de referência éticos: os autores começam destacando que
a ética da mídia é uma área que vai além da detalhada literatura técnica dos
códigos de ética jornalística regularmente ensinados nos cursos de prática
jornalística. Ao considerar as opções filosóficas mais amplas que sustentam o
tópico de ‘como devemos esperar que a mídia aja’, eles pretendem abordar uma
lacuna potencial entre um conjunto de expectativas éticas relativamente não
controverso, que poderia ser implementado pelos jornalistas e suas atuais
condições de prática. Embora a literatura ofereça opções de formular princípios
de uma ética da mídia bem vasta, os autores tomam como referência a abordagem
neo-aristotélica e explicam que a escolha se dá não porque esta seja a melhor,
mas porque estão mais familiarizados com ela e que ela se distingue por considerar
os valores internos de uma prática particular em vez de obrigações universais
abstratas. Outra vantagem desta tradição ética neo-aristoteliana, segundo eles,
está na simplicidade das perguntas que formula: 1) Como devo viver? e 2)
Como cada um de nós deve conduzir nossa vida, de forma que seja uma vida que
qualquer um de nós deveria viver? (p. 52). A primeira foi atribuída a
Sócrates e, dessas duas, surgem várias outras como ‘Como podemos viver juntos, se,
ao viver, não temos escolha a não ser tentar viver compartilhando recursos?’;
‘Como
qualquer um de nós (profissionais da mídia ou não) deve agir em relação à mídia
e aos recursos midiáticos disponíveis de forma que os processo da mídia
contribuam para as vidas que – tanto individual quanto coletivamente – devemos
viver?’. A abordagem neo-aristoteliana vai além quando questiona ‘que
tipo de pessoa nós precisaríamos ser – e que tipo de disposições, hábitos e
capacidades (isto é, virtudes) precisaríamos ter para agir bem em relação à
mídia?. E,
sem pretender prejulgar o que deve ser feito em situações particulares, formula
uma questão mais ampla e manejável: ‘que tipo de disposições os jornalistas
precisam ter para agir bem (e tomar boas decisões) em situações particulares?’
(p.53). Eles também destacam dois aspectos como essenciais do jornalismo como
prática: a circulação de informação que contribui para o sucesso individual e
coletivo da vida num território; e toda a conjuntura que envolve a questão da
pluralidade. São citadas duas virtudes relacionadas ao jornalismo a partir da
obra de Bernard Williams, publicada em 2002, cujo título traduzido seria algo
como ‘Verdade e Veracidade’: acurácia e sinceridade. Uma terceira virtude, que
é acrescentada a partir de Silvestone, 2006, é a ‘hospitalidade’, que considera
a mídia como um espaço onde os mais diversos grupos possam ser reconhecidos
como agentes morais e sociais (p.54). Dessa forma, argumentam que o mais
importante é que a necessidade que a mídia noticiosa tem de levar em conta como
ela realmente afeta as condições de diálogo entre culturas e pessoas é uma
ponto necessário em qualquer ética da mídia. Os autores concluem este primeiro tópico com mais dois questionamentos: Quão bem as condições sob as quais os jornalistas trabalham se encaixam com as condições necessárias para habilitá-los a adquirir e manter a disposição de agir eticamente? Se o encaixe é pequeno, inexistente ou instável na atual era digital, quais são as implicações para a ética midiática e para a transparência da mídia numa democracia? (p. 54)
Tópico 2
– A Visão de uma Prática Noticiosa Contemporânea. Este
tópico começa com uma alusão a Foucault, que relaciona o comportamento ético
como ‘prática de liberdade’ às relações de poder. E as questões que surgem são:
‘Como as relações de poder operam na mídia noticiosa? Qual o grau de
“dominação” ou liberdade dos indivíduos? O ambiente da internet aumenta ou
diminui esta liberdade para os indivíduos jornalistas? Quais as consequências
disso para o comportamento ético? Os autores recorrem ao conceito de autonomia
em Bourdieu (2005) para defender que o jornalismo é um campo fraco em termos de
autonomia, uma vez que sua liberdade depende de uma compreensão do poder
sustentada na tensão entre os capitais econômico e cultural e afirmam: “Às
vezes, essas duas formas de capital reforçam uma à outra: uma história original
pode aumentar a circulação e, portanto, fortalecer o capital econômico.
Contudo, o imperativo na circulação da mídia noticiosa popular de massa para
vender tantas cópias quanto possível ou para atrair tantos ‘hits’ quanto
possível tende a enfraquecer o cultural em relação às demandas do econômico.”
(p. 55). Daí, segue a análise do campo do jornalismo britânico com exemplos de
restrição da liberdade dos profissionais nas redações de grandes jornais
populares.
