segunda-feira, 21 de maio de 2012

COM 544 - Cronograma de apresentações - Módulo II


PROGRAMAÇÃO DAS AULAS:
Módulo 02
11/05 – Redes Sociais Digitais, espetáculo, exposição e intimidade
         Responsáveis: Thais e Marcel           
Referências Básicas:
·         SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
·         DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997.
Referências Complementares:
·         Obs: no módulo II serão usados como textos complementares materiais publicados em periódicos informativos (jornais, revistas, impressos ou online) acerca dos fenômenos ocorridos e/ou repercutidos no cenário das redes sociais. Diante desta característica, tais textos serão escolhidos e distribuídos com uma semana de antecedência, de modo a permitir a leitura e ao mesmo tempo manter um vínculo entre os textos teóricos e abordagens recentes publicizadas em veículos de comunicação informativos.  

18/05 – Redes Sociais Digitais, memória e esquecimento
            Responsáveis: Flora e Samantha
            Referências Básicas:
·         BELL, Gordon; GEMMELL, Jim. O futuro da memória: total recall. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2010. pp.03-59

·         MAYER-SHONBERGER, Viktor. Delete: the virtue of forgetting in the digital age. Princeton: Princeton University Press, 2009. pp. 16-49; 92-127.


25/05 - Redes Sociais Digitais e novas formas de sociabilidade
            Responsáveis: Gilberto, André e Silvia
Referências Básicas:
·         BAYM, Nancy. Personal conections in the digital age. Cambridge: Polity Press, 2010, 2011. Cap. 1, 2, 4 e 5. 
  • KIRKPATRICK, David. O efeito Facebook: os bastidores da história da empresa que conecta o mundo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011. pp 77-96.

01/06 - Redes Sociais Digitais: o caso Twitter
            Responsáveis: Lise e Roberto
Referência Básica:
·         SANTAELLA, Lucia; LEMOS, Renata. A cognição conectiva do Twitter. São Paulo: Paullus, 2010. Capítulos 5, 6 e 7.  


08/06 - Redes Sociais Digitais e esfera pública: movimentos sociais, ciberativismo e agenda setting
            Responsáveis: Leila e Andrea
Referências Básicas:
·         FENTON, Natalie. New media, old news: journalism and democracy  in the digital age. London: Routledge, 2011.
·         STALDER, Felix. Ciberativismo: Anonymous, a contestação mascarada. Le Monde Diplomatique Brasil, 2012. fev. ano 5, n. 55. pp 34-35.

15/06 - COMPOS - não haverá aula

22/06 - Redes Sociais Digitais e novas formas de narrativas
            Responsáveis: Lorena e Felippe
Referências Básicas:
·         COUTO, Edvaldo Souza; ROCHA, Telma. A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais. Salvador: Edufba, 2010. pp 13-55.
·          CASTRO, Nely Mesquita. Diário – Destino: delete! Piauí, n. 60, set. 2011, ano 5, pp 18-20.

29/06 - Redes Sociais Digitais e marcas: a sedução do consumidor em rede
            Responsáveis: Wladimir e João Pedro
Referências Básicas:
·         VAN PEBORGH, Ernesto. Odissea 2.0: las marcas en los medios sociales. Buenos Aires: La Crujía, 2010.

06/07 – Redes Sociais Digitais, fama e anonimato
            Responsáveis: Fernanda e Pedro
Referências Básicas:
·         MARSHALL, David P. The promotion and presentation  of the self: celebrity as marker of presentational media. In : Celebrity Studies. v. 1, n. 1, march 2010. pp 35-48.

  • NUNN, Heather; BIRESSI, Anita. “A trust betrayed”: Celebrity and the work of emotion. In : Celebrity Studies. v. 1, n. 1, march 2010. pp 49-64.

Questões enviadas pelos alunos relacionadas aos textos


MAYER-SCHÖNBERGER, Viktor. Delete: The virtue of forgetting in the digital age. New Jersey: Princeton University Press, 2009.

BELL, C. Gordon. O futuro da memória: Como essa transformação mudará tudo o que conhecemos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

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Considerando que no futuro todos teriam o seu Lifeblog, avaliando ainda o uso deste projeto em correlação com outras ferramentas como e-mails, sites de buscas, etc, e considerando a riqueza de detalhes e informações acerca de fatos e personagens, proporcionada pela funcionalidade deste suposto sistema, podemos considerar os historiadores como agentes sociais fadados ao desaparecimento?

O mundo com Lifeblog não possibilitaria a “idealização do passado” e eliminaria o “risco” do esquecimento. Com isto, a humanidade estaria afastada de sentimentos de comportamento como a “nostalgia” e “perdão”?

Mayer-Schonberger, no capítulo II contempla brevemente o papel da recordação e a importância do esquecimento ao longo da história da humanidade. Traz o papel da Igreja como controladora dos escritos em parte do primeiro milênio, reservando o acesso à leitura aos membros do clero. A Igreja intermediava o acesso à literatura por meio da palavra dos padres, bispos etc. Contextualizando esta situação com as ideias de Gordon Bell, problematizamos: até que ponto o upload de informações pessoais à nuvem não será uma premissa para um sistema de vigilância e controle? De certo que ele aponta para esta questão, no entanto, seu posicionamento não seria romantizado em demasia ao tratar questões de monitoramento e vigilância?

A ideia da memória como um produto dinâmico, em constante construção, implica em custos cognitivos -sobretudo no tocante à fixação de informações a partir da repetição. A pluralidade de recursos pelas quais a sociedade contemporânea se lifeloga não assumiria uma postura de patologia coletiva devido à (ainda) incapacidade de compreender e organizar as informações coletadas, como aponta, por exemplo, Paula Sibilia? Podemos dizer que somos a última geração de seres humanos com "memória interna"?

Ao compararem a memória biológica com a memória digital ou e-memory, Bell e Gemmell (2010) tendem a supervalorizar a convergência desta - incrivelmente precisa - para auxiliar àquela - subjetiva, fragmentada, distorcida por emoções, filtrada pelo ego, impressionista e mutável. Nesta sociedade que 'tudo vê, tudo sabe e tudo grava' sobre vida dos indivíduos, não poderíamos estar condenando todos a um sistema de constante vigilância e controle social, a exemplo do panóptico? Sabendo que esta mesma sociedade ainda não deixou de lado raízes preconceituosas e julgamentos arbitrários, os indivíduos que cometeram erros no passado estariam condenados para sempre a uma vida de sobressaltos e marginalização?

Mesmo reconhecendo o papel da lembrança para nos ajudar a lidar com a vida cotidiana, Mayer-Schönberger (2009) não considera o esquecimento sob a ótica da limitação, mas como algo fundamental para a experiência humana. Seu texto sugere utilidade numa eventual filtragem de informações e 'limpeza' do cérebro humano para nos ajudar a raciocinar de forma rápida e econômica ('lembrar-se de tudo não é útil o tempo todo'). Sendo assim, não poderíamos relativizar a ideia dos 'info-ricos', de que 'ter informações é ter poder', sobretudo na dependência do uso que podemos fazer delas? Em outras palavras, importa a quantidade ou a precisão - o quanto essas informações atendem as necessidades dos indivíduos, empresas ou Estados?

Gordon Bell defende o lado positivo memória integral, destacando  como os dados podem ser armazenados,  e contextualizados. De que forma esta possibilidade de arquivamento de dados pode reconfigurar a produção jornalística para além do presente? A contextualização ganhará mais imporância no processo de construção da notícia?

