sexta-feira, 20 de julho de 2012

Questões enviadas pelos alunos relacionadas aos textos:


NUNN, Heather; BIRESSI, Anita. “A trust betrayed”: Celebrity and the work of emotion. In : Celebrity Studies. v. 1, n. 1, march 2010. pp 49-64.

NP. David Marshall (2010): The promotion and presentation of the self: celebrity
as marker of presentational media, Celebrity Studies, 1:1, 35-48


---

De acordo com  Marshall(2010) parece haver uma função pedagógica da celebridade como ferramenta na construção do discurso do self, ensinando gerações como se engajar e utilizar a cultura de consumo de 'fazer' a si mesmo. Em uma mesma intuição cientifica, Nunn & Biressi(2010), citando Sternberg (1998, p. 426) pontuam que o desvelamento da persona, no trabalho das emoções(Arlie Hochschild, 1979), com as celebridades podem fazer referência a um reino de significado que os consumidores encontram evocativo", autêntico e, acima de tudo, conectivo. Será possível pensar que precisamos de uma plataforma simbólica dos Selfs das personalidades midiáticas para ancorar, objetivar, representar e autorizar a manifestação social das nossas necessidades e características dos nossos Selfs; que estejam não manifestas, barradas, ocultas, impedidas em alguma ordem de expressão e inclusão social?

De acordo com os textos de Marshall(2010) e Nunn & Biressi(2010), fazer uso de uma persona que falha, tem defeitos, com narrativas históricas que denunciam transgressões e são alicerçadas no emblema do Sofrimento é um traço de capital social, cujo valor de mercado, representa prazer e identificação para as audências; e dessa forma consumo. O que nos dá prazer quando se vê o sofrimento do outro; e que nos faz querer mais?Nós estamos consumindo o sofrimento em si mesmo? Ou, como na origem latina da palavra sofrimento, estamos exercitando o pathos, que em sentido distorcido é traduzido como sofrimento(e interpretado como doença), mas que é fruto da currilínea da palavra passio; que tem o sentido em atitude de paixão e estado de sentir: atributo ausente de uma civilização congelada pela prevalência da racionalidade em seu desenvolvimento antropológico?

No artigo, as autoras tratam, entre outros temas, sobre algumas características colocadas em questionamento na construção da persona celebridade: autenticidade, sustentabilidade da persona, convencimento desta persona etc. As autoras mencionam também sobre a terapia da conversa e neste ponto relatam a experiência de uma série americana da década de 1960 (Face to face). O quadro ‘O que vi da vida”, do Fantástico, da Rede Globo, é uma terapia da conversa?


Ainda no quesito terapia da conversa, as autoras afirmam que “o verdadeiro self foi colocado como opaco ao seu dono nesta nova imaginação psicológica, e exigiu um intermediário com as habilidades de alfabetização emocional para escavar para fora, para descobrir aquele eu interior e capturá-lo em "um conjunto de entidades observáveis ​​e manipuláveis​​" (Illouz 2007, p. 33). Esses intermediários ou experts podiam ser encontrados em ambos os espaços privados e mediados: a sessão de aconselhamento de relacionamento, a "agonia" coluna de conselhos e, cada vez mais, o talk show.”. Verdadeiro self? Mas, em se tratando de celebridade, podemos falar em self verdadeiro? A celebridade, por si só, já não seria um self não verdadeiro?

David Marshall situa as celebridades enquanto personagens públicas que possuem uma função "pedagógica", no sentido de serem, elas próprias, retratos da sociedade à qual estão inseridas. Em seu texto, trabalha a relação entre o "representacional" e o "presentacional" como constituintes de uma cultura da celebridade em tempos atuais. Neste sentido, as "celebridades da internet" podem servir como ilustrações do movimento inverso ao que o autor aborda, visto que são pessoas desconhecidas e, por alguma eventualidade, se tornam populares através da rede? Os meios massivos podem ser pensados enquanto "legitimadores" de celebridades, no sentido de fornecer credibilidade e maior notoriedade aos Felipes Netos, PCs Siqueiras ou figuras afins?

Logo no início do texto, o autor toca no binômio celebridade X privacidade. No entanto, acredito que seja necessário fazer uma distinção: nem toda pessoa que seja famosa é uma celebridade (cito como exemplo o ator Tony Ramos). Por isto, vem a minha pergunta: celebridade, cuja persona é construída na exaustão de sua aparição midiática, tem direito a reivindicar privacidade? Não seria um contra-censo? 
Com o estouro da internet e com ela a consolidação das redes sociais digitais, podemos afirmar que a construção das celebridades se banalizou? Lembrando de um período no qual o cantor Roberto Carlos não podia divulgar que era casado, pois devia continuar fazendo parte do imaginário coletivo das ‘mocinhas casadouras’ da sua época (até criou-se uma especulação de um suposto ‘affair’ entre ele e Wanderléia, a eterna Ternurinha), hoje vende-se a imagem do ‘pegador’, da ‘cachorra’ etc.

Uma das características mais celebradas em análises do uso de redes sociais por celebridades costuma ser o fato de que tais redes permitem uma maior interação entre fã-celebridade e uma consequente quebra de distanciamento entre estes atores em comparação com as mídias de comunicação tradicionais. Entretanto, tal potencial de interação, em muitos casos, acaba por se tornar um problema na vida destas celebridades que não sabem utilizar estes canais e não estão preparadas para o tipo de interação proposta pelo público. A partir disto, de que forma podemos entender a frustração de celebridades massivas ao adentrar neste universo?   Podemos considerar que auto –apresentação nestes casos falhou? Nestes ambientes a auto-apresentação torna-se uma tarefa muito mais complexa? (Por exemplo, o caso de Xuxa com seu "jeitinho")

Relacionando os textos de Mashall e Nunn e Biressi às contribuições de Debord e Sibilia, trabalhados anteriormente, emerge a questão: a proliferação das celebridades e o mercado que se alimenta das notícias destas "estrelas" podem ser pensados como sintomas nocivos de uma sociedade do espetáculo, como elementos que criam esta configuração social ou, por outro lado, é necessário adotar uma postura otimista com relação a esta sucessão de efemeridades, considerando-as, inclusive, enquanto "pedagógicas"?

Os perfis fakes de celebridades, que em alguns dos casos agradam mais ao público dos que os próprios perfis "reais",  acabaram gerando um circuito paralelo de reputação e valoração de perfis.  É interessante notar que muitos destes perfis fakes, reforçam a celebridade "real" representada, ao mesmo tempo que fabricam "novas celebridades ": a pessoa real/comum por traz dos twittes. Por exemplo, o perfil fake de Dilma que é mantido por um estudante de 22 anos, que ganhou uma premiação internacional de melhor fake da internet e partir disto passou a dar constantes entrevistas em jornais e programas de televisão.  Como podemos analisar estas reapropriações de selfs alheios e o surgimento destas celebridades online?



Fichamentos - Redes sociais digitais, fama e anonimato


NP. David Marshall (2010): The promotion and presentation of the self: celebrity
as marker of presentational media, Celebrity Studies, 1:1, 35-48


Por Pedro Cordier e Fernanda Braga


Sobre o autor:

P. David Marshall - O professor Marshall é professor e responsável do departamento de Communication Studies na Northeastern University (Boston, Estados Unidos), e autor de Celebrity and Power: Fame in Contemporary Culture (Minnesota, 1997), co-autor de Fame Games: The Production of Celebrity in Australia (Cambridge, 2000/01) e editor de Celebrity Culture Reader (Routledge, 2006). Foi o fundador do jornal electrónico m/c- a journal of media and culture. dmarshallmc@gmail.com

Objetivo do artigo: Marshall entra em detalhes, utilizando tweets de celebridades como exemplo, sobre como a cultura on-line mudou as formas e os graus com que as celebridades estão representadas e representam a si mesmas. "A dimensão intercomunicativa online da rede social identifica a nova necessidade de celebridades ficarem conectadas. De alguma forma, essa relação mudou enquanto audiência e enquanto público. Exige um compromisso que era legado à imprensa da indústria de celebridades, mas que agora implica a colocação da celebridade no fluxo da comunicação interpessoal "(43). Em outras palavras, dependendo da fonte, da página de uma celebridade no Facebook, passando pelo "site oficial", ou artigos sobre a celebridade, poderemos identificar diferentes "histórias" sendo publicadas.

Argumentação central: As celebridades estão aprendendo a apreciar (ou, ao menos, lidar) com a oportunidade que os fóruns online e as redes lhes permitem, que é a possibilidade de representarem a si mesmos para o mundo. Os fãs já não estão “limitados” por apresentações ao vivo, imagens de paparazzi ou revistas de celebridades para aprender sobre os seus cantores, artistas e celebridades favoritos, uma vez que as próprias celebridades (junto com sua equipe) estão usando o Facebook, o Twitter e outros sites para interagir com o mundo. Isso pode levar as celebridades a sentirem uma sensação de liberdade para representar a si, ou ainda, pode acarretar em um outro fardo, que é o de tornar público o que eles prefeririam manter em segredo. O que é, muitas vezes, entendido como meios sociais, através de sites de redes sociais, é também uma forma de apresentação do “self” e produz este novo híbrido entre o pessoal, o interpessoal e a relação mediada.

Introdução: Com a morte da princesa Diana, em 1997, proclamou-se que a perseguição de celebridades deveria parar: “a invasão de privacidade acabara de cruzar além do limite de propriedade e entraram na ilegalidade de assédio” (Roberts 1997).
Do mesmo modo, na pós 9-11, a nova sobriedade foi o desfile de celebridades liderados por George Clooney e Tom Hanks apresentando seu apoio sério para os verdadeiros heróis da América - “os bombeiros e policiais, que deram suas vidas para salvar outras pessoas, enquanto as Torres Gémeas desmoronaram” (Beach 2001).
Nos dois casos, a cultura da celebridade representou um novo excesso indesejado que precisava ser refreado na sociedade civil. Só que, a cultura da celebridade continuou e talvez até mesmo intensificou-se em novas formas e permutações.
A pergunta que eu quero responder: porque é que a cultura da celebridade - e as celebridades - continuam a manter seu fascínio? O que as celebridades continuam a enfrentar que é tão essencial para a cultura contemporânea?
Os dois momentos detalhados acima, não são anômalos. Eles estão sempre presentes e ajudam a manter e a alimentar a produção esmagadora de celebridades.
Durante grande parte do século XX, celebridades serviram como balizas do mundo público e ajudaram a definir o Zeitgeist de qualquer momento em particular - "uma estrutura de sentimento" que contou, em parte, sua mediação através do cinema, rádio, música popular e televisão. Os penteados das mulheres dos anos 1920, 1930 e 1940 foram determinadas pelos ícones da tela da indústria de Hollywood nos Estados Unidos, assim como Clarke Gable e JFK também moldaram a indumentária, pelo menos, nos Estados Unidos.
James Dean, por exemplo, através de seu papel em Rebelde sem Causa (1955), incorporou a angústia da cultura jovem.
O impacto de vídeos de música na década de 1980, por exemplo, foram capazes de capitalizar sobre essas mudanças nas origens e poderes de representação. Por exemplo, Madonna se tornou um especialista em traduzir o estilo subcultural para sua mais ampla mediação através da música popular, performance e vídeos de música para mais de duas décadas.
Celebridades ensinaram a gerações como se engajar e utilizar a cultura de consumo, de 'fazer' a si mesmo. O indivíduo tinha que ser ensinado a consumir e reconhecer o valor de consumo em seu próprio benefício (por exemplo, Leiss et al. de 2005, História de 1999, Toland e Mueller 2003).
O trabalho pedagógico realizado para transformar uma cultura mais tradicional em uma cultura de consumo era muito dependente de celebridades e sua capacidade de encarnar o poder de transformação em larga escala da cultura de consumo. Essa transformação do indivíduo em consumidor não é a mudança para o consumo da produção, mas uma mudança para uma produção maior e mais penetrante do “self”.

As fofocas de celebridades, pode ser encarada como uma continuidade do discurso em torno da apresentação do “self” para consumo público.
O que temos descrito acima é que as celebridades eram capazes de, eficazmente, vender uma grande variedade de produtos.
Esta leitura da celebridade identifica apenas uma história parcial de como as celebridades ensinou o mundo.
Ganhando uma dimensão interpessoal, as celebridades - como uma explicação da personalidade que foi além de seus personagens na tela - se revelaram figuras reconhecíveis e revelaram pelo menos parte de suas experiências particulares para aumentar a ligação afetiva com o público.
Em um nível, a fofoca tem representado “uma forma de coesão social, um meio pelo qual os membros do grupo for promulgada, formas recuperados, e produzido de exclusão” (Gluckman 1963).
Para Backer a fofoca tem duas funções: a fofoca reputação, onde o status de uma pessoa é redesenhado com base na informação divulgada em uma comunidade e fofocas de aprendizagem, estratégia onde se aprende os sinais sociais e comportamento preferido através da informação recolhida sobre os outros (2005, de Backer et al. de 2007, p. 335).
Uma das principais características da fofoca como um discurso é que é uma estrutura de discurso ou conversa que fala sobre os outros especialmente quando eles não estão presentes.
Esta não-presença do objeto da fofoca realmente fez fofocas de celebridades, talvez, uma das formas mais fáceis e acessíveis de fofoca.
O uso de fofocas de celebridades, então, é uma extensão dos usos de fofoca em uma comunidade como uma forma de controle social. Fofocas de celebridades, muitas vezes, permitiu debates nacionais e até internacionais, sobre como lidar com problemas relacionados à família, intimidade.
As fofocas de celebridades em todo o século XX, têm operado em dois níveis:
• Em primeiro lugar, houve a reportagem que apareceu como uma forma de informação para leitores em tablóides, jornais, programas de televisão e revistas - em outras palavras, ela é estruturada e altamente mediada;
• Em segundo lugar, houve a implantação de fofocas de celebridades através de conversa pessoal e avaliação, que constantemente se move. O movimento deste tipo de informações de fofocas de celebridades para o interpessoal é acentuado justamente pela natureza, muitas vezes pessoal da informação apresentada sobre as celebridades.
As fofocas de celebridades pode operar nos mais jovens, como uma forma de aprendizado social - em outras palavras, como uma forma de trabalhar para fora como eles devem vestir agir e se envolver” (De Backer et al. de 2007, pp 345-346).
Depois de tudo, celebridades são uma produção do “self”, especificamente dependente de uma cultura de mídia muito elaborada e poderosa. Elas são componentes elementares da cultura representacional (Marshall 2006, pp 636-637).
No entanto, o que pode ser identificada neste discurso secular são alguns elementos específicos que são extremamente valiosos para o aparecimento da cultura online.
Estes elementos serão destacados e explicados como são elementares para a produção do “self” online.

