COUTO, Edvaldo Souza; ROCHA, Telma Brito. Identidades contemporâneas a
experimentação de “eus” no Orkut. In COUTO, E. S.; ROCHA, T. B. A vida no
Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2010
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De acordo com seu livro, Couto(2010) traz uma
discurssão sobre o internetês” que parece se afinar com o trecho de
Santaella(2008)que entende as mídias digitais como sendo “um sistema simbólico
multimodal que designa a diversidade de formas de circulação dos enunciados ao
empregar a linguagem verbal, visual e sonora e compor um novo código marcado
pela hibridização e pela multissemiose”, para descrever o fenômeno das
narrativas digitais. Couto(2010) diz que essas narrativas apontam traços de
oralidade; parecendo indicar uma necessidade de restaurar uma conversação face-face.
Podemos pensar que o uso de modificações gráficas (onomatopéias, reprodução da
fala,repetição de letra…)podem ser um recurso de compensação; via hibridização
e multisemiosse na comunicação verbal; diante da ausência de signos, significados
e significantes oriundos da conversação presencial física; com seu repertório
de estímulos, dentre eles os da comunicação não verbal(como os gestos, emoções,
tonalidades vocálicas, toques, sensações…compartilhados)?
De acordo com Couto(2010) o internetês é um
dialeto social, e o conceitua citando Dubois(1978) que é um sistema de signos
usado por um grupo social e em referência a esse grupo. Ele segue dizendo que o
internetês é um dialeto de escrita que reproduz elementos da fala, e que adquire
contornos específicos de região para região do Brasil. De acordo com essa perspectiva
é possível então pensar em uma linguagem da internet, e com expressividade de
fenômeno global? Ou teriamos diversos dialetos sociais no mundo ciberizado?
De acordo com Tadeu R. Bisognin e Maria
José B. Finatto, "(...) o internetês que
exploramos mostrou-se, em primeiro lugar, com um grande conjunto de
alterações de grafia: exibe grande número de abreviaturas,
siglas, neologismos, palavras cifradas, estrangeirismos, desenhos,
ícones, símbolos, até mesmo segmentos que correspondem a um amontoado de
letras." Essa nova "linguagem" prejudica o aprendizado
da língua portuguesa (no caso de brazucas, como nós...) ou pode ser
encarada como o aprendizado de uma nova língua, guardada suas devidas
proporções, como um inglês ou alemão?
Desde que foi criado em 2004 e adaptado ao
português em 2005, o Orkut se tornou a primeira rede social mais popular no
Brasil. E ainda que esteja perdendo a vez para o Facebook, seus números de
acesso ainda são expressivos. Na tentativa de entender o fascínio por esta rede
social entre jovens brasileiros, Medeiros conclui que "não poderia haver
Orkut em outra sociedade, nem adoslescentes fascinados pelo Orkut em outro
tempo". Assim posto, as relações sociais e as práticas discursivas
efetivadas por meio do Orkut amplificam narrativas sobre si e sobre os outros
já dadas em nossa sociedade ou as recriam de tal modo que podemos falar em
novas narrativas? Os atributos de personalidade valorizados e expressos por
meio das definições do perfil e da associação a amigos e/ou comunidades estão
dados de igual maneira no Orkut ou fora dele?
Problematizando os perfis fakes no
Orkut, Couto e Rocha defendem que a grande maioria dos usuários experimenta
outras identidades nesta rede social para demonstrar sentimentos, percepções,
desejos, gostos que poderiam ser ridicularizados e promotores de
constragimentos na vida off-line, mas que são celebrados e festejados na
dinâmica efêmera e plural da internet. Admitindo que o dualismo on-line e
off-line não mais se sustenta e tendo em conta que perfis ainda são excluídos
por violar as políticas e diretrizes de utilização desta rede social, qual o
efeito do politicamente "correto" ou "incorreto" nos usos
que se faz do Orkut e em suas dinâmicas de construção, desconstruçao e
reconstrução dos modos de ser na contemporaneidade?
Bisognin e Finatto (2010) destacm o uso do
"internetês" como característica concernente a redes sociais online
como Orkut. Na medida em que caminhamos no sentido de redes sociais mais
impessoais e menos restritas ao círculo de relações do próprio usuário, como o
Facebook, tenderemos a dar mais espaço para uma linguagem amis próxima da norma
culta?
Sampaio e Bonilla (2010) afirmam que "as novas
formas de ser e estar passam pela articulação em rede, pela colaboração e
processos horizontais que oportunizam o fluxo contínio de comunicação,
aprendizagem, produção de conhecimento e cultura". Em que medida esta
imersão profunda no ambiente online se tornará regra na sociabilidade e
aprendizagem das pessoas? Mais imersão necessariamente significará sempre um
uso 'melhor' do ambiente online?
No artigo de Rosângela de Araujo Medeiros,
o fascínio é abordado enquanto categoria que - ao ”provocar um sentimento de
contentamento e insuficiência” no usuário - estimula este, a dispor de suas
energias para acessar o computador. A partir desta categoria, como pensar as
construções identitárias na redes sociais? Em que medida o fascínio do usuário,
com as redes sociais de internet, com ele mesmo e com os outros, influência as
construções identitárias nestes ambientes? Esta noção de fascínio –
contentamento, insuficiência - não acaba por comparar um usuário de RSIs a um
viciado?
Ainda hoje, pelo menos no Brasil, a maior
parte das medidas governamentais e políticas públicas da educação parecem
acreditar que as tecnologias de comunicação devem se adaptar ao tradicional
método de ensino ao invés de expandi-lo e reconfigurá-lo. Como incentivar a mudança
desta mentalidade na educação brasileira e incentivar que os gestores e
professores invistam em iniciativas de colaboração, criatividade e expressão
trazidas pela internet? Como desenvolver
as estratégias pedagógicas para lidar com este novo tipo de estudante, que
querendo ou não já esta inserido em uma sociedade digital? Projetos como o "Tabuleiro
Digital" apesar de interessantes não são muito restritos e poucos efetivos?
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