Com base nas leituras, o autor Viktor Mayer-Schonberger afirma que “a linguagem também alterou a noção de tempo: se as informações do passado podem ser transmitidas para o futuro, estes dois tempos se encontram, se conectam”. Lembrei-me de uma série americana na qual o protagonista recebia sempre na porta da sua casa um jornal cuja edição era do dia seguinte, ou seja, a edição trazia ‘notícias do futuro’. Neste caso, a personagem estava a todo instante ‘medindo’ as suas ações e das pessoas envolvidas em determinado fato tendo como base a ‘notícia antecipada’. Ou seja, os fatores esquecimento versus lembranças estavam a todo tempo em cheque. O referido autor afirma ainda que o que é compartilhado, mas não é compreendido, não tem utilidade. Será que toda a informação que agora guardamos na nossa e-memory é efetivamente útil? É compreendida? Todas as pessoas que têm acesso às nossas ‘memórias’ são receptoras planejadas? Com a possibilidade de seguir, juntar e formar os nossos rastros digitais, podemos ainda falar em ‘receptor planejado’?

Em determinado ponto do texto, o autor Gordon Bell afirma que “a e-memory dará novo sentido à vida de todos que a usaram. Ela não eliminará a capacidade de autoilusão da natureza humana, mas certamente tornará a verdade do que fizemos e do aconteceu à nossa volta mais disponível, mais clara e menos obscurecida por um faz de conta nostálgico. [...] A ampliação do autoinsight, a capacidade de reviver a própria história de vida em detalhes proustianos, a liberdade de memorizar menos e de pensar mais criativamente e até mesmo um gostinho de imortalidade terrena em conseqüência da “ciberização” (registro de todos os elementos de vida de uma pessoa) – todos esses são fenômenos psicológicos potencialmente transformacionais.”. Quetionei-me: de que forma a e-memory ‘auxilia’ o repórter no seu fazer jornalístico, uma vez que a atividade pressupõe o registro da ‘verdade’ do fato, mas tendo como base a declaração de uma fonte, seja ela pessoa, banco de dados, organização etc?


A partir de uma visão um tanto determinista e supervalorizada dos possíveis usos da memória integral, Gordon Bell discorre sobre os benefícios de se adotar a prática do lifelogging. O autor explica que a chamada "geração Y", acostumada a disseminar informações de si na internet, faz uma diferenciação muito menor entre a vida pública e particular, se comparada à geração anterior. A seguinte afirmação do autor nos inquietou: "Talvez eu seja um tanto antiquado, mas a mim parece bobagem publicar um excesso de coisas, especialmente para um público de desconhecidos. O risco é grande demais e os benefícios são poucos. Meu lifelogging é pessoal e privado." Nesse sentido, problematizamos: em tempos de cloud computing, em que as informações ficam armazenadas não apenas nos dispositivos do usuário, mas na suposta nuvem de informações, em que medida é possível garantir que os registros ali armazenados são pessoais e privados? E mais: o que o autor considerada como logs privados, efetivamente? Esses conceitos não mereceriam uma maior atenção, a partir da discussão da memória integral?

Bell afirma que, a partir do registro digital completo da vida do indivíduo, "será possível gerar uma cópia virtual de cada pessoa" e que "suas memórias digitais poderão ser investidas no papel de um avatar (uma persona sintetizada) com o qual futuras gerações poderão conversar e passar a conhecer". E completa: "Seu eu digital estará disponível para influenciar vidas no futuro, permitindo que você provoque impacto em futuras gerações". Caso todas as previsões de Gordon Bell concretizem-se, então será adequado considerar a memória integral como uma espécie de ferramenta de gerenciamento de impressões maximizada e capaz de fazer o indivíduo pensar na repercussão das suas ações num período de tempo que se prolonga para além da sua existência - agora, infinita - , como imagina o autor?

Viktor Mayer-Schönberger relete sobre como o esquecimento tem se tornado caro e difícil, enquanto a memória, cada vez mais fácil e barata.  De que forma este novo cenário reconfigura o conceito de ética jornalística? Os jornalistas deverão se cercar de ainda mais cuidados na exposição de suspeitos de crimes, por exemplo, já que as notícias se mostram marcas indeléveis?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Questões enviadas pelos alunos relacionadas ao texto

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008 (p. 01 – 27, 29-52, 267-276).


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Podemos pensar a ambiência virtual como um arcabouço, uma justa arquitetura como ferramenta de potencialização para a objetivização do invísivel do espetáculo, vir a se tornar vísivel na sociedade espetacular ?

O movimento de ativismo digital (mobilização on line tipo Kickstart, Catarse, TED…) pode ser pensado como uma contracultura do espetacular(hackear ‘o sistema); no sentido de promover o diálogo, de protagonismo social, em um retorno à busca de sentidos de si em um re-enlçamento social na direção de um projeto e inteligência coletiva. Esse comportamentos virtuais não estariam para além do consumo viciante de self’s mercadologicamente disciplinados na visibilidade pelo outro; fruto de relações efemeras e fragéis(anomia), numa obsolescência identitária do parecer na sociedade espetacular?

Do texto ‘O show do eu’ de Paula Sibilia, infere-se que nos dias de hoje para ser alguém é preciso ser visto. A autora afirma que “em meio aos vertiginosos processos de globalização dos mercados em uma sociedade altamente midiatizada, fascinada pela incitação à visibilidade e pelo império das celebridades, percebe-se um deslocamento daquela subjetividade ‘interiorizada’ em direção a (...) construções de si orientadas para o olhar alheio ou ‘exteriorizadas’” (p. 23). Sendo assim, na atualidade importa sobretudo que os outros nos vejam, para o bem ou para o mal? Ou importa o modo como nos apresentamos para os outros? Qual tem sido a respostacomum a essa nova demanda diante das milhares de ferramentas atualmente disponíveis para a exibição da intimidade?

Em sua teoria crítica, Guy Debord afirma que o espetáculo, considerado sob o aspecto dos meios de comunicação de massa, está longe da neutralidade. Considerado hoje sob o aspecto das mídias interativas que evocam a cultura da participação/colaboração, poderíamos supor que os mecanismos de manutenção desta ‘sociedade do espetáculo’ se sofisticam uma vez que se complexificam as relações de poder e as dinâmicas sociais? Tomando as recentes declarações das ‘celebridades’ brasileiras Sabrina Sato e Marco Luque sobre as estratégias engendradas para promover determinadas marcas ou produtos no Twitter - convidados do 5º MediaOn, eles contam como se tornaram veículos de ‘si próprios’, chegando a ganhar R$15 mil por tweet patrocinado – em que medida as novas estratégias do mercado publicitário ainda encontram base na ideia de ‘consumidores reais como consumidores de ilusões’? Até que ponto o público em rede tem clareza sobre essa aparente
espontaneidade das 'celebridades' e/ou consome o fato, mensagem, marca, produto?

No tópico 12, do primeiro capítulo de “A Sociedade do Espetáculo”, Debord fala sobre a inacessibilidade do espetáculo. Ainda neste mesmo tópico, é citada a mensagem do espetáculo, como a frase síntese de que nele “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. A título de observação das afirmações acima, no ambiente das CMC, mais precisamente das chamadas mídias sociais, podemos correlaciona-las a duas características antes mencionadas. A primeira revela a noção de que no ambiente das mídias sociais “todos podem ser famosos para quinze pessoas”. E a segunda, é a possibilidade que o usuário de plataformas como o Twitter tem de interagir de algum modo (sejam re-twitter ou @reply) com as “celebridades” dos agora chamados “tradicionais veículos massivos”. Diante destas características, seria possível afirmar que as mídias sociais tem criado a falsa noção de que o espetáculo é acessível? Ou de fato, elas potencializaram o acesso ao espetáculo?
Paula Sibilia lembra que “Se persistirem as condições atuais (e por que não haveriam de persistir?), dois terços da população mundial nunca terão acesso à internet”. No mesmo texto é apontada as modificações que a “vida online” tem propiciado na representação do “eu”. Diante da diferenciação entre os habitantes de dois mundos, um “online” e outro “offline”, pode-se inferir que o futuro da humanidade (talvez nem tão distante assim) reserva a formação de dois tipos principais de “eu”?