A mudança tecnológica e cultural: redes sociais para a mídia de apresentação: Algumas das principais mudanças na maneira como nós encontramos, exploraramos e compartilhamos entretenimento e informações produziram este deslocamento de nossa cultura.
Não é que a televisão e filmes não continuam a produzir para a nossa cultura, é mais correto dizer que essa influência é apenas menos profunda e menos inexoravelmente onipresente.
Entre as principais mudanças, está o uso da internet, que é agora um desafio e, em alguns casos, vem superando a televisão em muitos países da Australásia, América do Norte e Europa (Gorman, 2008, Nielsen, 2008; Microsoft, 2009).
Desde o início deste século, uma mudança muito profunda na utilização da internet estava acontecendo. Sites de redes sociais começaram a se desenvolver, tais como os chats, os emails, as mensagens instantâneas e os blogs.
Várias formas de redes sociais foram desenvolvidas pelo mundo, modeladas na construção e ligação em rede de grupos de amigos em padrões de engajamento contínuo e de partilha.
Desde 2004, vários sites de redes sociais se tornaram o canal através do qual as trocas sociais e de amizade floresceram. Alguns projetados para crianças, mas, a maioria projetado para uso adulto jovem.
Friendster e MySpace têm ocupados lugares importantes no desenvolvimento de redes sociais de língua inglesa no mundo. O Facebook tem atraído um número muito grande de usuários. Ele teve suas origens na vida universitária e agora abrange uma ligação abrangente para todos os grupos demográficos (Facebook 2009). Mais recentemente, o Twitter tem sido capaz de capturar uma constituição ligeiramente diferente de conexão por meio de sua mensagens curtas. Sites de redes profissionais como o LinkedIn se desenvolveram simultaneamente a outros sites de compartilhamento e exposições como o YouTube para o vídeo, Flickr para imagens e Digg e Delicious para o bookmarking.
Sites de redes sociais online são muito ligados a um desejo de produzir (Burnett e Marshall 2003, pp 70-78, Marshall 2004, pp 10-11).
E são essas duas dimensões - uma forma de produção cultural e uma forma de engajamento do público e troca - que fazem as redes sociais, simultaneamente, uma forma de mídia e comunicação. O que os torna muito ligado à celebridade é que tanto elas quanto eles estão prestes a troca e disseminação de pensamentos e links para outros meios e fontes online. Ambos são elementos constitutivos e de produção orgânica do “self”. Essa auto-produção é a própria essência da atividade celebridade e agora serve como uma rubrica e modelo para a organização e produção.

Dsempenho do “Self” - Desempenho é um componente crítico na identidade de qualquer figura pública. Para o político, tão forte e popular como as suas políticas podem ser, o desempenho real em um fórum público geralmente é um fator de como as políticas são recebidos por um público. A realização em sua principal forma de arte - como atores, músicos, cantores, atletas - bem como as dimensões de entrevistas, propagandas / endossos comerciais e estreias, são elementos de desempenho que estão mais próximos à sua condição de, ou pelo menos como transportadores de mercadorias culturais.
Restam outras dimensões do desempenho de seus públicos: vidas cotidianas. Celebridades estão sob vigilância constante e regular e, portanto, suas atividades mais mundanas e às vezes mais pessoal são objeto de um olhar fornecido pelo paparazzi e distribuído para revistas, programas de televisão e sites, faz de suas atividades cotidianas, muitas vezes um tipo de desempenho a serem lidos ainda.
Goffman (1959) estudou os gestos e a maneira como um composto individual de uma versão de ele / ela mesma para o mundo. O desempenho do “self” era um ato consciente da encenação individual e necessária do cuidado de manter o caráter e o desempenho.
O que estamos testemunhando agora é a encenação do auto como o caráter e desempenho em configurações online. Os adereços e apetrechos do palco agora pode ser traduzido para vários perfis, imagens e mensagens que fazem parte de um site como o Facebook.
Goffman diz que a origem de definição de "pessoa" é uma máscara (1959, citado em Lamert e Branaman 1997, p. 97), e que é construída através de Facebook, mas igualmente através do Twitter, é uma construção do personagem para uma espécie de ritual de o desempenho do “self”. É altamente consciente de um público em potencial, tanto quanto se preocupa com a produção do “self”.
Para o ator Vin Diesel no Facebook é muito importante que ele revele algo de seu self profissional, em uma espécie de colaboração de seu self privado.
O perfil dele indica 7,018,079 fãns (Diesel 2009) e os seus 28 posts de setembro, indicavam ele queria compartilhar algo a respeito de:
Num almoço, meu pai disse algo como... "A confiança é a coisa mais importante que você pode ensinar a alguém... Se você pode ensinar-lhes a confiança, você não têm a ensinar-lhes qualquer outra coisa " (Diesel 2009)
Intercaladas com estes posts “pessoais”, estão imagens associadas de uma reunião almoço e outras imagens, fotografias e produção de vídeo. Diesel está construindo uma gestão cuidadosa de persona no Facebook, que realmente indica que o estúdio é pelo menos parte da sua construção.
Ao mesmo tempo, ele personaliza suas mensagens, o que indica o uso de seu site Facebook como uma espécie de diário, acessível ao público - uma performance da vida cotidiana do ator.

O alargamento da dimensão do self público - No livro Jogos de Fama, um dos capítulos trata especificamente da celebridade acidental. Em uma empresa privada, um indivíduo foi pego de repente no brilho da mídia esmagadora e, por implicação, gerou interesse público (Turner et al. de 2000, pp 110-114). Ficou evidente que a construção de um “self” público não era o que a maioria das pessoas achavam que valeria a pena produzir. Algo mudou na era da mídia social e cultura de apresentação, e vale a pena explorar o que parece ser uma ampliação da esfera pública. Os meios de comunicação estão cada vez mais atraídos para o dia a dia e talvez a comum como uma forma de discurso extraordinário que é uma ritualização de abertura de mídia. Através de meios de comunicação social, o “self” público é apresentado através de uma nova camada de conversação interpessoal que em seu modo de endereço tem pouca relação com seu passado de mídia representacional.
Uso da celebridade na mídia social se articula nesta mudança. O ator Ashton Kutcher, trabalhou incansavelmente na construção de uma presença online no Twitter e desafiou a CNN a batê-lo em número de seguidores. De fato, Kutcher ultrapassou a marca de 1 milhão de seguidores antes da CNN: o que esta campanha evidenciou, foi a capacidade de um indivíduo para produzir um evento muito grande de mídia e de comunicação (Petersen 2009). Foi também revelado a capacidade de um indivíduo, embora uma já personalidade bem conhecida, para produzir este efeito através de uma combinação de mídia e comunicação interpessoal.
Britney Spears, que não sofre com a falta de cobertura nos meios de representação, construiu um canal no YouTube chamado BritneyTV que abriga todos os seus vídeos (Spears 2009a).
Como muitos outros usuários de mídias sociais, Britney se envolveu em fazer-se uma identidade através do YouTube.
Celebridades estão permitindo-se a expor suas vidas ainda mais, a fim de ganhar uma sequência e uma audiência. Neil Diamond, definitivamente um cantor muito popular, tem investido fortemente em uma identidade no Twitter. Ele cultivou uma relação paternal e apadrinhou outros músicos mais jovens online, além de discutir a sua própria vida e música regularmente. Aqui é um exemplo de suas mensagens ano passado que identificam a sua conexão a uma nova geração de artistas:
@ Joshgroban Hi Josh. Espero que tenham gostado do programa de TV. Continue fazendo esses grandes discos. Todos os melhor, Neil 7: 23 PM 18 ago from web em resposta a joshgroban @ jonasbrothers Parabéns em seu álbum # 1! 11:46 AM 26 de junho de web Preso Chris Cornell no Webster Hall, em NYC em sab Noite. Ame a sua voz ea banda realmente bombou. Eu gostaria que ele tem feito Kentucky Woman.7: 30 AM 10 de abril de Twitterrific. (Diamond 2009)
Em um fluxo paralelo, MCHammer usou as mídias sociais para a reconstrução de público. Ele chegou a 1,5 milhões de seguidores no Twitter para reinserir-se em um público constituído diferentemente. Entrelaçado com suas mensagens religiosas ele passou a responder os tweets de fãs e a dar re-tweets do comentários de outros sobre si mesmo. Abaixo estão alguns exemplos dessas duas construções:
Ele fez de novo! Acordou-nos! Tenha um grande dia! Deus abençoe a 01:35 31 de outubro de teia http://twitpic.com/oqp5r-Quem diria que um dos meus heróis de infância @ Mchammer seria um de melhores caras de sempre e conhecer-nos (via @ benjaminmadden) 10:12 09 de novembro de Tweetie em resposta a benjaminmadden. (Hammer 2009)
Celebridades estão se engajando em usos muitas vezes muito sofisticadas de mídia online e social para produzir uma presença diferente. É um investimento em uma auto público, que reconhece que este engajamento aumentou para milhões de utilizadores. O self público, seja através das atividades de personalidades conhecidas ou por outros usuários de mídias sociais, é um reconhecimento de que esses sites e as trocas que se desenvolvem sobre eles são extensões na produção de si e são essenciais para a manutenção de uma identidade.
O sel público é constantemente trabalhado e atualizado em sua forma online tanto para manter a sua moeda e reconhecer a sua centralidade para a identidade do indivíduo, que é dependente da sua rede de ligações para sustentar a vida da pessoa em linha.

Reconhecimentos de intercomunicação: Uma esfera pública mudou onde o interpessoal é colocado sobre seus fluxos de interpretação e significado desde o início.
Intercomunicação como um conceito nos ajuda a entender esse novo mix de cultura representativa e de apresentação e como elas estão interconectadas em jeitos complexos e intricados. O eu intercomunicativo identifica que pelo menos em culturas online como sites de rede social, nós estamos engajados em uma forma de comunicação em várias camadas, que amassa formas mediadas com conversa, permite que fotos sejam o ponto de partida para reações e discursos, e que produz, parte por causa da conveniência e parte pelo desejo de continuar conectado à alguém ou um grupo de pessoas, formas simples e apáticas de comunicação que convida a uma resposta.
O eu intercomunicativo providencia links para vídeos do youtube, amostras de música popular ou artigos interessantes que são extensões de sua própria identidade e são articuladas através de amigos. O eu intercomunicativo também reconhece a necessidade de ligar suas próprias identidades em algum tipo de padrão, do twitter para o facebook, do youtube e flickr para o myspace, de blogs para o digg. Celebridades rapidamente abraçaram as formas de intercomunicação, e por causa dos recursos que eles dedicam para construir a si mesmos como bens de elevado valor, são capazes de manter esses perfis. Por exemplo, o rapper e personalidade de tv Snopp Dogg garante que seu facebook e twitter são mantidos com materiais para fãs. O twitter se interliga com o facebook e é usado para manter a presença do Snopp Dogg, e ainda se alinha com seu site oficial. Sua presença é bem calculada para promover seus shows e música, e garante que há ao menos uma conexão com seus seguidores, não importa onde eles procurem online. Outros artistas como Lily Allen, fazem questão de que seus tweets sejam retuitados para aparecer em sua página oficial do facebook, e assim, avivar a ligação entre Allen e seus fãs regularmente.
Demi moore e Ashton Kutcher são famosos por usar suas imagens através de twitpics que emergem em suas vidas pessoais a fim de construir e controlar uma completa, assim ultrapassando os meios de comunicação normais. O post de Kutcher na foto de Demi de costas com roupas íntimas é um bom exemplo de celebridades brincando entre os diferentes registros intercomunicativos de um momento que poderia ser privado.
A auto-intercomunicação é um dos elementos chave da cultura de celebridades são suas diferentes formas de direção. Elas se apresentam em suas formas culturais como performáticos, mas também são apresentados em estruturas de entrevistas e em fofoca de celebridades. Todas essas formas são percursoras da interação da mídia e comunicação, que é parte da construção da 'auto online'. A estrutura em camadas de produzir uma celebridade para uma forma de demonstração pública e consumo se torna um percursor da produção da 'auto online'. O termo 'intercomunicação' pode ser definido como a estratificação de formas em uma estrutura inter-relacionada que se move entre tipos de comunicação interpessoal que são integradas com apresentações altamente mediadas.


