domingo, 1 de abril de 2012

Fichamento - Autoapresentação e Gerenciamento de impressões [texto 2]

METTS, Sandra; GROHSKOPF, Erica. Impression Management: Goals, Strategies, and Skills. In GREENE, John O.; BURLESON, BRANT R. Handbook of Communication and Social Interaction Skills. Lawrence Erlbaum Associates, Publishers. London, 2003 (p. 357 - 399).

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Por Flora Couto e Samantha Rebelo

Sobre as autoras:

Ph.D SANDRA METTS
Professor na Illinois State University. Seu foco de estudo são as relações interpessoais e a comunicação social. Inclui a decepção nos relacionamentos mais próximos, comunicação social e Facework, definido pela Ph.D como a Identidade Social construída pelas pessoas, durante as interações sociais.

Ms. ERICA GROHSPOF
Mestre pela Illinois State University, em 2000. Trabalha na iniciativa privada, na Epic System Corporation.

Objetivos do capítulo:

O propósito do capítulo é estudar habilidades humanas envolvidas no Gerenciamento de Impressões nas relações interpessoais. Considera-se que o ser humano é avaliado minuciosamente e rotulado, pelos seus pares, através de ações verbais e não verbais e o nível de sua consciência sobre isto altera seu comportamento social, construindo ou desconstruindo objetivos de impressão, detalhados na obra.
 O texto objetiva incitar o debate sobre objetivos de imagem gerados, estratégias e classificação, discorrendo sobre o assunto e apresentando o pensamento de alguns autores sobre a temática, como Bolino (1999), Ralson e Kiskwood (1996), Jones (1964), Jones e Pittman (1982). Boa parte destes pensamentos são resultados de pesquisas empíricas com amostras, em relações genéricas, e no ambiente de trabalho, como em entrevistas para emprego.

Argumentação Central:
A consciência das pessoas sobre as impressões que seu comportamento constrói sua imagem social, em seus relacionamentos, e o efeito desta consciência no auto-gerenciamento de impressões. As habilidades de gerenciar corretamente estas impressões favorecem nossas interações, afiliações sociais, inserção e desenvolvimento profissional. O termo gerenciamento de impressão vem associado à produção de coerência comportamental que faça o outro inferir sobre quem nós somos. As apresentações de si mesmo, mais ou menos intencionadas, podem facilitar a realização dos objetivos de impressão que geraram estas estratégias de apresentações, garantindo benefícios ou evitando perdas.


Tópico 1 –  Gerenciamento de impressões: mapeando os conceitos
Quais são os objetivos que podem ser identificados de diferentes tipos de apresentações pessoais? O texto traz algumas reflexões de outros autores.
Dois autores, Jones e Pittman (1982) tentam classificar as apresentações pessoais, de acordo com tais objetivos em cinco categorias que são associadas às estratégias para transmitir o que as pessoas querem passar nas suas apresentações pessoais – como querem ser vistas, sendo que estes comportamentos condizentes com tais estratégias têm sido observados no ambiente de trabalho.
- A primeira estratégia: integração. Usada por quem quer se associar, integrar algo – Exemplo: falar o que sabe e/ou o que imagina, que o outro vai gostar de ouvir
- Segunda estratégia: self-promotion (se promover). Para quem quer passar a ideia de ser competente, por exemplo.
- Terceira estratégia: exemplificação – exemplification. Esta é para quem quer parecer digno, dá exemplos de situações em que o foi.
- Quarta: supplicaton - quem quer aparentar desamparado.
- Quinta: intimidação – quem quer aparentar ser perigoso e/ou poderoso

Ainda neste tópico, Metts e Grohskopf traz outro autor: Shutz (1998) mapeia duas estratégias para o alcance de suas metas considerando:
- a intenção ou o objetivo = querer parecer bem e tentar evitar parecer mal.
- estilo = assertivo ou agressivo.
É levantado o questionamento se características pessoais, ou patologias, como a depressão, influenciam nos tipos de objetivos escolhidos, já que identificaram várias personalidades e fatores associados à apresentação pessoal.
Uma terceira questão dos pesquisadores é se as escolhas para a apresentação pessoal, depois de um tempo, começa a influenciar na personalidade – as pessoas começam a acreditar que são aquilo que objetivaram aparentar ser. Assim, as estratégias de apresentação pessoal produzem uma atitude comportamental que influencia a identidade da pessoa, gerando novos objetivos de apresentações etc.
Também são apresentados, pelas autoras estudos que vêem o gerenciamento e estratégias de apresentações pessoais com decepção, por verem a utilização da manipulação (Schlenker, Weigold, Hallam 1990).

Tópico 2 – Identidade Social Situada - identidade para uma interação em particular.
O conceito de Identidade Social situada tem raiz na sociologia. Quando começou a ser utilizado no campo da Comunicação, o conceito passou a ter a nuance de “imagem” do self nas relações com as regras e responsabilidades disto.
As autoras apresentam duas teorias associadas à Identidade Social Situada A primeira de Goffman (1959, 1967); Face (alinhamento da Identidade Social) e Facework. A segunda é a Teoria da Polidez apresentada por Brown e Levinson (1978, 1987).
Goffman nomeia Identidades sociais como FACE e para este o importante não são as características de cada um, mas sim, os comportamentos regulares das pessoas como participantes da interação social. Fundamental é o alinhamento das identidades sociais. Goffman afirma que encontros são performances em que os atores sociais agem de acordo com suas identidades sociais específicas selecionadas para ocasião.
Performances são preparadas no backstage (em casa, por exemplo) e apresentadas em público. A Face é apenas um empréstimo que pode ser devolvida, trocada, de acordo com a situação social ou quando se age sem refletir sobre a performance.
Goffman notou que a pessoa pode estar fora de sua Identidade Social –, quando é incapaz de produzir sua Face, ou não quando não consegue encontrar a linha correta para sua atuação. Pode também usar a Face errada em uma situação, assim como ser descoberto usando uma Face inapropriada sem estar embasada em um discurso legítimo de quem realmente seja, gerando embaraço.
As estratégias de comunicação são denominadas por Goffman como FACEWORK mudam de acordo com a) sua posição naquele momento em determinada situação b) seu estilo. O autor apresenta cinco possibilidades:
Facework preventiva - Facework alterada antes de perder a Face;
Facework corretiva – usada quando perdemos a Face, ou utilizamos a errada;
Facework cooperativa - produzida de acordo com os outros, em consideração aos outros;
Facework agressiva - elaborada para engrandecer ou salvar sua Identidade Social, prejudicando a Face de outro.