No livro de Guy Debord podemos observar que apesar de todo o pessimismo do autor em relação a sociedade espetacularizada, ainda assim, ele parecia acreditar na existência de uma saída para aquela situação, no caso, as transformações dos anos 60.  Levando em conta o panorama apresentado por Sibila é possível vislumbrarmos uma saída/fuga deste processo de espetacularização da intimidade?

Desde o inicio da disciplina tenho pensando muito nesses processo de auto-apresentação e  gerenciamento de impressões sob o ponto de vista da pessoa que gerencia, da que quer passar determinada imagem. Mas se pensarmos nesta espetacularização do eu, do ponto de vista de quem consome a intimidade alheia, já que este é sempre um processo de troca, o que estaria por traz desta motivação de acompanhar com tanto afinco o “show da vida dos outros”?

“Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser...”Com isso a representação do que sou se torna mais importante do que eu realmente sou?

O que nos levaria a dar mais importância a aparência do outro do que  o que ele realmente é, já que preferimos “a representação à realidade, a aparência ao ser”?

A afirmação de Debord de que “a realidade surge no espetáculo, e o espetáculo no real” parece se encaixar perfeitamente no modelo atual de exploração midiática da violência         . A audiência crescente de formatos televisivos que expõem ao máximo a violência (não somente programas jornalísticos, mas séries, telenovelas, etc) demonstram o gosto que o publico parece nutrir pelo medo, a insegurança e o horror. Mas, partindo-se também da reflexão de Debord, esta não seria a “chave” para explicar o crescimento da violência na sociedade?

O Marketing vem explorando amplamente a internet como espaço midiático e de consumação de negócios. Como arqumenta a autora Paula Sibilia, “a capacidade de criação é sistematicamente capturada pelos tentáculos do mercado, que atiçam como nunca essas forças vitais e, ao mesmo tempo, não cessam de transformá-las em mercadorias”. Neste sentido, não podemos inferir que a valorização do “eu”, na verdade, não se trata de uma mera estratégia para lucrar com a imagem alheia e com a suposta sensação de visibilidade e fama que as pessoas desejam alcançar?

Guy Debord defende que a vida humana se consuma como simples aparência e que o espetáculo tem na sua essência que "o que aparece é bom, o que é bom aparece". Estas características se refletem no atual cenário de produção jornalística em que a imagem se sobrepõe sobre o conteúdo e o os critérios de noticiabilidade são sobrepostos pelo que está sob os holofotes. De que forma é possível superar o jornalismo "espetaculista" que gera divisas financeiras para a "economia reinante" e resgatar a centralidade de temas concernentes à democracia e aos negócios públicos? Haverá o jornalismo sério de espetacularizar-se, moldando-se ao fomato em que predomina a aparência e ganhando contornos de entretenimento?

Paula Sibilia analisa a intimidade como parte preponderante do espetáculo da sociedade contemporânea. A exposição desta intimidade, seguido o preceito da irresistibilidade de espiar pela fechadura, se transpõe para o jornalismo como forma de fisgar leitores. Os principais portais jornalísticos barsilieros, incluindo os vinculados a jornais seculares e revistas tradicionais, tem potencializado a vinculação de conteúdo atrelado a vida privada de anônimos e famosos como forma de catapultar a audiência e o número de page-views. Como sobrepor esta ordem da multiplicação do conteúdo jornalístico irrelevante e ao mesmo tempo se manter economicamente pujante e rentável? O jornalismo online autossustentável tem que necessariamente passar pela potencialização, uma quase que dominação da não-notícia?

 "Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser..." De acordo com o recorte do texto, extraído de "A Sociedade do Espetáculo", de Guy Debord, figuras como a "estudante universitária do vestidinho colado e rosa" que não lembro o nome por causa da minha memória (muito) seletiva, bem como todos os tipos de mulheres-frutas, para ficar só em poucos exemplos, recebem atenção da mídia porque as pessoas se interessam mais por esse tipo de assunto, ou, as pessoas se interessam mais por esses assuntos porque a mídia dá mais atenção a isso?

"Quando mais a vida cotidiana é ficcionalizada e estetizada com recursos midiáticos, mais avidamente se procura uma experiência autêntica, verdadeira, não encenada. Busca-se o realmente real - ou, pelo menos, algo que assim pareça. Uma das manifestações dessa fome de veracidade na cultura contemporânea é o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia." Segundo o trecho do texto "O show do eu: A intimidade como espetáculo", de Paula Sibilia, estamos condenados a assistir reality-shows pasteurizados (como os intermináveis BBBs), pelo resto da vida? Ou, com a chegada da internet, outros modelos de experiências, mais segmentadas e menos fúteis, podem aparecer e fazer frente a esses deprimentes programas?

As ondas de vandalismo ocorridos em 2011 na Inglaterra, organizadas espontaneamente por pessoas através de SMS configuram, à luz das críticas feitas por Guy Debord, um rompimento abrupto à sociedade do espetáculo ou, por outro lado, esta configuração social abarca também atitudes desviantes, por mais radicais que sejam?

Relacionando a ideia da humanidade inserida em um estado de nova barbárie (apresentada por Sibilia, na p. 41) com a utilização da web para finalidades "úteis" (petições públicas em prol de causas benéficas à sociedade, por exemplo), emerge a questão: a rede não dispõe de ferramentas que "compensariam" seus pontos negativos? A própria falência do narrador (à Benjamin) não encontra, no ambiente digital, roupagens que fujam a uma classificação exclusivamente pejorativa?

Fichamento - O show do Eu



SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008 (p. 01 – 27, 29-52, 267-276).

Sobre a autora:
Paula Sibilia é doutora em Comunicação e Cultura (ECO-UFRJ) e em Saúde Coletiva (IMS-UERJ), mestre em Comunicação (UFF) e graduada em Comunicação e em Antropologia (Universidade de Buenos Aires – UBA). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal Fluminense - UFF, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e no Departamento de Estudos Culturais e Mídia. Suas pesquisas versam sobre subjetividade contemporânea, corpo humano, tecnologias digitais, imagens e práticas corporais (temas culturais contemporâneos, em geral). Paula Sibilia é autora dos seguintes livros: O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais (2002) e O show do eu: A intimidade como espetáculo (2008).

EU, EU, EU… VOCÊ E TODOS NÓS
Por: Thais Miranda

Objetivos do capítulo
O show do eu: a intimidade como espetáculo é uma obra que reflete sobre a forma com que a sociedade contemporânea legitima a cultura de observação do outro e da exposição de si, delineando tendências que se perfilam na sociedade ocidental e globalizada, com ancoragem especial no contexto latino-americano e mais particularmente naqueles que usufruem do acesso privilegiado de bens culturais e do ciberespaço. No primeiro capítulo, intitulado “Eu, eu, eu... você e todos nós”, a autora discorre, ensaisticamente, sobre a exibição da intimidade na internet.