O ser parasocial: A dimensão intercomunicativa de um rede social online identifica a necessidade para que celebridades estejam a par dessa troca de relacionamento para uma audiência e um público. Requer um engajamento que antigamente era feito em parte pelos auxiliares de imprensa da indústria de celebridades, mas agora delega para a celebridade o fluxo de comunicação interpessoal. No entanto, celebridades estão a frente, juntamente com seus fãs, em termos de uma “etiqueta de envolvimento”. O ser parasocial, é uma compreensão pragmática de que é impossível se comunicar individualmente com milhares e milhões; e mesmo nessa cultura online trocada, algum esforço tem que ser feito. Além disso, celebridades não são amigos verdadeiros das pessoas as seguem, mas superficialmente, pelo menos, eles são. Todos os usuários de redes sociais devem determinar as configurações de privacidades, dando abertura para seguir outros, assim como serem seguidos, é uma espécie de código moral para se apresentar e permitir que outros se apresentem.
O nível de engajamento com amigos como fãs é frequentemente relacionado ao poder de influencia da celebridade na cultura em questão. Além disso, Oprah Winfrey, que é uma das apresentadoras de maior sucesso, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, estava muito preocupada em expandir seu alcance no universo do twitter, e disputou alcançar seguidores na primeira metade de 2009. Dando pouca atenção aos vários que a segue e seguindo poucos. De maneira similar, Ashton Kutcher e Demi Morre, a realeza de celebridades do twitter, só seguem 261 e 113, respectivamente. Eles fazem, no entanto, um esforço para responder as mensagens dos fãs. Também promovem outros e mantem a troca de informação, que faz o twitter tão atrativo. Por exemplo, Aston Kutcher twittou uma mensagem que assimila inúmeros usuários do twitter.

Outros, tal como Kathy Griffin, construiu no twitter uma pessoa cômica com uma linguagem própria, mas nunca responde ou re-tweeta: de uma certa forma, ela esta criando um modelo próprio de comunicação por mensagens de conversação. Ela tem 209,671 seguidores e não segue nenhum. Suas postagens de são de maneira divertida como informativa. Nessa ligação entre o ser parasocial conectando-se com a audiência dos usuários e a celebridade, não possui limites. Para algumas estrelas, é que obvio que um anuncio publicitário vários downloads. Por conta disso, começa-se a surgir uma relação entre o uso da primeira pessoa e terceira pessoa nos posts. Dessa forma, Mariah Carey, escreve suas mensagens pessoais na primeira pessoa, e quando não são, utiliza-se a terceira pessoa.
Rob Thomas, do Matchbox 20, divide sua “identidade” entre post de publicistas no Facebook e mensagens pessoais no twitter. Já a cantora Britney Spears se assemelha muito com o twitter de Mariah Carey, no emprego da primeira e terceira pessoa. Onde os problemas surgem é quando as pessoas fingem que estão escrevendo suas mensagens como uma pessoa online tornando-se rotineira em estruturas de publicidade. Acredita-se que uma das dimensões das personalidades online está mais perto de serem reais do que outras representações. Portanto, um grande sentimento de traição ocorreu quando isso foi revelado que alguém estava representando Dalai Lama (Campbell 2009), ou de fato não era Hugh Jackman que estava operando e postando em sua conta no Twitter (Petersen 2009).Os fãs continuam tentando descobri os verdadeiros perfils das celebridades, e para o mundo online, constrói as vias para sociais, por outro intensifica essa ligação. A leitura de “amigo verdadeiro” serve para a celebridade como um função de audiência, para construir a si mesmo e continuar aumentando sua audiência.

O self privado para a apresentação pública: Há novas categorias necessárias para descrever as diferentes formas em que o eu é apresentado online e, implicitamente, a um público mais amplo. As redes sociais podem revelar o eu privado, mas na sua concepção tem o potencial de revelação completa para um mundo mais vasto público. O que está surgindo são três maneiras de olhando na linha de produção da versão pública da auto privada.
Por um lado, há o “self” público. Esta é a versão oficial de que no jargão da celebridade seria o modelo industrial do indivíduo. Seria identificar datas de lançamento de gravações e filmes, estréias e aparições, videoclips de desempenho, o caminho para conseguir ingressos para apresentações e eventos específicos e perfis biográficos de natureza mais bajulação.
Para as celebridades com esse perfil, suas redes são gerenciadas por seus assistentes de publicidade, que trabalham para manter a persona pública como uma mercadoria valorizada cultural.
O segundo nível de apresentação é o self” público-privado. É nesta versão do eu que a celebridade se envolve, ou pelo menos parece envolver, no mundo do social, networking. É um reconhecimento da nova noção de um público que implica algum tipo de maior exposição da vida do indivíduo. Twitter se tornou o veículo de escolha na manutenção de um self” público-privado para muitas celebridades. O Twitter é muito mais ligado à entrega móvel e, portanto, dá a sensação de imediatismo. O valor do self” público-privado ainda está sendo determinado, como os indivíduos constroem suas versões do que partes de suas vidas são dispostos a transmitir a um público on-line.
O terceiro nível é o “self” de transgressão íntimo. Em resposta a uma pergunta depois de seu discurso de alto impacto de volta às aulas em setembro de 2009, o presidente Barack Obama advertiu contra colocar algo no Facebook que você pode se arrepender mais tarde, porque "Faça o que fizer, ele irá ser puxado para cima mais tarde em sua vida "(citado Pace 2009). O transgressor versão online íntimo do ego é o único motivado pela emoção temporária, mas é também o tipo de informação / imagem que passa de forma viral pela internet por causa de sua qualidade de ser visceral para mais perto do núcleo de o ser. Elizabeth Taylor expôs no Twitter seu aflito “self” em resposta à morte de Michael Jackson (Taylor 2009). O que pode ter aparecido apropriada para amigos mais próximos é, neste caso, partilhada com centenas de milhares que passá-lo de forma viral para milhões de pessoas. O movimento da “self” de transgressão íntimo viaja rápido pela rede. Transgressão permanece como um farol na forma online ou offline para os fãs e do público para enxergar a verdadeira natureza das celebridades. É, assim, uma via acelerada para notoriedade e atenção para todos os usuários e muito visível para celebridades cujas transgressões comportamentais são expressas, registradas e movem-se, rapidamente, para o poderoso rolo compressor em linha viral.

Conclusão: o valor crescente para produzir o “self”, doze anos após a publicação da celebridade e do poder (Marshall, 1997), continua a ser uma pergunta intrigante que faz prosperar a cultura da celebridade, proliferam e continuam a ter um tipo de influência poderosa. Este artigo tentou lutar e, finalmente, responder a essa pergunta desconcertante.
Por um lado, que estão no meio de uma mudança dramática na organização e legitimação de nossa cultura em todas as suas manifestações. Nosso sistema de celebridade foi profundamente enraizada e apegada ao que eu tenho chamado de regime de representação onde a cultura ea política dependia de um sistema de mídia de filtragem para organizar e hierarquizar o que é valioso, significativo e importante. Ele produziu um sistema de "representantes", alguns dos quais são celebridades que encarnam o nosso discurso público.
On-line da cultura levou a uma parcial - e de nenhuma maneira completa - a dispersão do sistema representativo e que estamos vivendo em culturas que são parcialmente organizados através das estruturas de representação que permanecem dominantes, mas também parcialmente organizada através do que eu estou chamando de uma cultura de apresentação e regime. Claro que, todas estas reivindicações grandes são constituídas de maneira diferente em várias partes do mundo, mas há algumas semelhanças na Europa, América do Norte e partes da Ásia nesse desenvolvimento. Cultura da celebridade é intrigante equilibrada entre essas duas culturas - de representação e de apresentação - por causa de sua poder de expressar o desejo ea vontade cultural de maneira significativa.
O que este artigo identifica é que a cultura da celebridade foi um discurso muito elaborado no indivíduo e em todo o século XX, cumpriu um certo pedagógica função. A sua capacidade para formar os homens de cultura de consumo capta apenas parcialmente a poder educativo da cultura da celebridade. Mais profundamente, a cultura da celebridade articula uma maneira de pensar sobre individualidade e produzindo o eu individual através do mundo público.
A trajetória histórica mais do discurso celebridade mapeia este foco crescente na a produção do auto que tenha sido parcialmente concebidos para identificar o poder de indivíduos no processo de produção de cultura, assim como a importância ideológica para identificar poder individual em uma era de capitalismo democrático.
A nova dimensão do discurso sobre a individualidade fornecido pela celebridade é sua articulação com as demandas e exigências da cultura on-line, que funciona como o fonte de expansão da cultura de apresentação. Discurso celebridade passado, com o seu textual e dimensões mais significativamente extra-textual, que revelou uma inter-relação entre a auto pública e privada do auto, serviu como molde para a produção do on-line auto. Além disso, por causa desta experiência na produção de auto pública, observando-se a maneira celebridades estão construindo suas isolados identidades on-line sobre as várias facetas da nova auto público, que agora é uma forma de produção exercida por vastos os usuários dos diversos e interligado on-line de redes sociais.




---



NUNN, Heather; BIRESSI, Anita. “A trust betrayed”: Celebrity and the work of emotion. In : Celebrity Studies. v. 1, n. 1, march 2010. pp 49-64.

Por Fernanda Braga e Pedro Cordier


Sobre as autoras:

Heather Nunn – Professora de estudos midiáticos e culturais e co-diretora do Centro de Cinema e Culturas Audiovisuais da Roehampton University, em Londres. Seus interesses de pesquisa incluem cultura da celebridade, redes sociais e identidade, políticas de gênero e estudos feministas de mídia, documentário, programação factual e reality TV. Estuda a expansão desse tipo específico de programas (reality shows) num contexto de crise econômica mundial. É autora, entre outros trabalhos, dos livros Reality TV: realism and revelation (Wallflower Press, 2005), The tabloid culture reader (Open University Press, 2008) e Class in contemporary British culture (Palgrave Macmillan, 2011), em parceria com Anita Biressi.

Anita Biressi – Revisora em mídias culturais e co-diretora do Centro de Pesquisa em Gênero, Sexo e Sexualidade na Roehampton University, em Londres. Seus interesses de pesquisa incluem o jornalismo popular, cultura tabloide, discursos do crime e da criminalidade e da lei e da ordem na mídia, espetáculo da mídia, discursos populares de mobilidade social, reality TV e documentário. Atualmente realiza pesquisas sobre política de classe, meritocracia e cultura popular. É autora, entre outros trabalhos, dos livros Reality TV: realism and revelation (Wallflower Press, 2005), The tabloid culture reader (Open University Press, 2008) e Class in contemporary British culture (Palgrave Macmillan, 2011), em parceria com Heather Nunn.

Objetivo do artigo: O artigo baseia-se em teorias psicossociais do trabalho emocional e no conceito sociológico de "trabalho emocional", a fim de interrogar os desempenhos afetivos comunicativos de celebridades, a implantação de uma pronta linguagem da emoção e dos mais amplos discursos terapêuticos a partir do qual esta linguagem está derivada. Ele tem como foco o trabalho emocional realizado por celebridades a fim de limitar ou reparar reputações abaladas pelo escândalo e para superar uma percebida traição de confiança pública.
Argumentação central: Partindo da premissa que uma "ideologia da intimidade" formou as condições em que a celebridade agora trabalha como um sujeito emocional na arena pública, e que as relações sociais são consideradas 'autênticas' ou 'reais', principalmente através do seu compromisso com as 'preocupações interiores psicológicas de cada pessoa', o artigo explora as demandas afetivas feitas sobre o sujeito celebridade na cultura da mídia contemporânea. E conclui que o contrato celebridade-público cruza com um amplo imperativo cultural para realizar emoção na mídia, evidente na expectativa de que as figuras públicas devem transmitir sentimento autêntico e transmiti-lo de forma convincente, a fim de gerenciar uma relação de confiança com seus públicos e, assim, sustentar uma carreira de sucesso na esfera pública.

