SIBILIA, Paula. O show
do eu: a intimidade como espetáculo. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2008 (p. 01 – 27, 29-52, 267-276).
Sobre
a autora:
Paula Sibilia é
doutora em Comunicação e Cultura (ECO-UFRJ) e em Saúde Coletiva (IMS-UERJ),
mestre em Comunicação (UFF) e graduada em Comunicação e em Antropologia
(Universidade de Buenos Aires – UBA). Atualmente é professora adjunta da
Universidade Federal Fluminense - UFF, no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e no Departamento de Estudos Culturais e Mídia. Suas pesquisas
versam sobre subjetividade contemporânea, corpo humano, tecnologias digitais,
imagens e práticas corporais (temas culturais contemporâneos, em geral). Paula
Sibilia é autora dos seguintes livros: O
homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais (2002) e O show do eu: A intimidade como espetáculo
(2008).
EU,
EU, EU… VOCÊ E TODOS NÓS
Por: Thais
Miranda
Objetivos
do capítulo
O show do eu: a intimidade como
espetáculo é uma obra que
reflete sobre a forma com que a sociedade contemporânea legitima a cultura de
observação do outro e da exposição de si, delineando tendências que se perfilam
na sociedade ocidental e globalizada, com ancoragem especial no contexto
latino-americano e mais particularmente naqueles que usufruem do acesso
privilegiado de bens culturais e do ciberespaço. No primeiro capítulo, intitulado
“Eu, eu, eu... você e todos nós”, a autora discorre, ensaisticamente, sobre a
exibição da intimidade na internet.
Argumentação
Central
Paula Sibilia inicia o capítulo explicando que
Nietzsche fora diagnosticado, pelos seus contemporâneos, como megalomaníaco e
excêntrico, pelas questões que abordava em sua autobiografia – que, visava, na
verdade, responder à tradicional questão: “quem sou eu?”. Nesse ponto, o que
importa para Sibilia é introduzir as noções de megalomania e excentricidade, ressaltando que tais categorizações
já não são mais entendidas como desvios patológicos, como o foram no início do
século XXI.
A autora justifica tal posição explicando que,
atualmente, nesta sociedade que cultiva o “ser diferente” e o “querer sempre
mais”, as dores e também as delícias de ser quem se é, passam por transformações.
Neste sentido, Sibilia aponta como emblemático o fato da Revista Time, em 2006,
eleger “você” – nós, pessoas comuns -, como personalidade do ano. Os motivos
que levaram a tal escolha, afirma Sibilia, foi o fato de que somos “nós”
(pessoas comuns) e não ”eles” (grande mídia tradicional) que estamos
transformando a era da informação, a partir do aumento da participação de
produção de conteúdo das pessoas comuns, na internet. Teria chegado, assim, a
“hora dos amadores”.
Sibilia destaca algumas de suas inquietações: Como
interpretar tais novidades? Será que estamos sofrendo um surto de megalomania
consentida e estimulada? Ou, ao contrário, nosso planeta foi tomado por uma
repentina onda de humildade? O que implica esse súbito resgate do pequeno e do
ordinário, do cotidiano e das pessoas comuns? O que significa essa repentina
exaltação do banal, essa espécie de reconforto na constatação da mediocridade
própria e alheia?
Na sequência, é destacada a explosão da
produtividade e inovação como algo já suficientemente comemorado, a partir do
advento das redes digitais. A problemática do texto, a partir daí, concentra-se
em argumentos menos deslumbrados, como por exemplo, a capacidade de criação ser
sistematicamente capturada pelo mercado, desativando o potencial de invenção e
transformando criatividade em mercadoria. Do outro lado desta explosão de
criatividade vincula-se também uma democratização dos canais midiáticos,
constituindo uma aparente contradição. Sibilia explica: Se por um lado, os novos
recursos abrem uma infinidade de possibilidades impensáveis – para a invenção
humana e para contatos -, por outro desencadeiam uma enorme eficácia na
instrumentalização dessas forças vitais, rapidamente capitalizadas a serviço do
mercado. Mais à frente, a autora cita uma série de exemplos, que reforçam a
ideia de dispositivos de poder que entram em cena, capturando vestígios de
criatividade bem-sucedida (YouTube, Claro Video-Maker, Facebook, blogueira
LolaCopacabana, dentre outros).