Argumentação Central
Paula Sibilia inicia o capítulo explicando que Nietzsche fora diagnosticado, pelos seus contemporâneos, como megalomaníaco e excêntrico, pelas questões que abordava em sua autobiografia – que, visava, na verdade, responder à tradicional questão: “quem sou eu?”. Nesse ponto, o que importa para Sibilia é introduzir as noções de megalomania e excentricidade, ressaltando que tais categorizações já não são mais entendidas como desvios patológicos, como o foram no início do século XXI. 
A autora justifica tal posição explicando que, atualmente, nesta sociedade que cultiva o “ser diferente” e o “querer sempre mais”, as dores e também as delícias de ser quem se é, passam por transformações. Neste sentido, Sibilia aponta como emblemático o fato da Revista Time, em 2006, eleger “você” – nós, pessoas comuns -, como personalidade do ano. Os motivos que levaram a tal escolha, afirma Sibilia, foi o fato de que somos “nós” (pessoas comuns) e não ”eles” (grande mídia tradicional) que estamos transformando a era da informação, a partir do aumento da participação de produção de conteúdo das pessoas comuns, na internet. Teria chegado, assim, a “hora dos amadores”.

Sibilia destaca algumas de suas inquietações: Como interpretar tais novidades? Será que estamos sofrendo um surto de megalomania consentida e estimulada? Ou, ao contrário, nosso planeta foi tomado por uma repentina onda de humildade? O que implica esse súbito resgate do pequeno e do ordinário, do cotidiano e das pessoas comuns? O que significa essa repentina exaltação do banal, essa espécie de reconforto na constatação da mediocridade própria e alheia?  

Na sequência, é destacada a explosão da produtividade e inovação como algo já suficientemente comemorado, a partir do advento das redes digitais. A problemática do texto, a partir daí, concentra-se em argumentos menos deslumbrados, como por exemplo, a capacidade de criação ser sistematicamente capturada pelo mercado, desativando o potencial de invenção e transformando criatividade em mercadoria. Do outro lado desta explosão de criatividade vincula-se também uma democratização dos canais midiáticos, constituindo uma aparente contradição. Sibilia explica: Se por um lado, os novos recursos abrem uma infinidade de possibilidades impensáveis – para a invenção humana e para contatos -, por outro desencadeiam uma enorme eficácia na instrumentalização dessas forças vitais, rapidamente capitalizadas a serviço do mercado. Mais à frente, a autora cita uma série de exemplos, que reforçam a ideia de dispositivos de poder que entram em cena, capturando vestígios de criatividade bem-sucedida (YouTube, Claro Video-Maker, Facebook, blogueira LolaCopacabana, dentre outros).

Mais questões aparecem: Estaríamos diante de uma vontade de potência e impotência, ao mesmo tempo? Megalomania e despretensão? Qual a relação deste “eu/você” atual com aquele “alguém” que Nietzsche incitava ao risco, a se perder para se encontrar? Segundo Sibilia, uma resposta possível estaria no surgimento dos meios de comunicação de massa baseados em tecnologias eletrônicas e no fato destes não se enquadrarem no esquema clássico dos sistemas de broadcast.

A autora avança afirmando que é no seio do chamado ciberespaço que germinam novas práticas, advindas da comunicação mediada por computador. Numa rápida retrospectiva, Sibilia destaca: correio eletrônico, chats, redes de sociabilidade, diários íntimos (ou éxtimos) - tais como os blogs, fotologs e videologs -, as webcams, sites que permitem exposição e trocas de vídeos caseiros, fóruns, grupos de notícias e por fim, os “mundos virtuais” (Second Life). A todos os elementos citados, é atribuído o nome de “revolução da web 2.0”, que transformou os indivíduos comuns em personalidades do momento. Neste contexto, os usuários passam a ser co-desenvolvedores e combina o slogan “faça você mesmo” com o “mostre-se como for”, influenciando, inclusive, os meios de comunicação tradicionais.

A partir de um paralelo entre as semelhanças das práticas digitais às antigas práticas (cartas e e-mail, por exemplo), Sibilia explica que as diferenças e particularidades também existem. A estudiosa propõe que estamos vivenciando uma época limítrofe, uma passagem de um projeto de poder para um outro projeto político, sociocultural e econômico. Nesse sentido, transformam-se também, claro, as formas de ser e estar no mundo, particularmente na conformação do corpo e das subjetividades. Entendendo a subjetividade como modos de ser e estar no mundo, distante de qualquer essência fixa que remete o ser humano como uma entidade a-histórica, Sibilia explica que quando ocorrem mudanças nessas possibilidades de interação, o campo da experiência subjetiva também se altera.

No novo regime que se configura, apoiado nas tecnologias digitais, descrito há mais de duas décadas por Delleuze, combina, por um lado, uma convocação informal e espontânea aos usuários para partilhar suas invenções e por outro lado, as formalidades do pagamento em dinheiro por parte das grandes empresas. Nesse contexto, destacam-se algumas novidades, como explica Sibilia: (1) behavioral target, ou seja, o envio da publicidade em função do comportamento do usuário; (2) sistema de monitoramento, desenvolvido pelo Facebook, das transações comerciais realizadas pelos usuários; (3) transformação de autores de blogs em protagonistas ativos de campanhas publicitárias, a exmplo do caso das sandálias Melissa.

Outro ponto que merece destaque é a explicação de Sibilia sobre a transformação da ideia de “celebridade”, entendida por Foucault como uma classificação reservada para uns poucos, aos quais era designada a valorização da vida em privacidade. Já no século XXI, as personalidades são convocadas a se mostrarem, problematizando, assim, os conceitos de público e privado. Complementando essa ideia, a autora ressalta o deslocamento da subjetividade interiorizada em direção a outras formas em construção. Sociedade líquida, cultura somática, eu epidérmico e flexível e personalidades alterdirigidas são termos que Sibilia retoma, para afirmar que o atual uso das redes sociais digitais são estratégias usadas pelos sujeitos contemporâneos, no intuito de responder a essas novas demandas socioculturais, construindo, assim, novas formas de ser e estar no mundo.

Por fim, na conclusão deste capítulo, Paula Sibilia afirma que a internet tem contribuído para a resposta da pergunta inicial - como alguém se torna o que é? -, ao suscitar diversas práticas confessionais, através de ferramentas online, usadas para expor, publicamente, a intimidade das pessoas comuns. De acordo com a autora, a internet é um grande laboratório, um terreno fértil para inovadoras maneiras de ser e estar no mundo, para a experimentação de novas subjetividades, ou finalmente, para a apresentação de cenários adequados para a montagem de um espetáculo: o show do eu.

EU NARRADOR E A VIDA COMO RELATO
Por: Thais Miranda

Objetivos do capítulo
No segundo capítulo do mesmo livro, intitulado “Eu Narrador e a vida como relato”, Paula Sibilia busca responder às seguintes questões: As novas formas de expressão e comunicação que hoje proliferam devem ser consideradas vidas ou obras? Todas essas cenas de vidas privadas que agitam a tela dos computadores, mostram a vida de seus autores ou são obras de artes produzidas pelos novos artistas da era digital? É possível que sejam, ao mesmo tempo, vidas e obras? Ou se trata de algo completamente novo? Todas as inquietações da autora atendem ao objetivo maior de compreender o fenômeno contemporâneo de exibição da intimidade. 

Argumentação Central
A autora inicia o capítulo explicando que uma consideração usual, ao se analisar estranhos e novos costumes é o de afirmar que os sujeitos ali envolvidos mentem ao narrar suas vidas na web. A partir da possibilidade do anonimato e outros recursos, os usuários montariam espetáculos de si mesmos para exibir uma intimidade inventada, pautada em testemunhos falsos. Sibilia questiona se todas essas palavras e imagens não são retratos fieis de uma realidade nua e crua, ou por outro lado, se expõem um personagem fictício. Ou ainda: são obras produzidas por artistas que encarnam um novo gênero de ficção ou se trata de documentos verídicos acerca de vidas reais de pessoas comuns?