Introduction: celebrity work – Partindo da ideia de que os indivíduos são cada vez mais chamados a implantar a linguagem da emoção em suas vidas, as autoras afirmam ser oportuno examinar as expectativas colocadas sobre celebridades como "trabalhadores emocionais". Elas recorrerem a P. David Marshall (1997) para argumentar que a celebridade é uma figura de importância estratégica em uma conta do domínio afetivo da vida moderna, porque o sistema de celebridade é instrumental na organização da "economia afetiva" em que cultura e política cada vez mais operam. Assim, as tensões e dilemas do trabalho emocional das celebridados colocam em primeiro plano o terreno afetivo que todos os indivíduos são forçados a negociar na esfera pública, a fim de serem considerados como socialmente bem sucedidos.
Nunn e Biressi apoiam-se em teorias sociológicas da emoção e do poder de mercado do trabalho emocional, conforme desenvolvido pela sociológa Arlie Hochschild (1983/2003), para interrogar o "trabalho emocional" de figuras públicas e suas implicações para nossa compreensão da mudança de terreno da vida pública contemporânea. Hochschild cunhou o termo trabalho das emoções para referir-se ao processo no qual as pessoas tomam como referência um padrão de sentimento ideal construído na interação social, e procuram administrar e até mesmo "sentir" esse sentimento de acordo com as regras do ambiente e muitas vezes a serviço do comércio.
Enquanto Hochschild aborda culturas de trabalho diárias, as autoras sugerem que os espaços de mídia, como a entrevista para televisão, reality shows e jornalismo confessional (lugares que permitem a apresentação pública e a reformulação do self íntimo), também são lugares onde específicas "regras de sentimento" operam. Estes espaços quase terapêuticos frequentemente levam a performances de celebridades, que identificam a complicação ou "disfunção" imanente na história de vida da celebridade, por vezes estruturalmente ligada a eventos do passado ou articulada através do sofrimento presente ou trauma, como no caso relatado da desonrada estrela britânica de reality show Jade Goody.
Goody estrelou o Big Brother 3 em 2002, o Celebrity Big Brother (CBB) em 2007 e, quando participava da versão indiana Bigg Boss em 2008, recebeu o diagnóstico de câncer. Segundo as autoras, o anúncio da doença de Goody e a gestão de sua carreira de mídia nesse rastro ajudaram a rever as condições sob as quais ela havia sido trabalhada anteriormente. Suas últimas aparições destacaram o enorme "polimento" para manter uma persona celebridade nas circunstâncias mais adversas e o que parecia ser um compromisso firme para sustentar a íntima relação reconstruída entre ela e o público através do trabalho da emoção. Goody, conclui as autoras, desafia o estereótipo do desempenho mal dirigido e indisciplinado tão frequentemente ligado a estrela de reality TV e complica as investigações em curso de teóricos dos Estudos de Celebridades.
‘Poor me, poor, me’: celebrity reputation rehab – Neste ponto, as autoras afirmam que nem todas as performances de trabalho da emoção são tão dramáticas ou tão intensamente apoiadas como a de Goody. Para elas, momentos elevados de emoção também surgem do grupo e das dinâmicas interpessoais de união e conflito desempenhados em reality shows, tais como I’m A Celebrity... Get Me Out of Here! ou CBB, que reúnem diversos indivíduos dentro de um formato de experimento competitivo / social. Neles, a inclusão de celebridades promove uma expectativa de fogos de artifício emocionais e as diferenças geradas podem desencadear uma desfeita brutal de histórias de carreira. As autoras citam como exemplo a discussão entre o ex-apresentador Michael Barrymore e o político George Galloway no CBB 2006.
Elas consideram que o trabalho emocional desempenhado pelos dois participantes do reality show não é menos poderoso do que o mais óbvio ambiente terapêutico do estúdio escuro do entrevistador ou do documentário observacional. Em termos de narrativas de celebridades, todos esses vários formatos demonstram que não é simplesmente a realização elevada (a fama, fortuna, o poder de ter "feito alguma coisa") que impulsiona a história das celebridades, e sim, é o sofrimento, a disfunção ou a falha pessoal, uma vez escondidos, mas agora revelados ao público. Isso acontece, segundo as autoras, porque o conceito de celebridade sempre contém em si o potencial para se tornar desfeito; para desvendar espetacularmente no meio do seu próprio sucesso.
Para Nunn e Biressi, esta escavação do self conturbado é em parte o resultado inevitável da análise interrogativa em profundidade da mídia de celebridades que, embora não sendo nova, está cada vez mais integrada à economia do jornalismo tradicional e programação factual. Também pode ser uma tentativa do sujeito celebridade limitar o dano público. Aqui as autoras destacam que, embora a celebridade escandalizada possa voltar ao favor público, permanece aberta à observação constante de sinais de recuos, reincidência, subterfúgios ou enganos. Sendo assim, o status de celebridade é um projeto sem fim para alcançar, manter e gerenciar. E concluem que não obstante a revelação pessoal da persona celebridade pode ser "barato" de reproduzir, em um nível mais pessoal ou psíquico deve ser muito caro.
É objetivo do artigo destacar os processos que vão se desenrolando através do desempenho da intimidade em resposta à ruptura da persona celebridade. Aqui as autoras retomam a ideia de que a narrativa terapêutica é frequentemente o meio para mudar a história de transgressão da celebridade além do choque inicial, indignação e desprezo para um novo campo de auto-inspeção e reparação pública. Elas sugerem que o discurso terapêutico – e a pronta linguagem da emoção e do self danificado – está ligado a dilemas mais amplos da identidade contemporânea. A expressão imediata da emoção (devidamente moderada e dirigida) tornou-se um critério para medir o desempenho do sujeito na vida tanto pública como privada. Essa seria a conduta pela qual muitos são chamados a gerenciar suas vidas, a fim de demonstrar autenticidade, integridade e compromisso pessoal com o papel público.
Valendo-se da discussão de Richard Sennett (1974) sobre o fim da cultura pública, as autoras acreditam que uma "ideologia da intimidade" formou as condições em que a celebridade, junto com outras figuras públicas e pessoas comuns, agora trabalham como sujeitos emocionais na arena pública. Uma vez que a partir dessa ideologia as relações sociais são consideradas como 'autênticas' ou 'reais' principalmente em virtude de seu compromisso com as "preocupações internas psicológicas de cada pessoa", elas questionam o preço pago pelas expectativas muitas vezes não ditas colocadas sobre nossas relações íntimas. A traição dessas expectativas levaria a um "sentimento de confiança traída" e essa decepção precisa ser gerenciada por todas as partes para o relacionamento continuar.
Therapy talk: from Face to Face to Shrink Rap - A fim de estreitar o foco e considerar as circunstâncias particulares em que a articulação da emoção da celebridade tem lugar, nessa seção as autoras abordam os formatos de mídia específicos que lembram ou reivindicam uma semelhança com o encontro terapêutico. Elas começam por identificar algumas afinidades entre estes e as entrevistas jornalísticas um-para-um. Esses formatos de "terapia da conversa" apresentam uma discussão íntima entre entrevistador e convidado no espaço confinado de um estúdio de televisão ou rádio, onde a ênfase é sobre um encontro pessoal em profundidade que vai além das convenções habituais do chat-show. A sensação de um espaço fechado, a mise-en-scenes, o trabalho de iluminação, som e câmera favorecem uma performance de reflexão, introspecção e revelação por parte do entrevistado.
Segundo Nunn e Biressi, estas características podem ser encontradas na pioneira série britânica Face to Face da BBC (1959-1962), uma série de entrevistas um-para-um que inovou na exploração de uma figura pública como um sujeito psicológico. Elas salientam que o programa surgiu quando de "um novo modelo cultural de intimidade", usando o conceito de Eva Illouz (2007), que exigia que para descobrir um 'self verdadeiro' era preciso superar uma gama de emoções e essa decoberta, por sua vez, exigia um intermediário com as habilidades de alfabetização emocional. Esses intermediários ou experts podiam ser encontrados nas sessões de aconselhamento de relacionamento, nas colunas de conselhos e, cada vez mais, nos talk shows, como o Face to Face.
Nesse programa, conforme descrevem as autoras, o rosto do entrevistador, o jornalista John Freeman, raramente era visto na tela, o foco era no convidado, dando uma maior intensidade emocional para a cena e alinhando o espectador com a posição autoritária do terapeuta / entrevistador. Elas destacam os epsódios com o comediante Tony Hancock e com o astro de televisão Gilbert Harding. Como herança genética do FTF, elas citam o programa equivalente In the Psychiatrist’s Chair (ITPC), lançado em 1982 na rádio BBC, com o psiquiatra Anthony Clare. Tanto o FTF e o ITPC, embora em épocas e plataformas de mídia diferentes, foram formatos que caracterizaram uma abertura da radiodifusão para um novo compromisso de estilo com a figura pública como um sujeito de um encontro quase-terapêutico.
Nesse encalço, as autoras citam também o programa Shrink Rap (anunciado parte como chat-show, parte como entrevista psicodinâmica), que apresentava uma pessoa bem conhecida em conversa com a treinada psicóloga e psicoterapeuta americana Pamela Stephenson. Stephenson defendia que a 'fama' é um 'trauma' que divide o 'self real' da persona profissional e seu objetivo era revelar esse outro self escondido, como no seu 'encontro' com o ator cômico Chris Langham. Assim, Shrink Rap procurava se diferenciar de muitas outras apresentações públicas de celebridades que variavelmente destacam sua função como ídolos, divas e estrelas ou pessoas que "nós pensamos que conhecemos".
Para as autoras, o que a apresentadora não levou em conta é que a revelação de histórias danificadas pode ser uma espécie de self-produção, que está inseparável de roteiros culturais contemporâneas do trabalho emocional e do trabalho de performace, tanto na mídia quanto na esfera social. "Narrando e sendo transformado pela própria narração, são os próprios produtos que estão sendo produzidos, processados e distribuídos, na medida em que as figuras de celebridades ainda extremamente danificadas são substancialmente recuperáveis através de meios de cultura confessionais". Nesses termos, elas concluem a partir de Illouz (2007): "a biografia terapêutica é quase uma commodity ideal".
Coda: the politics of apology – Na seção final, Nunn e Biressi retomam os casos das celebridades decaídas como Goody, Barrymore, Jackson, Tyson e Langham. Elas afirmam que todos eles compartilharam um ciclo de celebração, transgressão, suspeita, desdém e punição, que exigiu uma expiação pública, no entanto por uma série de razões só Goody poderia fazer reparação integral. Então, elas defendem que o trabalho da emoção de celebridade necessita ser contextualizado, a fim de melhor compreender a contribuição específica da celebridade e a percebida ‘traição de confiança’ cometida por ela. Elas trazem o conceito de "intimidade pública" de Lauren Berlant (2008) para falar do que torna este contrato ou relação celebridade-público possível, e afirmam que o contato emocional impacta mais visivelmente sobre o sujeito celebridade contemporâneo.
Desdobrando, as autoras apontam a forma como o trabalho emocional da celebridade e sua centralidade na cultura da mídia se cruzam com um maior imperativo cultural para o trabalho da emoção como o alicerce de uma vida produtiva e bem sucedida na esfera pública política. Sennett (1974) localiza essa virada para o self-privado como a medida da integridade pública no período moderno, quando a sociedade começou cada vez mais a ser medida em termos psicológicos. Também o advento da moderna psicologia e da psicanálise como uma doutrina produziu fórmulas para o cálculo da expressão pública do sofrimento, pesar, desculpas e reparação. Assim, a revelação da intimidade tem, paradoxalmente, tornado-se um conjunto repressivo e controlador de critérios.
As autoras apresentam ainda o argumento paralelo de Ernest Sternberg (1998) sobre a  "nova economia da auto-expressão" como parte integrante das relações capitalistas contemporâneas. Ele sugere que os trabalhadores, gerentes e executivos da nova economia têm de se adaptar às noções de apresentação de produtos e que estas estão ligadas à ideia de transparência emocional. Para aumentar seu valor-self calculado através da auto-apresentação, o trabalhador de hoje deve então imitar as técnicas originalmente destinadas para a confecção de celebridades e apreender um insight cultural em símbolos, ideias, personificações e temas que movimenta as audiências.
Para concluir, elas apresentam o evento de mídia que envolveu não celebridades, mas os executivos financeiros capitalistas: a crise bancária e financeira que levou à recessão mundial do final dos anos 2000. Colocados em meio a uma crise de carreira e sérios danos à sua reputação, os banqueiros pediram desculpas pelo sofrimento causado usando frases semelhantes e aparecendo para declarar o pedido de desculpas quase decorado. O que é notável, segundo as autoras, é a frustração gerada pela falta aparente de contrição demonstrável dos homens. A expectativa do público de uma expressão de genuína tristeza nunca foi cumprida e é provável que não seja.
Conforme as autoras, este evento destaca a extensão das expectativas da confissão mediada e do trabalho da emoção em outras arenas da vida pública e a incapacidade de figuras públicas / políticas para atender a essas expectativas ou fazer estas conexões de forma eficaz. A "era das desculpas" tem visto uma proliferação de demandas por desculpas públicas de políticos e trabalhadores financeiros. Para Nunn e Biressi, serão as figuras públicas que melhor compreenderem as dimensões emocionais da esfera pública e suas regras de comunicação que serão mais eficaz em se conectar com seus públicos.

Questões enviadas pelos alunos relacionadas ao livro:


COUTO, Edvaldo Souza; ROCHA, Telma Brito. Identidades contemporâneas a experimentação de “eus” no Orkut. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010

---


De acordo com seu livro, Couto(2010) traz uma discurssão sobre o internetês” que parece se afinar com o trecho de Santaella(2008)que entende as mídias digitais como sendo “um sistema simbólico multimodal que designa a diversidade de formas de circulação dos enunciados ao empregar a linguagem verbal, visual e sonora e compor um novo código marcado pela hibridização e pela multissemiose”, para descrever o fenômeno das narrativas digitais. Couto(2010) diz que essas narrativas apontam traços de oralidade; parecendo indicar uma necessidade de restaurar uma conversação face-face. Podemos pensar que o uso de modificações gráficas (onomatopéias, reprodução da fala,repetição de letra…)podem ser um recurso de compensação; via hibridização e multisemiosse na comunicação verbal; diante da ausência de signos, significados e significantes oriundos da conversação presencial física; com seu repertório de estímulos, dentre eles os da comunicação não verbal(como os gestos, emoções, tonalidades vocálicas, toques, sensações…compartilhados)?

De acordo com Couto(2010) o internetês é um dialeto social, e o conceitua citando Dubois(1978) que é um sistema de signos usado por um grupo social e em referência a esse grupo. Ele segue dizendo que o internetês é um dialeto de escrita que reproduz elementos da fala, e que adquire contornos específicos de região para região do Brasil. De acordo com essa perspectiva é possível então pensar em uma linguagem da internet, e com expressividade de fenômeno global? Ou teriamos diversos dialetos sociais no mundo ciberizado?

Segundo Edvaldo Souza Couto e Telma Brito Rocha, "As dinâmicas que misturam e pulverizam as identidades contemporâneas estão também fortemente presentes nas redes sociais, típicas da cibercultura...". Isso pode indicar que não podemos afirmar "ser alguém de determinada forma", sob o risco de estarmos divulgando uma versão já obsoleta de nós mesmos, uma vez que estamos em constante transformação, adicionando pecinhas e mais pecinhas de um quebra-cabeça sem fim?