Mais questões aparecem: Estaríamos diante de uma vontade
de potência e impotência, ao mesmo tempo? Megalomania e despretensão? Qual a
relação deste “eu/você” atual com aquele “alguém” que Nietzsche incitava ao
risco, a se perder para se encontrar? Segundo Sibilia, uma resposta possível
estaria no surgimento dos meios de comunicação de massa baseados em tecnologias
eletrônicas e no fato destes não se enquadrarem no esquema clássico dos
sistemas de broadcast.
A autora avança afirmando que é no seio do chamado ciberespaço
que germinam novas práticas, advindas da comunicação mediada por computador.
Numa rápida retrospectiva, Sibilia destaca: correio eletrônico, chats, redes de
sociabilidade, diários íntimos (ou éxtimos)
- tais como os blogs, fotologs e videologs -, as webcams, sites que permitem
exposição e trocas de vídeos caseiros, fóruns, grupos de notícias e por fim, os
“mundos virtuais” (Second Life). A todos os elementos citados, é atribuído o
nome de “revolução da web 2.0”, que transformou os indivíduos comuns em
personalidades do momento. Neste contexto, os usuários passam a ser
co-desenvolvedores e combina o slogan “faça você mesmo” com o “mostre-se como
for”, influenciando, inclusive, os meios de comunicação tradicionais.
A partir de um paralelo entre as semelhanças das
práticas digitais às antigas práticas (cartas e e-mail, por exemplo), Sibilia
explica que as diferenças e particularidades também existem. A estudiosa propõe
que estamos vivenciando uma época limítrofe, uma passagem de um projeto de poder
para um outro projeto político, sociocultural e econômico. Nesse sentido,
transformam-se também, claro, as formas de ser e estar no mundo,
particularmente na conformação do corpo e das subjetividades. Entendendo a
subjetividade como modos de ser e estar no mundo, distante de qualquer essência
fixa que remete o ser humano como uma entidade a-histórica, Sibilia explica que
quando ocorrem mudanças nessas possibilidades de interação, o campo da
experiência subjetiva também se altera.
No novo regime que se configura, apoiado nas
tecnologias digitais, descrito há mais de duas décadas por Delleuze, combina,
por um lado, uma convocação informal e espontânea aos usuários para partilhar
suas invenções e por outro lado, as formalidades do pagamento em dinheiro por
parte das grandes empresas. Nesse contexto, destacam-se algumas novidades, como
explica Sibilia: (1) behavioral target, ou seja, o envio da publicidade em
função do comportamento do usuário; (2) sistema de monitoramento, desenvolvido
pelo Facebook, das transações comerciais realizadas pelos usuários; (3)
transformação de autores de blogs em protagonistas ativos de campanhas
publicitárias, a exmplo do caso das sandálias Melissa.
Outro ponto que merece destaque é a explicação de
Sibilia sobre a transformação da ideia de “celebridade”, entendida por Foucault
como uma classificação reservada para uns poucos, aos quais era designada a
valorização da vida em privacidade. Já no século XXI, as personalidades são
convocadas a se mostrarem, problematizando, assim, os conceitos de público e
privado. Complementando essa ideia, a autora ressalta o deslocamento da
subjetividade interiorizada em direção a outras formas em construção. Sociedade
líquida, cultura somática, eu epidérmico e flexível e personalidades
alterdirigidas são termos que Sibilia retoma, para afirmar que o atual uso das
redes sociais digitais são estratégias usadas pelos sujeitos contemporâneos, no
intuito de responder a essas novas demandas socioculturais, construindo, assim,
novas formas de ser e estar no mundo.
Por fim, na conclusão
deste capítulo, Paula Sibilia afirma que a internet tem contribuído para a
resposta da pergunta inicial - como alguém se torna o que é? -, ao suscitar
diversas práticas confessionais, através de ferramentas online, usadas para
expor, publicamente, a intimidade das pessoas comuns. De acordo com a autora, a
internet é um grande laboratório, um terreno fértil para inovadoras maneiras de
ser e estar no mundo, para a experimentação de novas subjetividades, ou
finalmente, para a apresentação de cenários adequados para a montagem de um
espetáculo: o show do eu.