A discussão do capítulo continua a partir de uma dúvida posta: pertenceriam essas novas práticas aos gêneros autobiográficos? Ou seriam narrativas de ficção? A partir de uma definição de obras autobiográficas proposta pelo crítico literário Philippe Lejeune (1975), Sibilia acredita que os usos confessionais da internet parecem, num primeiro momento, se enquadrar como manifestações renovadas dos velhos gêneros autobriográficos, em que se pressupõe uma coincidência das identidades do autor, narrador e protagonista. Entretanto, a pesquisadora também considera tais narrativas como um tipo muito especial de ficção, já que apesar da sua contundente auto-evidência, é sempre frágil o estatuto do eu.

A autora segue discorrendo sobre questões que gravitam em torno da linguagem e sua importância da organização do fluir da experiência individual. De acordo com ela, as escritas de si constituem objetos privilegiados quando se trata de compreender a constituição do sujeito na linguagem e a estruturação da própria vida como um relato. Ressalta-se a expansão das narrativas biográficas, uma intensa fome de realidade e um apetite pelo consumo de vidas alheias e reais. A não-ficção floresce, nesse cenário.

Sobre os relatos biográficos que hoje proliferam, a autora enfatiza que o foco foi desviado de figuras ilustres, para se debruçar sobre pessoas comuns. Isso não significa o abandono daquilo que toda figura ilustre tem de comum. Ou seja, há um deslocamento em relação a intimidade, uma curiosidade crescente por aqueles âmbitos da existência que costumavam ser considerados como privados. Sibilia provoca: O que resta da velha ideia de intimidade? O que significa público e privado, nesse contexto? Segundo a autora, desmancham-se as fronteiras que separavam ambos os espaços, desafiando as velhas categorias e demandando novas interpretações.

Mais adiante, Sibilia apresenta dados sobre o consumo de TV no Brasil e no mundo, como forma de fomentar uma discussão sobre outras fontes de inspiração para a criação do eu, em detrimento da leitura de ficções, por exemplo. O ponto aqui é mostrar que os novos artefatos tecnológicos – cada vez mais usados para ler, escrever e se relacionar – influenciam a forma com que pensamos e nos comunicamos. Os textos eletrônicos e todas as suas possibilidades instauram novos hábitos e novas práticas, tanto para autores, quanto para leitores. Nesse sentido, Sibilia mostra que as cartas e os diários íntimos que circulam na internet ainda guardam uma certa aura sagrada, já que os acontecimentos neles relatados, apesar da etérea virtualidade dos dados eletrônicos, são tidos como verdadeiros – isso porque se supõe que são experiências íntimas de um indivíduo real.  

Em relação aos aspectos objetivos dos textos eletrônicos – textos, sons e imagens -, a pesquisadora afirma que nos novos espaços da internet, se cultivam fortes marcas de oralidade. Convém destacar a informalidade, brevidade, bem como a pouca diversidade de vocabulários desses textos. Além disso, há um vasto uso de abreviaturas, siglas, acrônimos e emoticons. A autora faz referência a Guy Debord (1967), lembrando sua citação famosa, embora aparentemente paradoxal, no nosso contexto: “A arte da conversação está morta e logo estarão mortos quase todos os que sabem falar”. A interpretação de Sibilia é que talvez Debord estivesse se referindo à morte da conversação num momento histórico específico – o dele -, em que o diálogo era o oposto do espetáculo, em que a conversação se dava em ambientes privados e sem a necessidade quase imperativa da publicização. A autora pontua que mais do que um conjunto de imagens, o espetáculo se transformou em nosso modo de vida e em nossa visão de mundo e na maneira com que nos relacionamos.

Outro argumento interessante é que nesse novo contexto, além de mais interativos, os sujeitos estão se tornando mais visuais do que verbais. Nesse cenário, a lógica da visibilidade e o mercado das aparências desempenham papeis primordiais na construção de si e da própria vida como um relato – um grau de espetacularização da vida cotidiana que nem o Debord pudesse imaginar.

A intimidade cotidiana tornou-se habitual, diz Sibilia, e nossas narrativas vitais ganham contornos audiovisuais. Os gestos e atos mais aparentemente insignificantes revelam parentesco com as cenas de videoclipes e das publicidades. Valorizamos a nossa vida em função da sua capacidade de se tornar, de fato, um verdadeiro filme – e em certas ocasiões se convertem nesses pequenos filmes, lançados ao mundo nas vitrines virtuais do youtube ou de uma webcam.

Na conclusão deste capítulo, a autora ressalta que o eu não se apresenta apenas como um narrador de sua própria vida, mesmo que seja trilhada epopéia do homem comum ou do anti-heroi. Enfim, daquele qualquer encarnado naquele você capaz de se converter na personalidade do momento, sempre num personagem que tende a atuar como se estivesse sempre diante de uma câmera, disposto a se exibir em qualquer tela – mesmo que seja nos palcos da vida real. Sibilia nos mostra que as atuais narrativas autobiográficas digitais transformam também a subjetividade que se constrói nesses gêneros. Muda precisamente aquele eu que narra, assina e protagoniza os relatos de si. Muda o narrador, muda o autor, muda o personagem, priorizando, entretanto, não tanto o narrador, mas a do seu protagonista.  

Por fim, Sibilia retoma as reflexões iniciais, questionando: haveria uma espécie de falsidade, uma falta de autenticidade nas construções subjetivas contemporâneas? Teria se generalizado o uso de máscaras que ocultam alguma verdade fundamental? Ou, ao contrário, será que essa multiplicação de auto-ficções estaria indicando o advento de uma subjetividade plástica e mutante, liberada enfim das tiranias da identidade? Essa saturação do eu e você anunciaria, de maneira paradoxal, a definitiva extinção daquele velho eu sempre unificador e estável? Ou tratar-se-ia de um paroxismo de identidades efêmeras produzidas em série, todas tão autênticas quanto falsas, porém visíveis? Claro que a pesquisadora não responde a tais perguntas, explicando que todas elas são complexas demais e alerta que o capitulo seguinte buscará um resgate histórico, a fim de contextualizar tais problemas.   

EU ESPETACULAR E A GESTÃO DE SI COMO UMA MARCA
Por: Thais Miranda

Objetivos do capítulo
O último capítulo do livro O show do eu: a intimidade como espetáculo visa mostrar que o fenômeno analisado ao longo de toda a obra é estritamente contemporâneo e, portanto, tem uma relação direta com o que nós somos. A análise da autora, em suas próprias palavras, pode revelar como nos tornamos o que somos e em que estamos nos convertendo, além de incitar o pensamento sobre o que gostaríamos de nos tornar.

Argumentação Central
Como em toda conclusão ou capítulo de encerramento, a autora retoma discussões abordadas ao longo do livro. Neste caso, em especial, Sibilia aprofunda algumas reflexões a partir da obra e principais argumentos de Guy Debord (A Sociedade do Espetáculo, 1967). Inicialmente, a autora pontua que Debord deixa de registrar que vários elementos desse modo de vida construído na visibilidade já estavam presentes no final do séc. XIX, assim como também apareciam as primeiras euforias de consumo, publicidade, meios de comunicação e a produção de uma felicidade visível. Sibilia afirma, entretanto, que fenômenos de exibição da intimidade que são tão habituais entre nós não teriam sido possíveis naquele quadro proposto por Debord, porque ali imperava uma rígida separação entre os âmbitos público e privado. As subjetividades modernas se arquitetavam no trânsito da fronteira entre um ambiente e outro.