De acordo com Tadeu R. Bisognin e Maria José B. Finatto, "(...) o internetês que exploramos mostrou-se, em primeiro lugar, com um grande conjunto de alterações de grafia: exibe grande número de abreviaturas, siglas, neologismos, palavras cifradas, estrangeirismos, desenhos, ícones, símbolos, até mesmo segmentos que correspondem a um amontoado de letras." Essa nova "linguagem" prejudica o aprendizado da língua portuguesa (no caso de brazucas, como nós...) ou pode ser encarada como o aprendizado de uma nova língua, guardada suas devidas proporções, como um inglês ou alemão?

Desde que foi criado em 2004 e adaptado ao português em 2005, o Orkut se tornou a primeira rede social mais popular no Brasil. E ainda que esteja perdendo a vez para o Facebook, seus números de acesso ainda são expressivos. Na tentativa de entender o fascínio por esta rede social entre jovens brasileiros, Medeiros conclui que "não poderia haver Orkut em outra sociedade, nem adoslescentes fascinados pelo Orkut em outro tempo". Assim posto, as relações sociais e as práticas discursivas efetivadas por meio do Orkut amplificam narrativas sobre si e sobre os outros já dadas em nossa sociedade ou as recriam de tal modo que podemos falar em novas narrativas? Os atributos de personalidade valorizados e expressos por meio das definições do perfil e da associação a amigos e/ou comunidades estão dados de igual maneira no Orkut ou fora dele?

Problematizando os perfis fakes no Orkut, Couto e Rocha defendem que a grande maioria dos usuários experimenta outras identidades nesta rede social para demonstrar sentimentos, percepções, desejos, gostos que poderiam ser ridicularizados e promotores de constragimentos na vida off-line, mas que são celebrados e festejados na dinâmica efêmera e plural da internet. Admitindo que o dualismo on-line e off-line não mais se sustenta e tendo em conta que perfis ainda são excluídos por violar as políticas e diretrizes de utilização desta rede social, qual o efeito do politicamente "correto" ou "incorreto" nos usos que se faz do Orkut e em suas dinâmicas de construção, desconstruçao e reconstrução dos modos de ser na contemporaneidade?

Bisognin e Finatto (2010) destacm o uso do "internetês" como característica concernente a redes sociais online como Orkut. Na medida em que caminhamos no sentido de redes sociais mais impessoais e menos restritas ao círculo de relações do próprio usuário, como o Facebook, tenderemos a dar mais espaço para uma linguagem amis próxima da norma culta?

Sampaio e Bonilla (2010) afirmam que "as novas formas de ser e estar passam pela articulação em rede, pela colaboração e processos horizontais que oportunizam o fluxo contínio de comunicação, aprendizagem, produção de conhecimento e cultura". Em que medida esta imersão profunda no ambiente online se tornará regra na sociabilidade e aprendizagem das pessoas? Mais imersão necessariamente significará sempre um uso 'melhor' do ambiente online?

No artigo de Rosângela de Araujo Medeiros, o fascínio é abordado enquanto categoria que - ao ”provocar um sentimento de contentamento e insuficiência” no usuário - estimula este, a dispor de suas energias para acessar o computador. A partir desta categoria, como pensar as construções identitárias na redes sociais? Em que medida o fascínio do usuário, com as redes sociais de internet, com ele mesmo e com os outros, influência as construções identitárias nestes ambientes? Esta noção de fascínio – contentamento, insuficiência - não acaba por comparar um usuário de RSIs a um viciado?

Ainda hoje, pelo menos no Brasil, a maior parte das medidas governamentais e políticas públicas da educação parecem acreditar que as tecnologias de comunicação devem se adaptar ao tradicional método de ensino ao invés de expandi-lo e reconfigurá-lo. Como incentivar a mudança desta mentalidade na educação brasileira e incentivar que os gestores e professores invistam em iniciativas de colaboração, criatividade e expressão trazidas pela internet?  Como desenvolver as estratégias pedagógicas para lidar com este novo tipo de estudante, que querendo ou não já esta inserido em uma sociedade digital? Projetos como o "Tabuleiro Digital" apesar de interessantes não são muito restritos e poucos efetivos?

Fichamento - Redes sociais digitais e novas formas de narrativas

COUTO, Edvaldo Souza; ROCHA, Telma Brito. Identidades contemporâneas a experimentação de “eus” no Orkut. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010

---

FICHAMENTO – Identidades contemporâneas: a experimentação de “eus” no Orkut.


Por Felippe Thomaz e Lorena Silva


Sobre os autores:
Edvaldo Souza Couto é PhD em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Sua pesquisa se volta às questões de corpo e tecnologia, sexualidade e tecnologia, estética, filosofia da técnica, educação e tecnologia, entre outras subáreas. Em seu currículo, diversos livros foram organizados por ele, entre os quais encontra-se “A vida no Orkut”. Atualmente é professor da Faculdade de Educação da UFBA.
Telma Brito Rocha é pedagoga, mestre e doutora pela Faculdade de Comunicação – UFBA. Atualmente é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Sua pesquisa compreende o uso da internet segura, educação on-line e inclusão de alunos com deficiência em instituições de ensino por meio de tecnologias assistivas.
Objetivos do capítulo: O estudo observa as diversificadas experimentações de “eus” provenientes da manipulação de diversos recursos oferecidos pelo Orkut. Os autores atentam, especificamente, para a possibilidade de criação de perfis fakes e quais são as variáveis utilizadas para que esta personalidade seja construída e sustentada.
Argumentação Central: Discute o processo de formação identitária na Internet, sobretudo nas redes sociais digitais, à luz de autores como Baumann, Hall e Turkle. Utilizando o site de relacionamento Orkut como objeto, os autores procuram compreender como se configuram as identidades on-line dos usuários destes sites, problematizando, inclusive, se tal distinção entre persona on-line e off-line é válida. A partir do resgate de contribuições teóricas anteriores no contexto da “modernidade” (a partir da revolução industrial), a identidade contemporânea é observada como líquida e fugaz, possuindo, atualmente, inúmeras ferramentas através das quais se apresenta aos demais usuários destas redes – incluindo a possibilidade de criação de “falsas identidades” ou perfis fakes. Neste sentido, discorrem sobre os efeitos que tais (re)configurações causam sobre a subjetividade humana.
Tópico 1 - Introdução: O estudo inicia sua argumentação apresentando conceitos relacionados às noções de identidade nas épocas pré-moderna e moderna. No primeiro caso, a partir de Giddens, os autores afirmam que tal noção era parcamente concebida. Ou melhor, a individualidade era suprimida por um todo social e, desta maneira, a noção de indivíduo – dotado de um caráter único – era pormenorizada. Com o sistema capitalista e a organização social em grandes centros urbanos, o indivíduo uno, centrado, ganha atenção. A contribuição de Descarte ilustra este processo: “penso, logo existo” define um sujeito dotado de uma “essência pessoal” e partícipe de uma universalidade humana. Os ideais iluministas sustentam tal concepção, situando o indivíduo enquanto ser centrado, unificado, completo de capacidades de razão, de consciência e de ação.
Já no século XX, as contribuições feitas por Freud, na psicanálise, propuseram outras perspectivas para pensar a constituição de um indivíduo. A partir de seu estudo sobre o inconsciente e a estrutura da psique humana, a ideia de um sujeito unificado foi abalada. Esta formulação abarca a ideia de um sujeito desconhecido para si próprio, dotado de inúmeras estruturas psíquicas que, não necessariamente, este tem acesso direto. O ser de Freud é um somatório de fragmentos. Neste sentido, o estudo de Freud reverberou em trabalhos futuros sobre a identidade. Lacan, por exemplo, afirma que o sujeito é formado a partir do olhar do outro e que o indivíduo só conhece a si próprio mediante a relação com outrem. Aquilo que “é” não é mais um produto acabado, dotado de uma “essência”, mas se constitui ao longo do tempo, em um processo mútuo de dependência com o outro. Hall propõe, portanto, a substituição de nomenclaturas para melhor compreender este processo. Segundo ele, “identidade” alude a uma “coisa acabada”, sendo assim, o termo mais correto seria “identificação”, pois alude a um processo em andamento.
A partir da ideia de “modernidade tardia”, resultante da globalização, os autores visam discutir as diversas possibilidades no processo de criação do “eu” em ambientes digitais. As identidades (no plural) passam por um processo de fragmentação e deslocamento, suscitando questionamentos acerca das práticas sociais presentes nestes locais de interação. A discussão segue no tópico seguinte, “Identidades contemporâneas”, onde são discutidas algumas questões concernentes a esta temática.

Tópico 2 – Identidades contemporâneas: No presente tópico, os autores apontam para o trabalho de Foucault com relação ao poder disciplinar presente em determinadas instituições da sociedade. Segundo ele, o indivíduo estaria sempre sujeito às influências de tais estruturas e, por conseguinte, sua subjetividade estaria enraizada nos limites e nas determinações destas instituições. “Quanto mais coletiva e organizada for a natureza das instituições na modernidade tardia, maior o isolamento, a vigilância e a individualização do sujeito” (p. 17). Ou seja, o produto humano derivado das estruturas da modernidade tardia é um indivíduo atomizado, com pouco poder de influência sobre o meio em que vive. Estas relações de poder (patrão sobre empregado, por exemplo) evidenciam uma dimensão mais política e cultural sobre a formação identitária.
Neste sentido, os reflexos da globalização sobre os meios de comunicação e as novas características de espaço e tempo arraigadas a ela, permitiram formas de interação inéditas até então. Com as distâncias comprimidas e a possibilidade de estar conectado, em “tempo real” com pessoas geograficamente afastadas, os indivíduos têm à disposição inúmeras plataformas de interação pelas quais se apresenta aos demais mediante suas próprias escolhas. Ou seja, preenchendo um formulário com características pessoais, o sujeito é - se faz - conhecido por aquilo que alega ser, em um espaço onde a presença física é substituída por dígitos e imagens. A possibilidade de edição desta apresentação, através do cuidado na captura, edição e seleção das imagens que irão compor o profile, assim como as informações sobre suas preferências e características, ilustram aquilo que teóricos mais pessimistas chamam de “crise da identidade”. Gioielli afirma que as identidades “[...] estariam rumando para um estado de homogeneidade, operado através da indústria cultural”. Tal critica se fundamenta, como apontam Couto e Rocha, na ideia de que o processo de transformação cultural pauta-se na mudança enquanto um processo de desvirtuamento, de mercantilização das formas culturais autênticas, fazendo emergir uma cultura padronizada, industrializada e artificial. O consumo seria, pois, a peça-chave deste processo em que a autoidentificação com objetos do mercado constituem aquilo que se é.
Em contrapartida à ideia de homogeneização global, os “nichos” apresentam um novo viés para se pensar o local. As identidades culturais são relativizadas pela crescente compressão tempo-espaço. Se reconfiguram em torno da influência do global, assim como utilizam elementos do local em sua constituição. Unindo tais ideias ao objeto selecionado, o próximo tópico apresenta uma aproximação que permitirá discutir as identidades múltiplas no contexto das redes sociais digitais.
Tópico 3 – O Orkut e as identidades múltiplas, nômades, ou mais ou menos inventadas:
Ao início do tópico, alguns dados relacionados à rede social em questão são apresentados como forma de evidenciar a relevância de tal objeto de estudo. O que é interessante pontuar aqui, no entanto, é que o Orkut é a rede social com maior participação de brasileiros (35 milhões, em 2009). Para “entrar” no Orkut, o usuário cadastra-se e, ao fazer o primeiro login, tem a opção de preencher ou ocultar informações como “quem sou eu” e “interesses”, por exemplo. Há um espaço para descrição física e emocional, estado civil, entre outras lacunas a serem preenchidas que fornecerão pistas aos interagentes. Estas informações são imprescindíveis para as interações que ocorrerão posteriormente, pois aludem a uma identidade naquele ambiente.
Uma vez que o controle sobre o que será evidenciado é do indivíduo que se apresenta, há a possibilidade de informar características fictícias, acentuando ou atenuando aspectos que deseja. Cabe abordar, neste momento, o destaque dado pelos autores aos fakes. Os perfis falsos são utilizados, em alguns casos, para facilitar comportamentos inadequados, escamotear práticas criminosas, violar direitos humanos e aliciar crianças e adolescentes. Obviamente, os fakes são utilizados para outros fins, como a sátira com personas públicas, a possibilidade de bisbilhotar sem ser identificado, entre outras práticas. Os recursos de autenticação dos perfis fake são inúmeros. Dentre eles, adicionar amigos “verdadeiros” em seu círculo de relações gera a sensação de legitimidade. A ideia básica é: se a pessoa que não conheço, é amigo de um amigo, sou mais propenso a inserí-lo em meu círculo de relações.
Uma pessoa pode experimentar ser outra (ou várias outras) com características físicas completamente diferentes. Pode explorar sentimentos enclausurados “no mundo real”, assim como fugir deles. Sherry Turkle direciona seu trabalho neste sentido, abordando o “eu” enquanto constituição descentrada, dotada de inúmeras facetas e desempenhando diversos papéis simultaneamente. Na rede, as identidades são constantemente manipuladas, tomando formas diversas. “Um outro ‘eu’ em cada janela do computador”. As identidades contemporâneas são, desta maneira, engendradas por um conjunto de acontecimentos que são vividos on e off-line, numa profunda organicidade líquida (como afirma Bauman).
É interessante a abordagem feita por Couto e Rocha acerca dos profiles. Segundo eles, estes perfis são uma antevisão que irá intervir nas escolhas, comportamentos e ações presentes. Não a toa o termo profile (pro – file) alude à ideia de um pré-registro, uma preodenação. A citação do trecho (p. 27) de um texto de Fernanda Bruno (2006) é cabível para a compreensão das “simulações de identidade” enquanto constituições móveis, latentes. “No Orkut, além de camaleônicas, elas também são publicitárias, um brilho efêmero para um sujeito que vive da pulverização encantada e pavoneada de si mesmo.” (p. 28)
Tópico 4 – Conclusões:  Os autores concluem a argumentação afirmando que os fakes nem sempre são utilizados para a violação de direitos humanos ou outras práticas negativas. Os indivíduos experimentam novas identidades para demonstrar sentimentos e pensamentos muitas vezes enclausurados no “mundo real”, o que, no ambiente simulado, torna-se mais acessível, sobretudo pela menor incidência da direta reprovação dos demais indivíduos. Estes meios são observados pelos autores como um repositório de identidades mais íntimo e verdadeiro. A noção de uma identidade “verdadeira” ou “falsa”, inclusive é problematizada, uma vez que a constituição de uma identidade contemporânea permeia a hibridização entre quem se é on e off-line. “A separação entre mente e corpo, homem e natureza, identidades verdadeiras e falsas, a vida on-line e a off-line, não mais se sustenta. Não existe separatividade, tudo agora está relacionado, conectado, em renovação e dispersão contínuas.” (p. 30)




PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS - POSCOM - UFBA
DISCIPLINA: COM544 – TEMAS EM CIBERCULTURA
PROF. JOSÉ CARLOS RIBEIRO E MALU FONTES

FICHAMENTO – Imagens de família na internet: fotografias íntimas na grande vitrine virtual.
DIOGO, Lígia Azevedo; SIBILIA, Paula. Imagens de família na internet: fotografias íntimas na grande vitrine virtual. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010 (p.33 - 55).
POR FELIPPE THOMAZ E LORENA SILVA
Sobre os autores:
Lígia Azevedo Diogo é doutoranda em cinema pela UFF, sob a orientação de Paula Sibilia. O interesse de sua pesquisa está nas questões relacionadas ao upload de vídeos no YouTube como elementos de interação entre os usuários. Participa do grupo de pesquisa Imagem, Corpo e Subjetividade, da mesma instituição.
Paula Sibilia é doutora em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Saúde Coletiva também pela UFRJ. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisa os temas de subjetividade contemporânea, corpo humano, tecnologias digitais, imagens e práticas corporais. Publicou os livros “O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais” (2002) e “O show do eu: a intimidade como espetáculo” (2008).

Objetivos do capítulo: Faz um comparativo entre o álbum de família anterior à era digital – material e palpável – e as pastas virtuais de armazenamento de imagens digitais, no caso específico do “álbuns” do Orkut. Nesta perspectiva, discute temas relacionados à fotografia e memória e à constituição e manutenção de identidade através da internet.
Argumentação Central: As autoras abordam a relação do observador com a fotografia a partir do trabalho de Roland Barthes em “A câmara clara”, fazendo um contraponto com as particularidades da produção, armazenamento e observação de fotografias de família a partir da internet. Neste sentido, elencam e discutem particularidades dos dois suportes – físico e virtual -, para compreender as semelhanças e divergências entre ambos.
Tópico 1 - Introdução: Inicialmente o trabalho parte de uma releitura d’A Câmara Clara, de Roland Barthes, quando este propõe uma investigação sobre a fotografia para compreender o que há de “essencial” neste forma de expressão. Especificamente, o que é examinado são as fotografias digitais e a organização destas em “álbuns” virtuais no Orkut. A web 2.0 tornou possível a emergência de novas formas de relacionamento interpessoal através das imagens. Enquanto algumas destas práticas são meramente “roupagens digitais” de práticas sociais anteriores, outras se constituem de fato enquanto novas maneiras de relação humana.
Neste sentido, as particularidades do meio eletrônico fornecem um interessante desdobramento a ser investigado. Diogo e Sibilia procuram responder a uma questão base, neste trabalho: os álbuns de fotografia de família disponíveis em redes sociais digitais (especificamente o Orkut) são apenas versões mais atuais daquelas que eram guardadas em nossas casas? Para elucidar tal questão, as autoras fazem uma abordagem comparativa entre álbuns de família no Orkut e os modelos antigos, distinguindo-os em suas particularidades constituintes. O objetivo orbita na tentativa de compreender estes modelos tecnologicamente reciclados como manifestações de um processo de transformação mais amplo e incitante.
Tópico 2 – Fotografias no Orkut: técnicas para se fazer conhecer: No intuito primeiro de compreender as divergências entre práticas fotográficas em redes sociais digitais e em fotografias “materiais” (imagem revelada sobre um papel, armazenada em álbuns físicos), faz-se necessário observar, de antemão, a forma de utilização da fotografia pelos internautas cadastrados no Orkut.
É notório que uma das principais finalidades das redes sociais é oferecer aos usuários a possibilidade de se conectar com pessoas já conhecidas e conhecer novas pessoas. Para quê conhecer pessoas? As autoras, baseadas em dados apresentados no texto, apontam para duas principais intencionalidades: amizade e namoro.
Considerando tais objetivos na utilização do Orkut, emerge uma questão relacionada aos modos pelos quais os indivíduos se conhecem neste ambiente. Como se fazer conhecer e ser conhecido? Como se expor em um perfil de rede social? Quais os mecanismos de confiança que imperam em tais meios? Primeiramente, um formulário precisa ser preenchido. As questões respondidas oferecerão pistas sobre quem se é e o que objetiva em tal ambiente. As respostas dadas no perfil serão de escolha do usuário, que tem a opção, inclusive, de não responder, caso não queira. Outros recursos como a pasta de recados, as comunidades que pertence, os links para vídeo e as relações que sustenta também auxiliarão no processo de formação da personalidade no site. Além disso, um atrativo utilizado pela maioria dos usuários nestes ambientes é a fotografia. Na página principal do perfil, por exemplo, a imagem constitui-se como um recurso bastante importante. Sua representação imagética aparecerá em todos os comentários que fizer nesta rede, sendo, seu detentor, facilmente identificado a partir dela. Há ainda a possibilidade de criação de “pastas” de fotografias. É possível organizar as imagens em temas e ter certo controle sobre que poderá ter acesso a elas. Fotos de viagens, de colegas de trabalho, da família são alguns dos temas comumente adotados pelos users.
Dado o fato de que o surgimento da fotografia permitiu uma relação inteiramente nova da imagem com o objeto representado, a contribuição de Barthes neste sentido se faz nítida. “Desde que a técnica fotográfica se popularizou, temos nos acostumado a lidar com a reprodução incontestável do que somos ou do que aparentamos ser. [...] Essa característica foi fundamental para que a fotografia se tornasse uma forma de reconhecimento pessoal das mais indiscutíveis para a sociedade humana” (p. 40-41). Sustentar tal afirmativa não corresponde, necessariamente, a dizer que mostramos o que somos a partir da semelhança encontrada na representação fotográfica. Há inúmeros truques de câmera que podem ser utilizados para “editar a aparência”, tais como enquadramento, condição de luz, angulação da câmera, postura do sujeito perante a lente etc. Além disso, softwares como o Photoshop oferecem um vasto leque de filtros pelos quais é possível pós-produzir a própria imagem. Portanto, aquilo que se aparenta ser, não necessariamente condiz com a pessoa “real”. Neste sentido, a fotografia de família parece ser o tipo de imagem de menor discrepância entre o que se é e o que se pretende ser.
Tópico 3 – Fotografia de família: um documento veraz: Neste tópico, as autoras começam afirmando que as fotografias de família parecem ser capazes de registrar as pessoas de maneira mais próxima do que o que elas realmente são. Em seguida, parte a um breve levantamento histórico sobre os álbuns de família. Tal resgate reflete na própria conjuntura social da segunda metade do século XIX, com a valorização do espaço privado e o posicionamento da família – sua constituição e manutenção – como pilar da moral do homem moderno, sendo sua subjetividade emoldurada por esta condição. A popularização da produção e difusão das fotografias contribuiu para as preocupações de Benjamin com relação ao declínio do “valor de culto” das imagens em geral. Por outro lado, autores como Barthes situaram os registros fotográficos – sobretudo as de ordem familiar – como detentores de uma “aura” própria. “A foto é literalmente uma emanação do referente” (p. 44). Logo, faz-se notória a relação com a memória, uma vez que “capturar” a própria família é manter viva um momento que não tornará a ser presenciado, mantendo a memória fixada sobre um papel fotográfico.
Devido a uma reconfiguração dos moldes familiares e a relação entre o público e o privado atualmente ser limitada por uma fronteira difusa e permeável, o conceito de multidão solitária (RIESMAN, 1950) emerge. Observa-se, neste sentido, “um deslocamento dos eixos em torno dos quais cada sujeito edifica o que é. Um deslizamento de dentro de si (introdirigido) para ‘fora’, ou melhor: para tudo aquilo que os outros podem enxergar (alterdirigido)” (p. 45).
Tópico 4 – Álbuns de família: refúgio ou vitrine?: A internet, como reflexo de um processo maior, tem causado mudanças significativas na maneira com que as pessoas produzem, consomem e valorizam imagens de família. Enquanto antes as imagens eram armazenadas em álbuns físicos, de papel, atualmente, com as imagens digitais, nota-se uma evidente redução da utilização destes suportes. As autoras partem à descrição de características comuns aos álbuns físicos para posteriormente contrapô-las às especificidades dos álbuns virtuais:
- Materialidade e perenidade: Por serem bens materiais palpáveis e permanecerem, durante a maior parte do tempo, guardadas, a conservação das imagens era garantida. As fotografias simplesmente não eram jogadas fora, mas retidas em um invólucro específico, em conjunto com outras imagens relacionadas.
- Público-alvo restrito e definido: O valor destes álbuns só era reconhecido pelos familiares envolvidos e por amigos mais íntimos. Para um estranho, ou alguém fora deste círculo, tais imagens poderiam ser triviais e inexpressivas.
- Guardar como o objetivo fundamental: A preservação da memória da família era o ponto principal destes álbuns, assim como manter “próximos” parentes distantes ou “vivos” os que já tivessem morrido.
- Refúgio e proteção: No âmbito familiar, em que a intimidade dos indivíduos está mais aberta, a “verdade” destes sujeitos vem à tona com maior facilidade. Os álbuns seriam espécies de refúgios para esta autenticidade, daí a necessidade de mantê-los protegidos de um ambiente externo ao familiar.
Os atributos dos álbuns presentes em redes como Orkut apresentam atributos diferentes, os quais são elencados e brevemente discutidos pelas autoras:
- Virtualidade e descartabilidade: O espaço ocupado pelas imagens digitais não é físico, mas medido em bits. Neste caso, o sentido de “espaço” se confunde com o de “memória”, visto que seu armazenamento se dá em discos rígidos. Assim sendo, tais imagens podem facilmente ser descartadas pelos donos dos perfis e tal prática, segundo Diogo e Sibilia, é comum entre os usuários destas redes.
- Público-alvo amplo e indefinido: Devido à própria constituição das redes sociais digitais, estas imagens, ao serem upadas, estão disponíveis ao acesso de milhões de pessoas. No caso do Orkut, 45 milhões de usuários poderão ver uma fotografia íntima de família, caso o dono do perfil não controle o acesso de indivíduos externos.
- Mostrar como o objetivo fundamental: Um dos principais objetivos do Orkut é tornar a vida social de seus usuários mais ativa. Inúmeros recursos são oferecidos para que o indivíduo se torne (re)conhecível pela máxima quantidade de pessoas possível. Assim, um álbum de família que passe despercebido é indesejável.
- Vitrine: Os álbuns de fotografia no Orkut funcionam como vitrines no momento em que expõem a vida de determinado usuário aos demais “presentes” nesta rede. Nestes espaços virtuais, as pessoas precisam ser vistas para existir, ser alguém depende da visibilidade perante outrem.
Tópico 5 – Imagens de família na internet: um reflexo do que se é: Relendo um trecho tão belo quanto intrigante de “A câmara clara” de Roland Barthes, quando este, em busca da “essência” da fotografia enquanto forma de expressão se depara com uma imagem da própria mãe, aos 5 anos de idade e observa ali “a verdade” do que fora aquela mulher, as autoras iniciam a discussão acerca da fotografia enquanto repositório de imagens verossimilhantes em relação àquilo que representam. No caso de Barthes, ele não revela a imagem de sua mãe sob a alegação de que ela, a olhos estranhos, não seria mais que “uma fotografia indiferente”. O autor guarda-a em seu íntimo, onde ela assume o lugar máximo no que se refere à verdade através de uma imagem. O resguardo adotado por Barthes reflete também a ideia de uma personalidade sólida, imutável com relação ao tempo. “[...] para ‘ser alguém’ era preciso dispor de um refúgio protegido, para permanecer sendo alguém era preciso também ser resguardado.” (p. 52).
No entanto, a configuração social em torno da internet e suas diversas facetas de interação social parece, segundo as autoras, representar o auge do conceito de multidão solitária, com o sujeito se constituindo a partir do que está “fora de si”. As autoras utilizam o exemplo de Vanessa (nome fictício de uma usuária do Orkut) para compreender as dinâmicas envolvidas no compartilhamento de fotos familiares em ambientes digitais.  Observa-se que a internauta tem o cuidado de adicionar legendas em suas fotos, como forma de “esclarecer” aos outros usuários quem são as pessoas de seu círculo primeiro de relações. Em uma destas imagens, Vanessa põe lado a lado uma fotografia de quando tinha 5 anos de idade e uma atual. A legenda que utiliza é: “onde você se reconhece: na foto passada ou no espelho de agora?”. Ao contrário da mãe de Barthes, reconhecível ao longo do tempo, Vanessa parece saber que em uma destas imagens não é mais possível reconhece-la. A usuária, neste gesto, desperta o interesse de Diogo e Sibilia, que afirmam que esta pessoa é o que mostra ser: algo que pode e deve mudar, um ser instantâneo e fugaz, que se refaz ao atualizar seu profile no Orkut.