EU
NARRADOR E A VIDA COMO RELATO
Por: Thais
Miranda
Objetivos
do capítulo
No segundo capítulo do mesmo livro, intitulado “Eu Narrador e a vida como
relato”, Paula Sibilia busca responder às seguintes questões: As novas formas
de expressão e comunicação que hoje proliferam devem ser consideradas vidas ou
obras? Todas essas cenas de vidas privadas que agitam a tela dos computadores,
mostram a vida de seus autores ou são obras de artes produzidas pelos novos
artistas da era digital? É possível que sejam, ao mesmo tempo, vidas e obras?
Ou se trata de algo completamente novo? Todas as inquietações da autora atendem
ao objetivo maior de compreender o fenômeno contemporâneo de exibição da
intimidade.
Argumentação
Central
A autora inicia o capítulo explicando que uma
consideração usual, ao se analisar estranhos e novos costumes é o de afirmar
que os sujeitos ali envolvidos mentem ao narrar suas vidas na web. A partir da
possibilidade do anonimato e outros recursos, os usuários montariam espetáculos
de si mesmos para exibir uma intimidade inventada, pautada em testemunhos
falsos. Sibilia questiona se todas essas palavras e imagens não são retratos
fieis de uma realidade nua e crua, ou por outro lado, se expõem um personagem
fictício. Ou ainda: são obras produzidas por artistas que encarnam um novo
gênero de ficção ou se trata de documentos verídicos acerca de vidas reais de
pessoas comuns?
A discussão do capítulo continua a partir de uma
dúvida posta: pertenceriam essas novas práticas aos gêneros autobiográficos? Ou
seriam narrativas de ficção? A partir de uma definição de obras autobiográficas
proposta pelo crítico literário Philippe Lejeune (1975), Sibilia acredita que
os usos confessionais da internet parecem, num primeiro momento, se enquadrar
como manifestações renovadas dos velhos gêneros autobriográficos, em que se
pressupõe uma coincidência das identidades do autor, narrador e protagonista.
Entretanto, a pesquisadora também considera tais narrativas como um tipo muito
especial de ficção, já que apesar da sua contundente auto-evidência, é sempre
frágil o estatuto do eu.
A autora segue discorrendo sobre questões que
gravitam em torno da linguagem e sua importância da organização do fluir da
experiência individual. De acordo com ela, as escritas de si constituem objetos
privilegiados quando se trata de compreender a constituição do sujeito na
linguagem e a estruturação da própria vida como um relato. Ressalta-se a
expansão das narrativas biográficas, uma intensa fome de realidade e um apetite
pelo consumo de vidas alheias e reais. A não-ficção floresce, nesse cenário.
Sobre os relatos biográficos que hoje proliferam, a
autora enfatiza que o foco foi desviado de figuras ilustres, para se debruçar
sobre pessoas comuns. Isso não significa o abandono daquilo que toda figura
ilustre tem de comum. Ou seja, há um deslocamento em relação a intimidade, uma
curiosidade crescente por aqueles âmbitos da existência que costumavam ser
considerados como privados. Sibilia provoca: O que resta da velha ideia de
intimidade? O que significa público e privado, nesse contexto? Segundo a
autora, desmancham-se as fronteiras que separavam ambos os espaços, desafiando
as velhas categorias e demandando novas interpretações.
Mais adiante, Sibilia apresenta dados sobre o consumo
de TV no Brasil e no mundo, como forma de fomentar uma discussão sobre outras
fontes de inspiração para a criação do eu, em detrimento da leitura de ficções,
por exemplo. O ponto aqui é mostrar que os novos artefatos tecnológicos – cada
vez mais usados para ler, escrever e se relacionar – influenciam a forma com
que pensamos e nos comunicamos. Os textos eletrônicos e todas as suas
possibilidades instauram novos hábitos e novas práticas, tanto para autores,
quanto para leitores. Nesse sentido, Sibilia mostra que as cartas e os diários íntimos
que circulam na internet ainda guardam uma certa aura sagrada, já que os
acontecimentos neles relatados, apesar da etérea virtualidade dos dados eletrônicos,
são tidos como verdadeiros – isso porque se supõe que são experiências íntimas
de um indivíduo real.