Também num retorno a Debord, a autora ressalta que suas reflexões foram extremante valiosas, com destaque para (1) as relações que se mercantilizam ao ser mediadas por imagens; (2) passagem do ser para o ter e deste para o parecer; (3) deslizamentos que acompanham a ascensão de um tipo de subjetividade cada vez mais espetacularizada; (4) triunfo de um modo de vida baseado nas aparências e (5) a transformação de tudo em mercadorias. A autora vai além e diz que surpreende constatar até que ponto nosso presente foi além da consumação de todas essas tendências, vislumbradas na década de 60. Ao contar sobre o suicídio de Guy Debord, a autora considera o posterior lançamento dos seus filmes e obras, antes proibidos de exibição pelo próprio cineasta, como uma irônica transformação dele num personagem e numa conseqüente mercadoria, à serviço da sociedade do espetáculo.

Em seguida, a pesquisadora conclui que os meios de comunicação interativos estão cumprindo a antiga promessa que nem a TV nem o cinema puderam cumprir – o youtube convida: broadcast yourself! Sibilia cita André Lemos: “A vida privada, revelada pelas webcams e pelos diários pessoais, é transformada em um espetáculo para olhos curiosos e este espetáculo é a vida vivida na sua banalidade radical”. A autora segue o texto adentrando outra discussão, ao mostrar que essa tranqüilidade conformista que aplaude a banalidade da vida cotidiana faz parte de um projeto político existente inclusive, em outros momentos históricos. Ela sugere que tudo isso talvez decorra da extinção dos grandes relatos que davam sentido a vida moderna, tanto indivual quanto coletivamente. Configura-se, pois, um cenário em que uma multidão vocifera, mas que pode não ter nada a dizer. Uma multiplicação de vozes que nada dizem.


Sibilia explica que por um lado, parece haver uma libertação, um abandono do peso das tradições, dessa obrigação de ser para sempre um eu que foi se engendrando ao longo de toda uma vida. Por outro lado, algo se fragiliza ao se extraviarem essas referências e ao se desvanecerem alicerces que sustentavam a subjetividade moderna. O temor de Sibilia é que o ineditismo dessa libertação das subjetividades pode cair nas mãos do mercado, transformando-se assim, em produtos. Por fim, a autora pondera que talvez a verdadeira megalomania e a maior das excentricidades contemporâneas devam encontrar seu caminho nessa resistência aparentemente humilde às tiranias da exposição, que tudo transformam em espetáculo. Em uma sigilosa busca da riqueza que pode haver no indizível e no imostrável e talvez também em outras formas de criação que consigam burlar os imperativos do comunicável e do vendável. O que nós faremos com isso é que fará toda a diferença, no final das contas.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Questões enviadas pelos alunos relacionadas aos textos


O’HARA, Kieron; TUFFIELD, Mischa M.; SHADBOLT, Nigel. Lifelogging: Privacy and empowerment with Memories for Life. Identity in the Information Society, v.1, n. 1 2008 (p.155- 172).

D’AQUIN, Mathieu; ELAHI, Salman; MOTTA, Enrico. Personal Monitoring of Web Information Exchange: Toward Web Lifelogging. Web Science Conf. 2010, Raleigh, USA, 2010 (p. 1 - 7).

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Mesmo que existam ferramentas para controlar o fluxo de informações de um usuário(para dar-lhes a capacidade de acompanhar, memorizar e controlar a sua troca de informações), e gerenciar suas impressões; ainda há a pergunta para quê isso é necessário? Para quê é preciso controlar tanto o comportamento online e organizar as impressões com tal sorte de investimento pessoal? Qualquer resposta como proteção, privacidade, gratificações, ordens de sentido e pertencimento....enfim, qualquer representação de capital social é importante, mas também não se remete ao avesso, mantêm a lógica do sistema e cria iatrogênia, mesmo em relações face-face?

Segundo os textos, podemos ter uma caixa preta ‘da vida Web do usuário’( d’Aquin Elahi & Motta, 2010) - ou para uso pessoal, ou organizações de toda ordem, para monitoramento pessoal, gestão de informação pessoal ou privacidade – e ao mesmo tempo, será que é possível pensar em gerenciamento e privacidade no ambientes virtuais, quando pensamos na problematização do lifelogging (O’hara, Tuffield, Shadbold, 2008)?

Analisando a problemática sobre o conceito de publico X privado nas redes sociais e a explosão do volume de informações que circulam nestas novas mídias de relacionamento, a ideia de privacidade parece perder terreno, uma vez que ao ingressar numa rede social, o indivíduo assume um acordo tácito de exposição de sua vida pessoal em algum nível. Realmente, faz sentido discutir a questão da privacidade neste contexto?

De acordo com o que os autores D'aquin et. al. revelam (2010, p. 05), é possível que nós - como usuários da web - estejamos enviando frequentemente dados pessoais para sites desconhecidos involuntariamente (ou seja, não a partir de uma troca consciente de informações, mas através de um rastro deixado pela simples navegação via motores de busca)? E como fica o direito à privacidade neste caso?

A discussão sobre as expectativas de privacidade e a necessidade de regulação do acesso às informações não segue os mesmos caminhos da vida off-line, onde a utilização das ferramentas disponíveis pode trazer consequências boas e ruins? Afinal, a responsabilidade quanto ao uso da tecnologia não deve recair sempre sobre as pessoas? Não são elas (as pessoas) que enchem o mundo real ou virtual do melhor e do pior?

A privacidade, ou a falta dela, é alvo de preocupação há muito tempo, mas parece que a as interações digitais e os sistemas de lifelogging exacerbaram este problema. A partir disto, qual o caminho para repensar a noção de privacidade, já que as definições tradicionais não dão conta das novas questões?

Pensando no gerenciamento de impressão, de que forma o uso de sistemas de lifelogging, ao reunir e armazenar informações  passadas de um individuo, pode gerar um conflito entre auto apresentações em diferentes ambientes e em momentos distintos?

O’HARA, TUFFIELD e SHADBOLD, afirmam, no artigo em questão, que se torna claro, particularmente para o conceito de privacidade como uma condição de acesso restrito às informações sobre uma pessoa (Allen, 1998), que a verdade Durkheimiana - que é geralmente exibida nas redes sociais e particularmente no “social lifelogging” – ameaçará a privacidade. Nesse sentido, problematizamos: que privacidade é essa que ainda pode ser considerada, no contexto das interações digitais, especialmente a partir da discussão acerca do lifelogging? Mesmo os conceitos utilizados pelos autores não precisariam ser repensados?

No mesmo artigo, os autores afirmam que o surgimento das redes sociais pode ter minimizado o caráter instrumental da “verdade”. Dessa forma, questionamos: o que pode ser considerado como “verdade” em ambientes digitais – seja ela a verdade Weberiana ou a Durkheimiana?

O´Hara, Tuffield e Sahdbolt destacam a accountability como uma característica que pode ser potencializada com a possibilidade ilimitada de armazenamento de dados, aliada a ferraemntas de web semântica que possibilitem a catalogação e organização destes dados. Tendo isso em vista, quais seriam as consequências deste cenário para o sistema político? A possibilidade técnica de se ter uma maior accountbility é um fator que deverá fortalecer a transparência, a prestação de contas e, consequentemente, a democracia?

No paper "Personal monitoring of Web information exchange: towards web lifelogging", os autores pontuam que uma das propriedades mais interessantes da web é a possibilidade de acesso à informação independente do local onde a pessoa está. Este cenário, contudo, não encontraria limitações no domínio de determinados países e empresas sobrea a infraestrutura tecnológica da web?

