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Podemos pensar a ambiência virtual como um
arcabouço, uma justa arquitetura como ferramenta de potencialização para a
objetivização do invísivel do espetáculo, vir a se tornar vísivel na sociedade
espetacular ?
O movimento de ativismo digital (mobilização on
line tipo Kickstart, Catarse, TED…) pode ser pensado como uma contracultura do
espetacular(hackear ‘o sistema); no sentido de promover o diálogo, de
protagonismo social, em um retorno à busca de sentidos de si em um re-enlçamento
social na direção de um projeto e inteligência coletiva. Esse comportamentos
virtuais não estariam para além do consumo viciante de self’s mercadologicamente
disciplinados na visibilidade pelo outro; fruto de relações efemeras e
fragéis(anomia), numa obsolescência identitária do parecer na sociedade
espetacular?
Do texto ‘O show
do eu’ de Paula Sibilia, infere-se que nos dias de hoje para ser alguém é preciso ser visto. A autora afirma que “em
meio aos vertiginosos processos de globalização dos mercados em uma sociedade
altamente midiatizada, fascinada pela incitação à visibilidade e pelo império
das celebridades, percebe-se um deslocamento daquela subjetividade
‘interiorizada’ em direção a (...) construções de si orientadas para o olhar alheio
ou ‘exteriorizadas’” (p. 23). Sendo assim, na atualidade importa sobretudo que
os outros nos vejam, para o bem ou para o mal? Ou importa o modo como nos
apresentamos para os outros? Qual tem sido a respostacomum a essa nova demanda diante das
milhares de ferramentas atualmente disponíveis para a exibição da intimidade?
Em
sua teoria crítica, Guy Debord afirma que o espetáculo, considerado sob o
aspecto dos meios de comunicação de massa, está longe da neutralidade.
Considerado hoje sob o aspecto das mídias interativas que evocam a cultura da
participação/colaboração, poderíamos supor que os mecanismos de manutenção
desta ‘sociedade do espetáculo’ se sofisticam uma vez que se complexificam as
relações de poder e as dinâmicas sociais? Tomando as recentes declarações das
‘celebridades’ brasileiras Sabrina Sato e Marco Luque sobre as estratégias
engendradas para promover determinadas marcas ou produtos no Twitter - convidados do 5º MediaOn, eles contam
como se tornaram veículos de ‘si próprios’, chegando a ganhar R$15 mil por
tweet patrocinado – em que medida as novas
estratégias do mercado publicitário ainda encontram base na ideia de
‘consumidores reais como consumidores de ilusões’? Até que ponto o público em
rede tem clareza sobre essa aparente
espontaneidade
das 'celebridades' e/ou consome o fato, mensagem, marca, produto?
No
tópico 12, do primeiro capítulo de “A Sociedade do Espetáculo”, Debord fala
sobre a inacessibilidade do espetáculo. Ainda neste mesmo tópico, é
citada a mensagem do espetáculo, como a frase síntese de que nele “o que aparece
é bom, o que é bom aparece”. A título de observação das afirmações acima, no
ambiente das CMC, mais precisamente das chamadas mídias sociais, podemos
correlaciona-las a duas características antes mencionadas. A primeira revela a
noção de que no ambiente das mídias sociais “todos podem ser famosos para
quinze pessoas”. E a segunda, é a possibilidade que o usuário de plataformas
como o Twitter tem de interagir de algum modo (sejam re-twitter ou @reply) com
as “celebridades” dos agora chamados “tradicionais veículos massivos”. Diante
destas características, seria possível afirmar que as mídias sociais tem criado
a falsa noção de que o espetáculo é acessível? Ou de fato, elas potencializaram
o acesso ao espetáculo?
Paula
Sibilia lembra que “Se persistirem as condições atuais (e por que não haveriam
de persistir?), dois terços da população mundial nunca terão acesso à
internet”. No mesmo texto é apontada as modificações que a “vida online” tem
propiciado na representação do “eu”. Diante da diferenciação entre os
habitantes de dois mundos, um “online”
e outro “offline”, pode-se inferir
que o futuro da humanidade (talvez nem tão distante assim) reserva a formação
de dois tipos principais de “eu”?
No
livro de Guy Debord podemos observar que apesar de todo o pessimismo do autor
em relação a sociedade espetacularizada, ainda assim, ele parecia acreditar na
existência de uma saída para aquela situação, no caso, as transformações dos
anos 60. Levando em conta o panorama apresentado
por Sibila é possível vislumbrarmos uma saída/fuga deste processo de
espetacularização da intimidade?
Desde
o inicio da disciplina tenho pensando muito nesses processo de
auto-apresentação e gerenciamento de
impressões sob o ponto de vista da pessoa que gerencia, da que quer passar
determinada imagem. Mas se pensarmos nesta espetacularização do eu, do ponto de
vista de quem consome a intimidade alheia, já que este é sempre um processo de
troca, o que estaria por traz desta motivação de acompanhar com tanto afinco o
“show da vida dos outros”?
“Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem
à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao
ser...”Com isso a representação do que sou se torna mais importante do que eu
realmente sou?
O
que nos levaria a dar mais importância a aparência do outro do que o que
ele realmente é, já que preferimos “a representação à realidade, a aparência ao
ser”?
A
afirmação de Debord de que “a realidade surge no espetáculo, e o espetáculo no
real” parece se encaixar perfeitamente no modelo atual de exploração midiática
da violência . A audiência
crescente de formatos televisivos que expõem ao máximo a violência (não somente
programas jornalísticos, mas séries, telenovelas, etc) demonstram o gosto que o
publico parece nutrir pelo medo, a insegurança e o horror. Mas, partindo-se
também da reflexão de Debord, esta não seria a “chave” para explicar o
crescimento da violência na sociedade?
O
Marketing vem explorando amplamente a internet como espaço midiático e de
consumação de negócios. Como arqumenta a autora Paula Sibilia, “a capacidade de
criação é sistematicamente capturada pelos tentáculos do mercado, que atiçam
como nunca essas forças vitais e, ao mesmo tempo, não cessam de transformá-las
em mercadorias”. Neste sentido, não podemos inferir que a valorização do “eu”,
na verdade, não se trata de uma mera estratégia para lucrar com a imagem alheia
e com a suposta sensação de visibilidade e fama que as pessoas desejam
alcançar?
Guy
Debord defende que a vida humana se consuma como simples aparência e que o
espetáculo tem na sua essência que "o que aparece é bom, o que é bom
aparece". Estas características se refletem no atual cenário de produção
jornalística em que a imagem se sobrepõe sobre o conteúdo e o os critérios de
noticiabilidade são sobrepostos pelo que está sob os holofotes. De que forma é
possível superar o jornalismo "espetaculista" que gera divisas
financeiras para a "economia reinante" e resgatar a centralidade de
temas concernentes à democracia e aos negócios públicos? Haverá o jornalismo
sério de espetacularizar-se, moldando-se ao fomato em que predomina a aparência
e ganhando contornos de entretenimento?
Paula
Sibilia analisa a intimidade como parte preponderante do espetáculo da
sociedade contemporânea. A exposição desta intimidade, seguido o preceito da
irresistibilidade de espiar pela fechadura, se transpõe para o jornalismo como
forma de fisgar leitores. Os principais portais jornalísticos barsilieros,
incluindo os vinculados a jornais seculares e revistas tradicionais, tem
potencializado a vinculação de conteúdo atrelado a vida privada de anônimos e
famosos como forma de catapultar a audiência e o número de page-views. Como
sobrepor esta ordem da multiplicação do conteúdo jornalístico irrelevante e ao
mesmo tempo se manter economicamente pujante e rentável? O jornalismo online
autossustentável tem que necessariamente passar pela potencialização, uma quase
que dominação da não-notícia?
"Nosso
tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a
representação à realidade, a aparência ao ser..." De acordo
com o recorte do texto, extraído de "A Sociedade do Espetáculo",
de Guy Debord, figuras como a "estudante universitária do vestidinho
colado e rosa" que não lembro o nome por causa da minha memória (muito)
seletiva, bem como todos os tipos de mulheres-frutas, para ficar só em poucos
exemplos, recebem atenção da mídia porque as pessoas se interessam mais por
esse tipo de assunto, ou, as pessoas se interessam mais por esses assuntos
porque a mídia dá mais atenção a isso?
"Quando
mais a vida cotidiana é ficcionalizada e estetizada com recursos midiáticos,
mais avidamente se procura uma experiência autêntica, verdadeira, não encenada.
Busca-se o realmente real - ou, pelo menos, algo que
assim pareça. Uma das manifestações dessa fome de veracidade na cultura
contemporânea é o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia." Segundo
o trecho do texto "O show do eu: A intimidade como espetáculo",
de Paula Sibilia, estamos condenados a assistir reality-shows pasteurizados (como
os intermináveis BBBs), pelo resto da vida? Ou, com a chegada da internet,
outros modelos de experiências, mais segmentadas e menos fúteis, podem aparecer
e fazer frente a esses deprimentes programas?
As
ondas de vandalismo ocorridos em 2011 na Inglaterra, organizadas
espontaneamente por pessoas através de SMS configuram, à luz das críticas
feitas por Guy Debord, um rompimento abrupto à sociedade do espetáculo ou, por
outro lado, esta configuração social abarca também atitudes desviantes, por
mais radicais que sejam?
Relacionando
a ideia da humanidade inserida em um estado de nova barbárie (apresentada por
Sibilia, na p. 41) com a utilização da web para finalidades "úteis"
(petições públicas em prol de causas benéficas à sociedade, por exemplo),
emerge a questão: a rede não dispõe de ferramentas que "compensariam"
seus pontos negativos? A própria falência do narrador (à Benjamin) não
encontra, no ambiente digital, roupagens que fujam a uma classificação
exclusivamente pejorativa?
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