Em relação aos aspectos objetivos dos textos
eletrônicos – textos, sons e imagens -, a pesquisadora afirma que nos novos
espaços da internet, se cultivam fortes marcas de oralidade. Convém destacar a
informalidade, brevidade, bem como a pouca diversidade de vocabulários desses
textos. Além disso, há um vasto uso de abreviaturas, siglas, acrônimos e
emoticons. A autora faz referência a Guy Debord (1967), lembrando sua citação
famosa, embora aparentemente paradoxal, no nosso contexto: “A arte da
conversação está morta e logo estarão mortos quase todos os que sabem falar”. A
interpretação de Sibilia é que talvez Debord estivesse se referindo à morte da
conversação num momento histórico específico – o dele -, em que o diálogo era o
oposto do espetáculo, em que a conversação se dava em ambientes privados e sem
a necessidade quase imperativa da publicização. A autora pontua que mais do que
um conjunto de imagens, o espetáculo se transformou em nosso modo de vida e em
nossa visão de mundo e na maneira com que nos relacionamos.
Outro argumento interessante é que nesse novo
contexto, além de mais interativos, os sujeitos estão se tornando mais visuais
do que verbais. Nesse cenário, a lógica da visibilidade e o mercado das
aparências desempenham papeis primordiais na construção de si e da própria vida
como um relato – um grau de espetacularização da vida cotidiana que nem o
Debord pudesse imaginar.
A intimidade cotidiana tornou-se habitual, diz
Sibilia, e nossas narrativas vitais ganham contornos audiovisuais. Os gestos e
atos mais aparentemente insignificantes revelam parentesco com as cenas de videoclipes
e das publicidades. Valorizamos a nossa vida em função da sua capacidade de se
tornar, de fato, um verdadeiro filme – e em certas ocasiões se convertem nesses
pequenos filmes, lançados ao mundo nas vitrines virtuais do youtube ou de uma
webcam.
Na conclusão
deste capítulo, a autora ressalta que o eu não se apresenta apenas como um
narrador de sua própria vida, mesmo que seja trilhada epopéia do homem comum ou
do anti-heroi. Enfim, daquele qualquer encarnado naquele você capaz de se
converter na personalidade do momento, sempre num personagem que tende a atuar
como se estivesse sempre diante de uma câmera, disposto a se exibir em qualquer
tela – mesmo que seja nos palcos da vida real. Sibilia nos mostra que as atuais
narrativas autobiográficas digitais transformam também a subjetividade que se
constrói nesses gêneros. Muda precisamente aquele eu que narra, assina e
protagoniza os relatos de si. Muda o narrador, muda o autor, muda o personagem,
priorizando, entretanto, não tanto o narrador, mas a do seu protagonista.
Por fim, Sibilia retoma as reflexões iniciais,
questionando: haveria uma espécie de falsidade, uma falta de autenticidade nas
construções subjetivas contemporâneas? Teria se generalizado o uso de máscaras
que ocultam alguma verdade fundamental? Ou, ao contrário, será que essa
multiplicação de auto-ficções estaria indicando o advento de uma subjetividade
plástica e mutante, liberada enfim das tiranias da identidade? Essa saturação
do eu e você anunciaria, de maneira paradoxal, a definitiva extinção daquele
velho eu sempre unificador e estável? Ou tratar-se-ia de um paroxismo de
identidades efêmeras produzidas em série, todas tão autênticas quanto falsas,
porém visíveis? Claro que a pesquisadora não responde a tais perguntas,
explicando que todas elas são complexas demais e alerta que o capitulo seguinte
buscará um resgate histórico, a fim de contextualizar tais problemas.