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS - POSCOM - UFBA
DISCIPLINA: COM544 – TEMAS EM CIBERCULTURA
PROF. JOSÉ CARLOS RIBEIRO E MALU FONTES

FICHAMENTO – “Por favor, aula hoje não!:” O Orkut, os professores e o ensino.
BERGMANN, Leila Mury. “Por favor, aula hoje não!:” O Orkut, os professores e o ensino. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010 (p.57 - 77).
POR FELIPPE THOMAZ E LORENA SILVA
Sobre a autora:
Leila Mury Bergmann é professora de Língua Portuguesa, mestre e doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é bolsista de Pós-Doutorado Júnior do CNPq, sob a supervisão de Rosa Maria Bueno Fischer.
Objetivos do capítulo: O presente capítulo objetiva fornecer reflexões acerca de práticas ofensivas dos alunos para com seus professores em comunidades no Orkut. Desta maneira, propõe compreender os motivos que levam os alunos a adotarem tais posturas e convida os próprios professores a pensar métodos de utilização das ferramentas digitais em benefício próprio. Ou seja, Bergamann anseia fornecer caminhos para repensar a prática pedagógica.

Argumentação Central: A partir de comunidades de fundo ofensivo no Orkut – postura adotada dos alunos aos professores -, a autora aborda temas relacionados à utilização das “novas” tecnologias no contexto escolar como forma de diminuir o abismo dialógico entre o professor e aluno. Para tanto, parte da exemplificação de práticas em comunidades virtuais para compreender os motivos que levam os estudantes a adotar tais práticas e propõe uma reflexão acerca dos métodos utilizados no fazer pedagógico.

Tópico 1 - Introdução: Ao início do texto, a autora apresenta de maneira sucinta a abordagem que pretende fazer ao trabalhar com os comentários feitos em comunidades do Orkut cuja a atenção se volta a comentários negativos e ofensivos a professores e às escolas em que estudam.
Para tanto, pontua alguns direcionamentos teóricos que serão abordados ao longo do texto, dentre eles, a ideia de discurso segundo Foucault. Este, afirma que o discurso não é algo externo ao objeto ao qual se refere, mas entende o ato enunciativo como formador daquilo a que se refere. Compreendendo o discurso como um processo de construção de sentido e observando a “febre do Orkut”, a autora tenta compreender os motivos que levam os alunos a criarem comunidades como “Mate aula antes que ela te mate!”.
Por se tratar de um texto de 2007, a autora trata as redes sociais digitais – especificamente o Orkut – enquanto um campo ainda novo, que merece considerações acerca de suas características fundamentais, como o fato da produção dentro destes ambientes ser voltada ao compartilhamento e à publicização. Neste sentido, as autoras apontam à necessidade de questionar a “veracidade” das informações criadas e partilhadas nestes ambientes, uma vez que os usuários não são obrigados a “serem eles mesmos” nestes ambientes. Não a toa, elas apontam para a criação de perfis falsos como uma prática comum a usuários racistas e “bisbilhoteiros”.
A partir desta breve apresentação, Bergmann parte às considerações gerais sobre a pesquisa.
Tópico 2 – Considerações gerais sobre a pesquisa: A autora faz um apanhado geral das perspectivas teóricas que irá adotar no presente trabalho como forma de apresentar-se ao leitor – a sua formação, a justificação do campo teórico adotado etc. Inicialmente, frisa que irá observar a relação da escola com as “novas” tecnologias, principalmente no tocante a utilização pelos alunos no sentido de promover críticas a seus professores e à escola em que estão inseridos. Baseando-se na ideia de discurso segundo Foucault, os comentários presentes nestas comunidades participam ativamente na construção das narrativas sobre professores e escola. A intenção da pesquisadora é “mapear” os motivos destes comentários, compreender as dinâmicas intencionais envolvidas no ato de fazer um comentário violento acerca do próprio professor.
À luz dos “estudos culturais”, Bergman toma a “pedagogia como fenômeno cultural abrangente e complexo, a qual se concretiza tanto no âmbito das instituições e instâncias estritamente educativas quanto em outros territórios e artefatos do mundo contemporâneo” (p. 62). Neste sentido, a pesquisa visa contribuir para o campo da educação e das tecnologias digitais.
Tópico 3 – Cultura, mídia e novas tecnologias: “Inúmeras são as mudanças no plano educacional provocadas pelas mídias e pelas novas tecnologias” (p. 63). A difusão das tecnologias digitais modificou a tal ponto a estrutura de escola que o papel do professor em sala também foi alterado. Antes este era visto como o detentor do conhecimento, dotado de poderes repressores totais e através de quem o “saber” era transmitido; o professor contemporâneo, por outro lado, ocupa um espaço de mediador do conhecimento, seu papel em sala é mais um orientador que uma autoridade máxima, portadora do saber, uma vez que os alunos têm, com a internet, inúmeros canais de acesso a informação.
Neste sentido, a autora já aponta para uma série de problemas entre os professores e as tecnologias digitais. Verificando uma relutância por parte destes em utilizar as novas tecnologias em benefício da própria didática, estes observam os computadores (e demais dispositivos eletrônicos) como “concorrentes”. A escola convencional parece não acompanhar a velocidade dos avanços tecnológicos. Com base nestas afirmativas, a autora ressalta a necessidade das instituições considerarem as tecnologias para elaborar, desenvolver e avaliar práticas pedagógicas. Enquanto esta reflexão não é feita, as práticas “subversivas” se disseminam pelos alunos, como é o caso das comunidades do Orkut que ofendem os professores.
Tópico 4 – Orkut/comunidades/scraps – retratos e recortes da vida escolar: Bergmann inicia este tópico aproximando-se da ideia de comunidade segundo Bauman. De acordo com o autor, há uma relação direta entre comunidade e segurança, situando o outside como um local perigoso e ameaçador. Pertencer a determinada comunidade, constituindo assim um grupo identitário, produz a sensação de estar seguro nos indivíduos. Considerando as particularidades do meio enquanto um ambiente de interação alterdirigido, a autora cita Silveira (2006) quando esta afirma que o fato de pertencermos a determinada comunidade não implica na necessidade de participar das conversações na mesma. “A questão central é o que ela diz sobre nós aos outros que visitam nossa página” (p. 66).
Em seguida, a autora parte à descrição do método adotado na pesquisa: selecionando comunidades relacionadas ao tema de interesse mediante a quantidade de usuários (preferência às comunidades de maior número de usuários), tópicos de discussão com no mínimo dez participações foram escolhidos. Entre as comunidades trabalhadas “Eu odeio professor frustrado” e “Odeio professora mal-comida”, ilustram o nível pejorativo encontrado em tais ambientes.
O Orkut é abordado como um dos principais espaços utilizados pelos alunos para poder objetivar aquilo que verdadeiramente pensam sobre seus professores, sem o risco direto de serem reprimidos por estas atitudes. Estas práticas são ofensivas e desrespeitosas, e, ao longo do texto, a autora cita diversos exemplos que ilustram tais comportamentos. Os alunos, segundo Bergmann, sentem-se “ameaçados” (no sentido de Bauman, na p. 68) pelo poder exercido pelos professores e reagem demonstrando uma “sensação de resistência e poder”. No caso, a criação de uma comunidade deste tipo é um exemplo da manifestação desta sensação.
A autora cita um caso de “invasões” de professores em comunidades ofensivas e os reflexos causados na dinâmica daqueles grupos. O primeiro caso é de uma professora que, de certa forma, concorda com as críticas dos alunos e propõe um abrandamento daquelas reações pejorativas. Em outra ocasião, é evidenciada a reação violenta de um professor contra os estudantes, com xingamentos e palavrões.
Os danos causados pelas agressões dos alunos e professores requerem aproximações futuras, sobretudo no que diz respeito às implicações jurídicas. Questionar sobre como as autoridades irão lidar com o que acontece no Orkut é uma necessidade apontada por Bergmann. Além disso, a reflexão acerca das maneiras de utilização desta tecnologia pelos professores é apontada como urgente (considerando que o texto data de 2007). É “de suma importância que os educadores reflitam [...] sobre como operar com esses materiais que estão circulando nesse tipo de mídia (o Orkut), que representa, por assim dizer, a linguagem das novas gerações” (p. 71).
Tópico 5 – Algumas ilações: O tópico conclusivo aponta para a necessidade de repensar as práticas pedagógicas no contexto das tecnologias digitais, principalmente no tocante à utilização do Orkut. Tentar compreender os motivos que levam os estudantes a se comportarem de maneira violenta e ofensiva nestes ambientes é, em si, um esforço para repensar a postura do professor em sala, posicionando-se mais como um parceiro na busca por conhecimento que um ser dotado do saber.
As tecnologias não podem ser vistas como um abismo entre professor e aluno. Neste sentido, a autora discorre sobre uma experiência em sala de aula em que o diálogo com alunos permeou os assuntos relacionados ao Orkut e o que observou-se foi uma maior aceitação das ideias da professora. Por fim, Bergmann convida os professores a repensar o fazer pedagógico.


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS - POSCOM - UFBA
DISCIPLINA: COM544 – TEMAS EM CIBERCULTURA
PROF. JOSÉ CARLOS RIBEIRO E MALU FONTES