Com o crescimento exacerbado de ferramentas para o monitoramento e resgate dos rastros alheios na internet, não seria interessante o planejamento governamental para o controle do que se pode rastrear, gerando maior privacidade e até ampliando a reflexão do papel do espaço privado na vida de cada um? Seria possível esta ferramenta?
A super publicização individual na rede estimula a diminuição da noção do espaço privado do outro, enquanto ato de respeito e proteção?
Será que é realmente importante considerar tanto a necessidade do auto-controle na web? Este não está sendo tratado além do que deveria ser? Será que daqui a cinco anos estaremos tão preocupados com o passado alheio ou o fato da facilidade em obtê-lo o tornará desinteressante?  

Fichamento - Autoapresentação e gerenciamento de impressões em redes sociais digitais 3/3


D’AQUIN, Mathieu; ELAHI, Salman; MOTTA, Enrico. Personal Monitoring of Web Information Exchange: Toward Web Lifelogging. Web Science Conf. 2010, Raleigh, USA, 2010 (p. 1 - 7).

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Por Fernanda Braga, Felippe Thomaz e Pedro Cordier

Sobre os autores:
MATHIEU D’AQUIN é pesquisador do Knowledge Media Institute (KMI) da Open University (Reino Unido). Obteve PhD pela University of Nancy, na França, onde trabalhou em aplicativos real-life de tecnologias semânticas para a gestão do conhecimento e suporte à decisão no domínio médico. Como um membro do Projeto NeOn, seus principais interesses de pesquisa referem-se a técnicas como modularização e alinhamento para gestão de ontologias, bem como infraestruturas para apoiar o desenvolvimento da próxima geração de aplicativos da Web Semântica (o motor de busca de Web Semântica Watson). Como tal, está envolvido no desenvolvimento de várias aplicações da Web Semântica, abrangendo vários temas (por exemplo, construção de ontologias, alinhamento de ontologias, busca semântica) e domínios. Mais recentemente, trabalha os aspectos relacionados com o uso de tecnologias semânticas e Web Semântica para monitorar e gerenciar informações pessoais online.

SALMAN ELAHI é pesquisador assistente no Knowledge Media Institute (KMI) da Open University, Reino Unido. Fez mestrado em Gestão do Conhecimento e Engenharia na University of Edinburgh, Reino Unido. Tem interesse por aplicar tecnologias semânticas. Antes de entrar para o KMI, trabalhava como Engenheiro de Software em projetos relacionados ao uso de tecnologias semânticas para melhorar os sistemas de busca no domínio das Freshwater Sciences. No KMI, está envolvido no Projeto NeOn no desenvolvimento do Portal de Web Semântica Watson. Recentemente tem trabalhado no LUCERO, um projeto ligado aos princípios da Open University, e no desenvolvimento de infraestrutura básica que consiste de rotinas para rastreamento e transformação de dados heterogêneos, por exemplo biblioteca EPrints. Ele também começou seu PhD em tempo parcial focando questões relacionadas à identidade e gerenciamento de informações pessoais.

ENRICO MOTTA é professor de Tecnologias do Conhecimento, no Knowledge Media Institute (KMI) da Open University no Reino Unido. Possui Láurea em Ciência da Computação pela University of Pisa, na Itália, e PhD em Inteligência Artificial pela Open University. Sua pesquisa abrange uma variedade de aspectos relacionados com tecnologias semânticas e engenharia do conhecimento, incluindo engenharia de ontologias, web semântica, interfaces para sistemas baseados em conhecimento, integração de dados inteligentes, busca semântica, entre outros. Em particular, muito de seu trabalho atual se concentra na integração de tecnologias semânticas e outras, tais como tecnologias web e linguística computacional, para desenvolver novas soluções para a localização e integração de informações na web. É autor de mais de 200 publicações, incluindo o livro Reusable Components for Knowledge Modelling pela IOS Press. É editor-chefe do International Journal of Human-Computer Studies, e membro do Conselho Editorial do Journal of Web Semantics and IEEE Intelligent Systems.


Objetivo do paper: D’Aquin et al. apresentam algumas ferramentas e um experimento em que usam o gerenciamento de dados semânticos para registrar e monitorar as atividades de troca de informação por usuários na Web. O experimento foi aplicado por meio de um sistema lifelogging instalado no computador pessoal do primeiro autor do paper durante o período de 2.5 meses ininterruptos.  Os autores defendem que os dados coletados podem ser úteis para o usuário estudar e monitorar seu comportamento online. Eles descrevem o cálculo de análises básicas (tempo da atividade, locais da troca etc), a criação de um modelo de avaliação da confiança percebida que o usuário parece depositar em diferentes sites (com base nos dados da troca) e a investigação do que se pode aprender sobre o usuário a partir de seu comportamento de pesquisa.

Argumentação central: Num cenário em que mais serviços contam com a internet para se comunicar a usuários, D’Aquin et al. constatam que é cada vez maior a quantidade de informações trocada diariamente entre usuários e esses serviços na Web. Soma-se a isso a complexidade crescente dessas trocas, espraiando-se por vários agentes e incluindo formas diferentes de interação. Para os autores, essa complexidade dificulta compreender, estudar e explorar plenamente o intercâmbio online de dados pessoais. Diante do quadro, eles defendem que é ainda mais importante oferecer aos usuários meios para monitorar toda a sua gama de atividades na internet, dando-lhes a capacidade de gerenciar a sua troca de informação. Ferramentas dedicadas, a exemplo de um sistema lifelogging, seriam necessárias para fornecer registros igualmente complexos dessas atividades para consumo do usuário, oferecendo uma visão integrada de diferentes aspectos de seu comportamento online: produtividade, interesses de pesquisa, interação social, privacidade etc.

Tópico 1 – Introdução: O paper começa com um panorama atual. Para D’Aquin et al. embora cada vez mais a informação esteja sendo trocada entre usuários e serviços na Web, os mecanismos que permitem aos usuários manter o controle dessa atividade ainda sãos limitados. Eles estariam muitas vezes baseados em um modelo de Web 1.0, em que a interação é restrita a visitar páginas na internet (exemplo, recurso de histórico incluído na maioria dos navegadores). Os autores vão defender que as atividades dos usuários na Web são muito mais complexas do que é possível capturar por esses mecanismos, espraiando-se por vários agentes e incluindo muitas formas diferentes de interação. Daí ressaltam a importância de fornecer aos usuários meios pra acompanhar e controlar sua troca de informação.

D’Aquin et al. vão apresentar um conjunto de ferramentas e um experimento dedicado ao monitoramento pessoal de atividades na Web. Os autores consideram a vida completa de usuários online, no que pode ser descrito como o equivalente Web de um sistema lifelogging. De acordo com O’Hara et al., eles definem lifelogging como a ‘recolha indiscriminada de informações sobre a vida e o comportamento de uma pessoa’. Eles então desenvolvem um sistema para coletar, acompanhar e dar sentido a informações relacionadas às atividades de um indivíduo na Web. O sistema é um programa Web Proxy que instalado no computador do usuário intercepta e grava qualquer comunicação com a rede externa através do protocolo HTTP. Os resultados e as análises são detalhados ao longo do texto.