EU
ESPETACULAR E A GESTÃO DE SI COMO UMA MARCA
Por: Thais
Miranda
Objetivos
do capítulo
O último capítulo do livro O show do eu: a intimidade como espetáculo visa mostrar que o
fenômeno analisado ao longo de toda a obra é estritamente contemporâneo e,
portanto, tem uma relação direta com o que nós somos. A análise da autora, em
suas próprias palavras, pode revelar como nos tornamos o que somos e em que
estamos nos convertendo, além de incitar o pensamento sobre o que gostaríamos
de nos tornar.
Argumentação
Central
Como em toda conclusão ou capítulo de encerramento,
a autora retoma discussões abordadas ao longo do livro. Neste caso, em
especial, Sibilia aprofunda algumas reflexões a partir da obra e principais
argumentos de Guy Debord (A Sociedade do Espetáculo, 1967). Inicialmente, a
autora pontua que Debord deixa de registrar que vários elementos desse modo de
vida construído na visibilidade já estavam presentes no final do séc. XIX,
assim como também apareciam as primeiras euforias de consumo, publicidade,
meios de comunicação e a produção de uma felicidade visível. Sibilia afirma,
entretanto, que fenômenos de exibição da intimidade que são tão habituais entre
nós não teriam sido possíveis naquele quadro proposto por Debord, porque ali
imperava uma rígida separação entre os âmbitos público e privado. As
subjetividades modernas se arquitetavam no trânsito da fronteira entre um
ambiente e outro.
Também num retorno a Debord, a autora ressalta que
suas reflexões foram extremante valiosas, com destaque para (1) as relações que
se mercantilizam ao ser mediadas por imagens; (2) passagem do ser para o ter e
deste para o parecer; (3) deslizamentos que acompanham a ascensão de um tipo de
subjetividade cada vez mais espetacularizada; (4) triunfo de um modo de vida
baseado nas aparências e (5) a transformação de tudo em mercadorias. A autora
vai além e diz que surpreende constatar até que ponto nosso presente foi além
da consumação de todas essas tendências, vislumbradas na década de 60. Ao
contar sobre o suicídio de Guy Debord, a autora considera o posterior
lançamento dos seus filmes e obras, antes proibidos de exibição pelo próprio
cineasta, como uma irônica transformação dele num personagem e numa conseqüente
mercadoria, à serviço da sociedade do espetáculo.
Em seguida, a pesquisadora conclui que os meios de comunicação interativos estão cumprindo a
antiga promessa que nem a TV nem o cinema puderam cumprir – o youtube convida:
broadcast yourself! Sibilia cita André Lemos: “A vida privada, revelada pelas webcams
e pelos diários pessoais, é transformada em um espetáculo para olhos curiosos e
este espetáculo é a vida vivida na sua banalidade radical”. A autora segue o
texto adentrando outra discussão, ao mostrar que essa tranqüilidade conformista
que aplaude a banalidade da vida cotidiana faz parte de um projeto político
existente inclusive, em outros momentos históricos. Ela sugere que tudo isso
talvez decorra da extinção dos grandes relatos que davam sentido a vida
moderna, tanto indivual quanto coletivamente. Configura-se, pois, um cenário em
que uma multidão vocifera, mas que pode não ter nada a dizer. Uma multiplicação
de vozes que nada dizem.
Sibilia explica que por um lado, parece haver
uma libertação, um abandono do peso das tradições, dessa obrigação de ser para
sempre um eu que foi se engendrando ao longo de toda uma vida. Por outro lado,
algo se fragiliza ao se extraviarem essas referências e ao se desvanecerem
alicerces que sustentavam a subjetividade moderna. O temor de Sibilia é que o
ineditismo dessa libertação das subjetividades pode cair nas mãos do mercado,
transformando-se assim, em produtos. Por fim, a autora pondera que talvez a
verdadeira megalomania e a maior das excentricidades contemporâneas devam
encontrar seu caminho nessa resistência aparentemente humilde às tiranias da
exposição, que tudo transformam em espetáculo. Em uma sigilosa busca da riqueza
que pode haver no indizível e no imostrável e talvez também em outras formas de
criação que consigam burlar os imperativos do comunicável e do vendável. O que
nós faremos com isso é que fará toda a diferença, no final das contas.
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