Tópico 3
– Ética na Era da Internet. Nesta parte do capítulo, os autores revelam que
há evidências de que as demandas comerciais da internet podem estar empurrando
os jornais mais sérios para os fins mais comerciais do campo. Este é, segundo
os estudiosos, um desenvolvimento que está provavelmente mais perto de minar a
autonomia dos indivíduos jornalistas e com ela, sua habilidade de agir
eticamente (p.59). Como os autores chamam atenção, neste contexto, são os
jornalistas que têm mais a perder num curto prazo com o dilema ético do tipo
‘faço o que eles querem mesmo sabendo que a história está distorcida ou perco
meu emprego’ porque ele se depara com nada menos do que a corrupção dos padrões
morais pessoais. Mas, a longo prazo, o jornalismo como um todo sofre se baixos
padrões de acurácia forem normalizados (p. 60).
Tópico 4 – Sinceridade e Transparência. O ciclo de produção dos jornais faz com que os jornalistas raramente saibam exatamente como vai ficar o resultado do seu trabalho na página. Os subeditores rotineiramente reescrevem cópias, às vezes porque surgiu uma ‘grande estória’ e tudo precisa ser cortado para caber ou porque vários outros colegas estão trabalhando na mesma matéria, não importa o motivo. O problema é que um único nome permanece assinando aquele material, que – exatamente por conta do processo a que foi submetido – já guarda pouca relação com a história originalmente escrita. Para os autores, não é que não se possa utilizar material de agências ou reeditar reportagens, mas o que se torna dúbio do ponto de vista ético, é a prática de fazer isso sem atribuir o devido crédito. Se o jornalista não é o autor do texto que vai abaixo do seu nome e não tem nenhuma obrigação de atribuir a outro jornalista a responsabilidade pelo trabalho que foi incorporado ao seu, se há poucos meios práticos de garantir uma conexão entre o que ele individualmente acredita e o que ele ‘diz’ (ou, pelo menos, sua instituição requer que ele diga), é difícil ver como ele pode agir com sinceridade em sua tentativa de acurácia.
Tópico 5
– Conclusão: Ética, Democracia e Regulação. Os autores concluem o capítulo,
afirmando que ficou claro que, para vários jornalistas, os recursos e as
condições de trabalho necessárias para eles terem a oportunidade de agir com
acurácia, sinceridade e hospitalidade simplesmente não existem. Eles criticam a
auto-regulação da mídia, argumentando que ela serve mais para proteger a
indústria midiática dos sistemas mais formais de intrusão do governo do que
para assegurar a ética e a responsabilidade sobre o conteúdo transmitido
(p.65). O capítulo termina com a seguinte conclusão: “A internet, longe de
expandir os mecanismos de transparência e responsabilidade, está, em vez disso,
sendo usada como uma justificativa para mover o ônus de reportar eticamente de
um dever público para outro de interesses corporativos próprios e reflexões
privadas.” (p. 67)
CAPÍTULO
DEZ
Uma Nova
Ordem Noticiosa? O conteúdo das notícias on-line examinado.
Sobre os autores do capítulo 10:
Joanna
Redden – estudante do Centro de Pesquisa de Mídia Goldsmith Leverhulme, da
Universidade de Londres.
Tamara
Witschge – professora do Centro de Pesquisa de Mídia Goldsmith Leverhulme, da
Universidade de Londres.
Argumentação Central: De
acordo com as autoras, neste capítulo, elas buscam examinar as questões
descobertas na produção do estudo relatado ao longo do livro diretamente
relacionadas à natureza do conteúdo das notícias on-line. Elas questionam os
argumentos de que a internet levaria à produção de mais notícias (por causa da
sua velocidade e do seu espaço) e que levaria a produção de notícias mais
diversas (através da multiplicidade e policrentralidade) e que permite uma
maior participação do público na produção das notícias (devido à interatividade
e à participação). O capítulo está baseado na análise de cinco tipos diferente
de história. Essas histórias e seus desenvolvimentos foram monitorados dentre
uma gama de espaços da internet, aqueles que incluem espaços tradicionais de
notícias on-line (BBC News, Daily Mail, The Times, The Sun etc.), motores de
busca (Google e Yahoo) [a cujos resultados elas se referem como “não
necessariamente representativos”, p. 186], espaços alternativos de notícia
(Current TV, IndyMedia, OpenDemocracy) e sites sociais (Facebook, MySpace e You
Tube). As cinco estórias escolhidas foram: 1) O Príncipe Harry no Afeganistão em 2008; 2) O Protesto
no Tibet em 2008; 3) Crime com Faca em 2008; 4) O Terremoto de Sichuan em 2008;
5) A Crise do Northern Rock em 2007.