FICHAMENTO – A escrita no Orkut: vocabulário mais utilizado e aproveitamento do internetês para o ensino da língua portuguesa.
BISOGNIN, Tadeu R.; FINATTO, Maria José B. A escrita no Orkut: vocabulário mais utilizado e aproveitamento do internetês para o ensino da língua portuguesa. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010 (p.79 - 100).
POR FELIPPE THOMAZ E LORENA SILVA
Sobre os autores:
Tadeu Bisognin é mestre Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde sua pesquisa se voltou à compreensão da utilização “internetês” pelos jovens no Orkut, sob a orientação de Maria José Bocorny Finatto.
Maria José Finatto é doutora em Letras pela UFRGS e professora do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas pela mesma instituição, seu pós-doutorado foi junto ao Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional no ICMC-USP. Sua pesquisa volta-se à Linguística Aplicada, com ênfase em estudos sobre padrões do léxico em textos escritos.
Objetivos do capítulo: O presente capítulo apresenta dados levantados a partir do Banco de Português e do Orkut para identificar as características do “internetês” e a partir daí fornecer contribuições à metodologia de ensino da Língua Portuguesa para jovens.
Argumentação Central: Os autores reconhecem o internetês enquanto expressão linguística dotada de características próprias que, por sua vez, derivam de apropriações da oralidade e alterações da língua escrita. Neste sentido, pretendem oferecer recursos à investigação deste “dialeto”, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, ao elencarem uma série de possíveis atividades a serem realizadas em salas de aula pelos professores.
Tópico 1 - Introdução: Intrigados pelas críticas feitas ao internetês, ou seja, à maneira peculiar de escrita presente na internet, os autores realizaram um levantamento estatístico que visa responder à complexa pergunta: como deve reagir a Escola brasileira diante desta nova maneira de escrever, cada vez mais vivenciada pelos estudantes?
Apresentando brevemente os tópicos subsequentes, é feita a descrição da pesquisa e dos métodos adotados no presente estudo. Foi realizada uma pesquisa linguística sobre o vocabulário empregado por jovens de 15 a 23 anos em depoimentos e recados no Orkut. Para tanto, utilizou-se a Linguística de Corpus como método investigativo no intuito de explorar padrões de uso da língua em grandes conjuntos de textos. Discorrendo brevemente sobre a abordagem metodológica, no Orkut 553875 palavras foram compiladas para posterior observação. A metodologia da Linguística de Corpus requer a comparação com diferentes usos da escrita e, neste sentido, mais dois conjuntos de dados foram utilizados: o Banco de Português (1289949 palavras) e um terceiro conjunto, composto de redações escolares, textos jornalísticos e textos de livros didáticos (571090 palavras). Por palavra, no artigo, entende-se qualquer conjunto de caracteres entre dois espaços em branco. Assim, tanto “rsrsrs” quanto “trabalho” é compreendido enquanto palavra. Além disso, há a possibilidade de agrupamentos de palavras isoladas em grupos. Tecnicamente, as palavras “soltas” são chamadas tokens (itens) e os conjuntos de palavras relacionadas são chamados types (tipos). Estas duas unidades de medida são importantes para a compreensão da pesquisa feita pelos autores.
Tópico 2 – Registro e análise dos dados identificados: Como uma variação da língua portuguesa culta, o internetês utiliza-se de abreviaturas, siglas, neologismos e símbolos em sua composição. Compreender estes “códigos” não é tarefa fácil para aqueles que não estão acostumados à utilização da internet.
Bisognin e Finatto apresentam 17 exemplos de modificações em relação à grafia oficial que constituem o corpus de investigação. Dentre eles, a reprodução da fala (axo, poko); substituição do acento agudo por h (eh, peh, feh); palavras sem vogais, composta somente de consoantes (gnt, td, dps, flw); onomatopeias para riso e choro (hehe, haha, tsc tsc); uso de emoticons (:), >/, \o/), entre outras utilizações comuns.
A partir daí, é possível pensar o internetês como uma “recriação gráfica das línguas escrita e falada preexistentes, enriquecida com representações e simbologias” (p. 85). Desta maneira, todos estes códigos devem ser compreendidos enquanto suportes de representação das emoções humanas e não de maneira isolada de seu contexto original. A leitura que é feita quando nos deparamos com um “vc” ou “tb” não é a união de letras tão somente (vecê, tebê), mas fazem alusão às palavras que representam.
Citando o trabalho de Bagno, os autores apontam para o fato de que no Brasil, no tocante à escrita, “as pessoas tendem a confundir o todo do português com a sua ortografia oficial”. Isto explica um pouco as críticas feitas ao internetês. Apesar de haver uma preocupação com as formas de escrita provenientes da internet, numericamente estas expressões não somam sequer a metade das utilizadas nos ambientes digitais. Conforme os dados apresentados, cerca de 80% das palavras escritas no Orkut possuem grafia correta, relegando em torno de 20% para a utilização do internetês. No entanto, a lógica deste “dialeto” fica evidente quando os autores demonstram que a maior parte das palavras escritas no Orkut possuem duas ou três letras.
A pesquisa contempla a utilização em várias regiões do Brasil, gerando a necessidade de criação de nove subcorpora regionais, para identificar a influência que a localização exerce sobre os indivíduos conectados.
Tópico 3 – Traços de oralização sobre a escrita no Orkut: No presente tópico, os autores voltam a atenção ao levantamento das palavras mais utilizadas nestes ambientes. De acordo com a metodologia apresentada anteriormente, em que foi feito um cruzamento entre a língua falada, escrita e o internetês tornou-se possível perceber uma relação direta entre a fala e a linguagem aplicada no Orkut. “De” é a palavra mais utilizada na escrita, mas ocupa o sexto e o quinto lugar, na fala e na escrita respectivamente. Por outro lado, as palavras da fala e do Orkut ocupam lugar semelhante, sendo possível dizer que são as mesmas, caso não fossem escritas de formas diferentes. “Que” é o item lexical mais empregado nestes dois ambientes citados.
De acordo com os dados apresentados, os autores apontam ainda para cinco especificidades e exemplos da oralização do internetês:
- Presença de marcadores conversacionais: “Nossa...” “Putz...”
- Presença de muitos períodos curtos e simples: “veja bem... na minha vida agora... é só trabalho... estudo... correria...”
- Emprego de léxico coloquial: “O que anda aprontando?????”
- Uso de frases truncadas: “a festa foi massa... foi eu e a pri... o povo lá da bio foi também... e um povo migo do povo...”
- Pouca densidade informacional: “e tu quer que eu fale o que?! Oo”
Os autores apresentam mais exemplos que evidenciam a ligação entre a língua falada e o internetês, sob a influência também da linguagem escrita. É possível conceber este modelo enquanto um código escrito oralizado. “Na escrita oralizada que examinamos, a frase tende também a diminuir, constituindo-se muitas vezes de apenas uma, ou duas palavras.” (p. 91)
Tópico 4 – Aspectos da língua em constante fazimento:
Sintetizando seus objetivos e métodos, os autores iniciam o presente tópico ressaltando a necessidade de observar o uso da língua na internet (constantemente alvo de críticas) através de descrições sistematizadas e criteriosas.
Em linhas gerais, o que deve ser levado em conta é a adequabilidade da língua à circunstância onde está inserida. Neste sentido, o internetês não é visto como forma “errada” de expressão, mas como uma adaptação do português às peculiaridades da internet. O problema existe quando a fronteira que limita o uso desta forma de expressão é transposta e o internetês é confundido com a linguagem escrita formal. O papel da Escola é reforçado, no sentido de deixar claro que tudo depende de quem diz o que, a quem, como quando, onde, por que e visando um efeito (p. 91).
Contrapondo o senso comum, que critica o uso do internetês baseados em conclusões próprias e superficiais, os autores reforçam a necessidade de uma abordagem preocupada em compreender o que é língua, palavra, léxico, norma, variante, dialeto ou escrita. Feito isso, naturalmente à luz do campo teórico da linguística, será identificada uma característica essencial a qualquer língua “viva”: sua mutabilidade e adaptação. O influxo de novos termos deixa a vida viva e ela se encontra em “constante fazimento” ao longo do tempo. Por fim, o internetês é visto como “um dialeto social, o qual, segundo Dubois, é “um sistema de signos usados por um grupo social em referência a esse grupo” (p. 92).
Tópico 5 – Aproveitamento do internetês na escola: Este tópico possui interessantes desdobramentos para a adequação da escola às formas de linguagem presentes na internet. Com o objetivo de levar os professores a considerar o internetês como algo positivo, algumas recomendações de atividades a serem aplicadas em sala de aula são apresentadas pelos autores. As atividades são brevemente descritas abaixo:
- A proposta de uma discussão sobre a semelhança e diferença entre fala e escrita e os problemas de compreensão da linguagem encontrados no Orkut parece despertar às possibilidades de utilização e adaptação da língua portuguesa. Além disso, os autores sugerem a reescritura de recados e depoimentos do Orkut em “português formal”.
- De maneira semelhante à ideia anterior, a proposta de reescrever para a linguagem culta o que o aluno acha que o autor das frases abaixo quis dizer quando escreveu, por exemplo, “qlq coisa da um tok”, “fds mt show hein!?” ou ainda “falae troxa blz maluco”.
- Devido aos agrupamentos de “estilos” do internetês (como apresentados no tópico 3), os alunos podem ser levados à identificar traços comuns e criar uma regra para cada grupo.
- Sugere-se a elaboração de um texto autocrítico relacionado à exposição de dados pessoais no Orkut baseado na leitura do texto Problemas de segurança e privacidade no Orkut da ONG SaferNet.
Tópico 6 – Algumas considerações a partir das atividades propostas: De acordo com os dados e propostas apresentados ao longo do texto, alguns encaminhamentos para a utilização do internetês pelos alunos se mostram necessários a um maior diálogo professor-aluno. Compreender a linguagem peculiar da internet enquanto uma “variante diletal de escrita oralizada” é reconhecer os alunos enquanto poliglotas dentro da própria língua. Obviamente que tais intentos não se confundem com a substituição do português formal, da escrita culta. O objetivo é não rechaçar uma forma de expressão já inserida no contexto dos jovens e que parece não retroceder, devido a forma de comunicação apressada, comum à internet.
Tópico 7 – Conclusões: Compreender o internetês enquanto uma forma de linguagem própria, resultante da inserção de elementos da oralidade e da alteração das regras ortográficas é necessária à adoção de medidas que compreendam estas adaptações linguísticas em uma perspectiva otimista.
O internetês do Orkut, especificamente, é uma variação dialetal escrita dotada de características próprias. Neste sentido, compreende-se a linguagem enquanto um processo em constante fazimento, sofrendo alterações e modelagens ao longo do tempo.

Investigar os métodos de utilização deste dialeto é também considerar a possibilidade da língua incorporar tais elementos em sua estrutura, em um movimento bilateral de influência.



FICHAMENTO 2 – A VIDA NO ORKUT: NARRATIVAS E APRENDIZAGENS NAS REDES SOCIAIS
SOBRE OS AUTORES:
Vivência do Orkut nos espaços públicos: Tabuleiro Digital
SAMPAIO, Joseilda de Souza - Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2011). Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC/UFBA).
BONILLA, Maria Helena Silveira - Professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da UFBA, Doutorado em Educação pela UFBA – 2002.

A relação de fascínio pelo Orkut: retrato da hipermodernidade líquida, espetacular e narcísica
MEDEIROS, Rosangela de Araujo – mestra em educação e tecnologia digital pela Universidade de São Paulo.

O Orkut e a velhice: comunidades e discursos
BRANDÃO, Maria de Fátima Morais - Mestrado em Educação pela Universidade Luterana do Brasil.
SILVEIRA, Rosa Maria Hessel - Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, 1995.

Corpos ‘gordos’ no Orkut: escritas sobre si e os outros
GARBIN, Elisabete Maria - Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Linha dos Estudos Culturais.
 CAMOZZATO, Viviane Castro - Licenciada em Pedagogia, mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

OBJETIVO
O artigo “Vivência do Orkut nos espaços públicos: Tabuleiro Digital” discute como Orkut é visto pelos profissionais de educação, quando utilizado em espaços públicos e com liberdade para acessar qualquer site, por meio do projeto Tabuleiro Digital realizado na  FACED/UFBA. No artigo intitulado “A relação de fascínio pelo Orkut: retrato da hipermodernidade líquida, espetacular e narcísica” o objetivo é entender o que levaria os adolescentes terem um certo do fascínio pelo site Orkut. Os dois últimos artigos, utilizados para o seminário, “O Orkut e a velhice: comunidades e discursos” e “Corpos ‘gordos’ no Orkut: escritas sobre si e os outros” discutem como os usuários do Orkut se manifestam em comunidades criadas para discussões relativas a velhice e a autoimagem.
ARGUMENTAÇÃO CENTRAL
Os artigos trazem para discussão a questão do acesso à informação, o fascínio pelo Orkut e a questão sobre a imagem de si e do outro nas redes sociais.
O acesso à informação deve ser democrático e livre. O Orkut é uma meio onde se pode, também, adquirir conhecimento, informação e, além do mais, proporciona interação entre as pessoas, que dessa forma, trocam informações e geram conhecimento. Os educadores e a sociedade devem entender as redes sociais como algo que faz parte da contemporaneidade, e assim sendo, parte da vida dos jovens de hoje. Os educadores devem fazer do Orkut e, sobretudo, das redes sociais, instrumento do processo de aprendizagem nas instituições de ensino. O Orkut como um ambiente aberto a discussões, a interação, a criação de grupos, ambiente que permite a exibição da imagem, assim como a criação de outra imagem, atraem jovens e adultos que as autoras classificam como frutos da hipermodernidade líquida, espetacular e narcísica onde o estar, o ter e o ‘a-parecer’ são características marcantes. Neste ambiente aberto e “livre” surgem grupos diversos que discutem temáticas muitas vezes preconceituosas, de incentivo a violência e de formação de um conceito de beleza perigoso. Dessa forma, o Orkut se caracteriza como um ambiente onde podemos encontrar tanto internautas que se agrupam em comunidades para discutir temas benéficos a sociedade ou não.

TÓPICO 1 -  O USO DO ORKUT EM AMBIENTE PÚBLICO
No Brasil o indicie de usuário de internet ainda é baixo. O Tabuleiro Digital, Projeto desenvolvido na FACED/UFBA – Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, segundo as autoras, procura atender uma parcela da população que não tem acesso as tecnologias da informação e comunicação. Com a implantação do projeto, que permite aos alunos da FACED/UFBA e da comunidade, utilizar computadores distribuídos pelos pátios da instituição, os possibilitando acessar os sites que lhes forem mais convenientes como as redes sociais, chats, jogos etc. As coordenadoras do Projeto verificaram que os alunos da FACED/UFBA apresentaram insatisfação ao vê alguns usuários acessando sites de “entretenimento” quando estes desejavam usar o computador para trabalhos acadêmicos e-mails e outros serviços que julgavam mais importantes. As autoras pontuam que devemos entender que estamos em um momento onde as redes sociais devem ser usadas como parceiras no processo de aprendizagem, que se deve utiliza-las para motivar os alunos e que tanto atuais quanto futuros profissionais da educação devem vê-las como instrumento de trabalho e como parte da vida cotidiana de todos nós.
TÓPICO 2  - FASCÍNIO PELO ORKUT
O Orkut é um ambiente que fascina os usuários pelas possibilidades que lhes garante. No Orkut o usuário pode ser alguém que não é, ou seja, tornar-se alguém que gostaria de ser. Para os autores não é Orkut que transforma os usuários, tanto um quanto outro é sujeitos e objeto da cultura atual.
Através de uma pesquisa realizada em 2006 com adolescentes e pré-adolescentes do 2º ciclo do ensino fundamental da periferia de São Paulo, as autoras concluíram que o nosso tempo é retratado pelo: ESTAR – efemeridade das coisas, imediatismo e consumismo; TER – ter mais amigos, significa ser mais popular, ser mais “famoso”; e A- PARECER – construção de um cenário de acordo como o usuário gostaria de aparecer, afinal “ o show é armado para ser visto”(p.154). O Orkut proporciona todas estas coisas que fazem parte do momento em que vivemos.

TÓPICO 3 – VELHICE E AUTOIMAGEM NO ORKUT
O Orkut permite que os usuários criem comunidades com diversas temáticas, que suscitam discussões em todas as esferas. Os velhos no Orkut são vistos como tarados, fofoqueiros, incapazes de exercer funções como dirigir automóveis, usuários de uma linguagem desprezível e invasores do espaço dos jovens – quando se tornam também usuários do Orkut. Esta intolerância com os idosos é apresentada e incentivada nas comunidades do Orkut onde, em contra partida, também se encontram comunidades que valorizam a terceira idade, onde os membros expressam o prazer em dialogar com os idosos e ouvir suas histórias.
A autoimagem é outra discussão levantada dentro das comunidades do Orkut. Como é o caso das meninas que apresentam fascínio pelo corpo magro e utilizam das comunidades para incentivar umas a outras a se manterem sempre mais magras. Há também as comunidades que expressão repúdio as pessoas acima do peso, identificando estas como seres indignos de vida e que deveriam ter vergonha de si mesmo.

CONCLUSÃO
O Orkut (assim como as redes sociais que viriam após ele) é uma realidade na vida cotidiana de todos nós, usuários dele ou não. O que se deve fazer é aceitá-lo como parte da sociedade contemporânea e deve ser utilizado como instrumento na educação dos adolescentes, já que este faz parte de suas vidas e fechar os olhos, para esta realidade, é querer marginalizar estes jovens do que há de atualidade.
As redes sociais podem ser utilizadas para diversas finalidades e são inúmeras as comunidades do Orkut. Nelas teremos diversas discussões umas mais agradáveis para certo grupo outras não. O Orkut, então, seria um espaço onde se produz e circulam discursos, “onde circulam descrições e narrativas produtoras de representações legitimadas como verdades, como senso comum, como discurso corrente e dominante” (p. 186 e 187).