Tópico 2 – Trabalhos relacionados: Neste tópico, os autores descrevem a gama de ferramentas que já existe para apoiar os usuários no acompanhamento da sua própria atividade na Web. Relacionadas com a abordagem do paper, D’Aquin et al. citam o Google Web History e o Attention Recorder, que assumem a forma de plugins para navegadores populares da Web e registram acesso a sites a fim de construir um registro das atividades na Web. Outro exemplo citado é o Rescue Time que registra as atividades gerais no computador do usuário como forma de gerir a sua produtividade. No entanto, os autores afirmam que essas ferramentas ainda são limitadas porque registram apenas uma quantidade limitada de informações e só permitem o uso dos dados que estão diretamente destinados pela ferramenta. Eles defendem que as atividades na Web são muito mais complexas, fragmentadas e, em parte, implícitas. Ferramentas dedicadas a registrar essa complexidade são, portanto, necessárias e permitem ao usuário ter uma visão integrada de seu comportamento online.

Tópico 3 – Tecnologia básica subjacente e definição do experimento: D’Aquin et al. descrevem dois requisitos principais que uma ferramenta precisa para representar uma visão suficientemente ampla da transferência de dados pessoais na Web: primeiro, ser transparente para o usuário e, segundo, registrar informações tão complexas quanto possível, independente do agente Web utilizado. No experimento levado a cabo, um mecanismo logging HTTP como um Web Proxy foi instalado no computador do primeiro autor do paper por um período de 2.5 meses ininterruptos. Desse modo, qualquer solicitação HTTP saída do computador do usuário (e qualquer resposta a essa solicitação) era interceptada, registrada e redirecionada para o destino certo. O resultado foi um recorde de mais de 3 milhões de solicitações HTTP, abrangendo muitos diferentes agentes e representando 100 milhões de triplas RDF e 9GB de dados. Os autores ressaltam, porém, que a escalabilidade da ferramenta e sua capacidade de processar esses dados em tempo real são desafios para trabalhos futuros.

Tópico 4 – Monitoramento e análise de vários aspectos das atividades pessoais na Web: O paper destaca que, graças à ferramenta empregada, o usuário pôde coletar informações ricas e em grande escala sobre sua atividade na Web, mas que a coleta de dados brutos é apenas a primeira parte do processo. Nesta seção, D’Aquin et al. apresentam as análises que foram realizadas sobre a base de dados, desde análises mais simples à aplicação de um modelo das relações de confiança e dos níveis de criticidade de dados, e uma investigação do comportamento de pesquisa do usuário.

Tópico 4.1 – Análises básicas: Segundo D’Aquin et al., estatísticas tais como as coletadas por administradores de sites para monitorar o tráfego nos servidores (por meio do Google Analytics, por exemplo), poderiam ser de grande valor para um usuário a respeito de seu próprio tráfego na Web, se a relação fosse invertida. Sob este ponto de vista, os autores apresentam visualizações computadas na base dos dados coletados no experimento, relativas a quatro aspectos básicos:

Tempo. Mostra a soma dos números de solicitações por hora do dia. A forma como a quantidade de atividade do usuário na Web evolui no tempo pode fornecer indicações úteis a respeito de seu comportamento e hábitos, não só online, e permitir a identificação de eventos comuns que acontecem durante um dia típico em sua vida.

Localização. A visualização das localizações dos servidores solicitados mostra que a atividade do usuário tende a concentrar-se em partes específicas do mundo, principalmente Europa e EUA. As exceções, embora poucas, demonstram como essa informação pode ser crucial para o usuário se atentar, por exemplo, às diferenças nas leis de privacidade nestes locais.

Popularidade. As solicitações realizadas com mais frequência pelo usuário são apresentadas numa ‘nuvem de tag’. Os autores identificam os sites comumente acessados, aqueles cujos números de solicitações elevados representam acessos automáticos e ainda os acessados por efeito colateral de acessar outros sites, portanto sem consentimento.

Agentes. Mostra os diferentes agentes por meio dos quais o computador do usuário acessa a internet, como que provando que a boa parte da atividade do usuário na Web ocorre de forma implícita. Os autores encontraram 49 diferentes agentes nos dados do experimento, sendo o navegador da internet apenas o terceiro mais ativo.

A conclusão é que mesmo as mais simples análises estatísticas podem ajudar o usuário a compreender melhor seu próprio comportamento online e levar a descobertas surpreendentes.

Tópico 4.2 – Observando relações de confiança e criticidade dos dados: Neste ponto, D’Aquin et al. se concentram em extrair dos dados coletados no experimento um modelo da confiança percebida que é atribuída aos sites acessados pelo usuário e da criticidade dos dados trocados nestes sites. Eles consideram que a confiança é um elemento central de qualquer interação social e, portanto, de qualquer troca na Web. Dada a sua importância para qualquer comunicação na Web 2.0, os autores descrevem com detalhes as etapas de derivação de um modelo da confiança percebida. Segundo eles, as noções de confiança e criticidade são altamente interdependentes, portanto se o usuário divulga uma informação que considera crítica em um determinado site, isso parece indicar um alto nível de confiança nele. O objetivo de calcular essas medidas seria permitir ao usuário explorá-las, comparando com sua própria visão. Essa metodologia mostrou-se valiosa na identificação de situações interessantes ou possivelmente problemáticas, o que ressalta seu potencial para tornar o usuário mais consciente de seu comportamento implícito, apoiando-o na implementação de uma gestão mais informada de sua própria privacidade.

Tópico 4.3 – Investigando comportamento de pesquisa: Partindo do pressuposto que a pesquisa é uma das atividades explícitas mais comuns que os usuários realizam online, D’Aqui et al. defendem que analisar a forma como o usuário utiliza os motores de busca disponíveis na Web (a exemplo do Google.com) pode ajudar a obter informações sobre seu comportamento consciente, interesses etc. No experimento, eles constataram que uma proporção grande das consultas realizadas foram duplicadas ou tinham sido reentradas várias vezes durante o período e que apenas uma parte das consultas levou o usuário a seguir um ou mais resultados. Assim, os autores concluem que a pesquisa não é considerada uma atividade exploratória por este usuário, mas uma maneira de localizar recursos já conhecidos.

Outro elemento considerado na análise é a lista de palavras-chave pesquisadas pelo usuário, que segundo os autores pode demonstrar áreas específicas de relevância para ele. O resultado é representado por meio de uma ‘nuvem de tag’e comprova relação com conceitos já conhecidos e diretamente ligados a atividade profissional do usuário. Aprofundando a análise, os autores usam o serviço SemanticProxy para encontrar tópicos mais amplos de interesse para o usuário. Os resultados também não são surpreendentes, mas ajudam a caracterizá-lo ainda mais em termos de seus interesses. Eles acreditam que fornecer tal perfil para ser explorado pelo próprio usuário pode ser valioso e contribuir, por exemplo, para sua relação com pessoas de interesses semelhantes em aplicativos sociais.

Tópico 5 – Discussão: aprofundamento: No paper, D’Aquin et al. descreveram como recolheram um registro semântico da atividade de um usuário na Web, com a finalidade de ajudar este usuário a entender melhor seu comportamento e troca de informações online. O experimento realizado mostra que os dados coletados representam uma ‘caixa-preta’ da vida Web do usuário, auxiliando-o para fins de monitoramento pessoal, gestão de informação pessoal ou privacidade. Estudos semelhantes já são realizados sob a perspectiva dos sites, mas os autores destacam como eles podem ser explorados pelo usuário. Eles sugerem o refinamento dos estudos estendendo-os a maneiras diferentes de investigar os dados e integrando esses dados com fontes externas de informação. Para concluir, ressaltam que o experimento apresentado é limitado no sentido de que incide sobre um determinado usuário. Como trabalho futuro, eles pretendem investigar a comparação dos mesmos tipos de análises para grupos de usuários de diferentes origens, interesses e usos Web, entendendo aspectos comuns em seus lifelogs Web.