As perguntas, então, formuladas foram: O conteúdo é diverso ou homogêneo (entre
as plataformas)? A qual extensão as notícias on-line expandiram a esfera das
notícias? As notícias on-line oferecem uma gama diversa de conteúdo? Que
possibilidades os sites oferecem para o público participar?
Tópico 1
– Velocidade e Espaço: homogeneidade dos sites tradicionais de notícia
examinada. As autoras afirmam que a despeito da possibilidade
novas formas de produção e apresentação das notícias, muito do conteúdo
analisado é homogêneo. Segundo elas, as organizações noticiosas frequentemente
cobrem as histórias por um mesmo ângulo e diferentes organizações noticiosas
repetidamente apresentam a mesma informação, sejam imagens, citações ou
passagens descritivas (p.174). “Em outras palavras, a homogeneidade foi comum
tanto entre quanto dentro dos principais sites de notícia.”. Mas, o nível de
reciclagem interna, dentro do site, variava de acordo com a história. E, no
geral, os ‘tabloides’ apresentaram um grau maior de homogeneidade externa que
os outros jornais diários, ou seja, estes últimos tinham mais conteúdo
original. (p. 175). Elas destacam ainda que a descoberta de uma rede homogênea
e interconectada de significados é causa de preocupação (p. 177). E isso se
contrapõe à noção de ‘hospitalidade’ discutida no cap. 3. A diversidade coube aos
vídeos das testemunhas postados na cobertura do terremoto pela BBC (p.178).
Tópico 2
– Multiplicidade e Policentralidade: Notícias Alternativas e Espaços
não-noticiosos examinados. Neste tópico, as pesquisadoras afirmam que a
análise da amostra que contava com alguns dos mais populares sites noticiosos e
não-noticiosos acabou reforçando preocupações anteriores de que os padrões
off-line de estruturas de poder e dominância corporativa pudessem ser replicados
on-line. Entretanto, o estudo realizado mostra também que fontes on-line de
notícias independentes e alternativas estão provendo perspectivas diferentes
daquelas representadas na cobertura noticiosa da chamada grande mídia (p.179).
E citam como exemplo o site do openDemocracy
onde ocorre um alto grau de interação entre editores e leitores, enriquecendo o
debate das questões publicadas. As autoras mostram ainda que o uso da internet
para propósitos políticos ainda é pequeno quando comparado às atividades
on-line ligadas a consumo, entretenimento e bate-papo. Mas, ressaltam que a
maneira como as pessoas estão usando essas plataformas é que tem sido única e
potencialmente transformadora, mais do que a plataforma em si (p. 182).
Tópico 3
– Interatividade e Participação: considerando as notícias on-line. Todos
os sites noticiosos da grande mídia que fizeram parte da amostra estudada
oferecem oportunidade para os leitores interagirem com os artigos, de certa
forma, largamente através dos comentários (p. 182). No final do tópico, as
autoras deixam uma reflexão no ar: “Se o conteúdo gerado pelo usuário, a longo
prazo, muda o equilíbrio do poder entre jornalistas e leitores ou entre a
grande mídia e a mídia alternativa é uma questão que ainda não pode ser respondida.
Entretanto, os atuais jornalistas e as práticas da audiência sugerem que deverá
haver, quando muito, uma mudança gradual na dinâmica do poder.” (p. 184)
Tópico 4 – Conclusão: Apesar das perspectivas de diversidade nas notícias e de maior participação da audiência nos processos jornalísticos de produção, a conclusão avassaladora [overwhelming, p. 184] a que chegaram as pesquisadoras Joanna Redden e Tamara Witschge foi que há uma abundância de notícias on-line, mas o conteúdo noticioso da grande mídia é, em grande medida, o mesmo. Além disso, os ângulos das notícias são frequentemente similares. Esses sites pintam, para a maioria das pessoas, um quadro de notícias on-line com apenas uma dimensão e bastante homogêneo. Um resultado surpreendente neste assim chamado espaço da abundância (p. 184). Elas também perceber mudanças pequenas na apresentação das notícias nos sites tradicionais (ênfase no texto e uso limitado da multimídia, com exceção da BBC) e a maioria dos sites noticiosos raramente oferece links externos para outras fontes de informação. Há, contudo, uma grande ênfase nas imagens, dando muito poder ao visual. Uma mudança significativa foi no uso do espaço da web para prover acesso aos arquivos do veículo. Outro detalhe é que quando o conteúdo multimídia é usado, consegue oferecer uma camada adicional de profundidade ao conteúdo textual e esta prática aumenta a acessibilidade da informação. Por fim, elas afirmam que as contribuições dos usuários nos espaços não-noticiosos são – frequentemente – respostas à notícias e envolvem uma reproposição do conteúdo noticioso da grande mídia, reforçando a posição dela como Gatekeeper ao invés de desafiá-la.