NUNN, Heather; BIRESSI, Anita. “A trust
betrayed”: Celebrity and the work of emotion. In : Celebrity Studies. v.
1, n. 1, march 2010. pp 49-64.
NP. David Marshall (2010): The promotion and
presentation of the self: celebrity
as marker of presentational media, Celebrity
Studies, 1:1, 35-48
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De
acordo com Marshall(2010) parece haver uma função pedagógica da celebridade como ferramenta na construção do discurso do self, ensinando
gerações como se engajar e utilizar a cultura de consumo de 'fazer' a si mesmo.
Em uma mesma intuição cientifica, Nunn
& Biressi(2010), citando Sternberg (1998, p. 426) pontuam que o
desvelamento da persona, no trabalho das emoções(Arlie Hochschild, 1979), com
as celebridades podem fazer referência a um reino de significado que os
consumidores encontram evocativo", autêntico e, acima de tudo, conectivo.
Será possível pensar que precisamos de uma plataforma simbólica dos Selfs das
personalidades midiáticas para ancorar, objetivar, representar e autorizar a
manifestação social das nossas necessidades e características dos nossos Selfs;
que estejam não manifestas, barradas, ocultas, impedidas em alguma ordem de
expressão e inclusão social?
De
acordo com os textos de Marshall(2010) e Nunn & Biressi(2010), fazer
uso de uma persona que falha, tem defeitos, com narrativas históricas que denunciam
transgressões e são alicerçadas no emblema do Sofrimento é um traço de capital
social, cujo valor de mercado, representa prazer e identificação para as audências;
e dessa forma consumo. O que nos dá prazer quando se vê o sofrimento do outro;
e que nos faz querer mais?Nós estamos consumindo o sofrimento em si mesmo? Ou,
como na origem latina da palavra sofrimento, estamos exercitando o pathos, que
em sentido distorcido é traduzido como sofrimento(e interpretado como doença),
mas que é fruto da currilínea da palavra passio;
que tem o sentido em atitude de paixão
e estado de sentir: atributo ausente
de uma civilização congelada pela prevalência da racionalidade em seu
desenvolvimento antropológico?
No
artigo, as autoras tratam, entre outros temas, sobre algumas características
colocadas em questionamento na construção da persona celebridade:
autenticidade, sustentabilidade da persona, convencimento desta persona etc. As
autoras mencionam também sobre a terapia da conversa e neste ponto relatam a
experiência de uma série americana da década de 1960 (Face to face). O
quadro ‘O que vi da vida”, do Fantástico, da Rede Globo, é uma terapia da
conversa?
Ainda no
quesito terapia da conversa, as autoras afirmam que “o verdadeiro self foi
colocado como opaco ao seu dono nesta nova imaginação psicológica, e exigiu um
intermediário com as habilidades de alfabetização emocional para escavar para
fora, para descobrir aquele eu interior e capturá-lo em "um conjunto de
entidades observáveis e manipuláveis" (Illouz 2007, p. 33). Esses
intermediários ou experts podiam ser encontrados em ambos os espaços privados e
mediados: a sessão de aconselhamento de relacionamento, a "agonia" coluna
de conselhos e, cada vez mais, o talk show.”. Verdadeiro self? Mas, em se
tratando de celebridade, podemos falar em self verdadeiro? A celebridade, por
si só, já não seria um self não verdadeiro?
David Marshall situa as celebridades enquanto personagens públicas que possuem uma função "pedagógica", no sentido de serem, elas próprias, retratos da sociedade à qual estão inseridas. Em seu texto, trabalha a relação entre o "representacional" e o "presentacional" como constituintes de uma cultura da celebridade em tempos atuais. Neste sentido, as "celebridades da internet" podem servir como ilustrações do movimento inverso ao que o autor aborda, visto que são pessoas desconhecidas e, por alguma eventualidade, se tornam populares através da rede? Os meios massivos podem ser pensados enquanto "legitimadores" de celebridades, no sentido de fornecer credibilidade e maior notoriedade aos Felipes Netos, PCs Siqueiras ou figuras afins?
Logo no
início do texto, o autor toca no binômio celebridade X privacidade. No entanto,
acredito que seja necessário fazer uma distinção: nem toda pessoa que seja
famosa é uma celebridade (cito como exemplo o ator Tony Ramos). Por isto, vem a
minha pergunta: celebridade, cuja persona é construída na exaustão de sua
aparição midiática, tem direito a reivindicar privacidade? Não seria um
contra-censo?
Com o
estouro da internet e com ela a consolidação das redes sociais digitais,
podemos afirmar que a construção das celebridades se banalizou? Lembrando de um
período no qual o cantor Roberto Carlos não podia divulgar que era casado, pois
devia continuar fazendo parte do imaginário coletivo das ‘mocinhas casadouras’
da sua época (até criou-se uma especulação de um suposto ‘affair’ entre ele e
Wanderléia, a eterna Ternurinha), hoje vende-se a imagem do ‘pegador’, da
‘cachorra’ etc.
Uma
das características mais celebradas em análises do uso de redes sociais por
celebridades costuma ser o fato de que tais redes permitem uma maior interação
entre fã-celebridade e uma consequente quebra de distanciamento entre estes
atores em comparação com as mídias de comunicação tradicionais. Entretanto, tal
potencial de interação, em muitos casos, acaba por se tornar um problema na
vida destas celebridades que não sabem utilizar estes canais e não estão
preparadas para o tipo de interação proposta pelo público. A partir disto, de
que forma podemos entender a frustração de celebridades massivas ao adentrar
neste universo? Podemos considerar que
auto –apresentação nestes casos falhou? Nestes ambientes a auto-apresentação
torna-se uma tarefa muito mais complexa? (Por exemplo, o caso de Xuxa com seu
"jeitinho")
Relacionando os textos de Mashall e Nunn e Biressi às contribuições de Debord e Sibilia, trabalhados anteriormente, emerge a questão: a proliferação das celebridades e o mercado que se alimenta das notícias destas "estrelas" podem ser pensados como sintomas nocivos de uma sociedade do espetáculo, como elementos que criam esta configuração social ou, por outro lado, é necessário adotar uma postura otimista com relação a esta sucessão de efemeridades, considerando-as, inclusive, enquanto "pedagógicas"?
Os
perfis fakes de celebridades, que em alguns dos casos agradam mais ao público
dos que os próprios perfis "reais",
acabaram gerando um circuito paralelo de reputação e valoração de
perfis. É interessante notar que muitos
destes perfis fakes, reforçam a celebridade "real" representada, ao
mesmo tempo que fabricam "novas celebridades ": a pessoa real/comum
por traz dos twittes. Por exemplo, o perfil fake de Dilma que é mantido por um
estudante de 22 anos, que ganhou uma premiação internacional de melhor fake da
internet e partir disto passou a dar constantes entrevistas em jornais e
programas de televisão. Como podemos
analisar estas reapropriações de selfs alheios e o surgimento destas
celebridades online?
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