Já a Teoria da Gentileza/cortesia/polidez, criada por Brown e Levison, estende o conceito de Face de Goffman, acrescentando que as preocupações da Face são motivadas por duas necessidades básicas do ser humano: autonomia e validação. Autonomia e validação são representadas como Face negativa e Face positiva, respectivamente. A negativa é o desejo de ser livre de imposições, tendo controle de seu território. A Positiva é o anseio de ser visto como detentor de qualidades para ter relacionamentos, ser incluído, inserido.
Brown e Levison trabalham também com a idéia dos atos da Face ameaçadora, chamada de FTAs, podendo ser positiva (lhe dou algo para depois você me retribuir, recompensar) ou negativa (através da ameaça).
Nesta Teoria se trabalha a idéia de que polidez e a ameaça estão profundamente presentes nos relacionamentos.

Tópico 3 – Objetivos do Gerenciamento de impressões
Os objetivos provocam planos, estratégias.
As autoras apresentam um modelo de objetivos-planos-ações (goals-plans-action) = GPA realizado por Dillard em 1998.
O GPA divide os objetivos em primários e secundários. Primários são os principais (os secundários podem ser objetivos menores gerados a partir dos primários, podendo ser artifícios para atingir os primários).
Este modelo apresenta quatro tipos principais de objetivos a) demonstrar competência social b) proteger a impressão de íntegro c) restaurar a impressão de íntegro d) construir uma impressão (para uma situação em específico).

Tópico 4 – Competência de interpretação – identificar características das situações sociais 
O maior objetivo do gerenciamento de impressão é ironicamente o objetivo de demonstrar que não faz gerenciamento de impressão. Este objetivo recebe o nome de demonstrate social competence.
Competência de interpretação também significa saber reconhecer o cenário e a impressão adequada que você deve passar para este. É importante ter um objetivo de impressão que quer passar – planejar como fará – perceber como os outros estão lhe percebendo.
Goffman (1967) utiliza o termo perceptiveness para descrever este tipo de consciência: se uma pessoa quer passar determinada impressão, tem que primeiro ter consciência de como isto vai ser visto, como aquele público percebe as situações e também reconhecer as reações da “platéia” diante da sua ação de construção, podendo consertar, redirecionar se o feedback não estiver sendo apropriado para a impressão que deseja que os outros tenham de si. Isto significa exercitar sua perceptividade.
Leary (1995) traz a reflexão sobre a Consciência de Impressão: se a pessoa não tem consciência de interpretação pode cometer gafes, se comportar inadequadamente. Quanto menos consciência, maior o risco de cometer estes erros.

4.1 - Neste tópico também é apresentada a estratégia de explorar convenções sociais.
 Muitas vezes, por convenção, fazemos solicitações que aparentam duvidar da habilidade do outro, mas que é apenas um pedido “você pode me passar o sal”?
Brown e Levinson (1987) usam o termo Conventional indirectness para se referirem ao discurso polido. Dizem que usamos indiretas convencionais para não aparentarmos ser rudes ou bruscos. Um exemplo é quando pedimos informações sobre uma localização e recebemos respostas longas como: “bem, a melhor forma de você ir para lá é ir em frente” e não apenas “vá em frente”.

Tópico Conclusão
O texto aborda vários aspectos do Gerenciamento de Impressão, detalhando objetivos, estratégias geradas para estes objetivos (planos) e as habilidades do indivíduo para lidar com a fomentação da auto-imagem, abordando alguns pilares diferenciais, como o gênero e nível de ansiedade.
 As pessoas diferem em suas consciências quanto ao que os outros pensam sobre si. Pessoas com baixa auto-estima não se mostram muito, não se vendem, em especial, se tem alguém com auto-estima maior se apresentando. Quem tem baixa auto-estima não tem ampla consciência da percepção dos outros sobre si. E tem um nível elevado de ansiedade social.
Quanto às diferenças no gerenciamento de impressões entre os sexos, os homens, no ambiente de trabalho, tendem a se auto-promoverem mais do que as mulheres. Estas, quando são gerentes, líderes, recebem mais pedidos de concessões, desculpas do que os homens, falam mais dos seus defeitos e tem maior dificuldade, no ambiente de trabalho, para gerenciar sua imagem.
O texto exemplifica bem seus conceitos com o trecho em que aborda como é comum as pessoas acordaram na segunda-feira e dizerem que estão cansadas de estarem fora de forma. No entanto, não estão acostumadas a dizerem que estão cansadas de serem vistas como menos capazes do que o que poderiam ser, com pouca competência para gerenciar técnicas de impressão, sendo que na realidade, em geral, o que incomoda não é estar fora de forma e sim serem avaliados como incapazes de se manterem dentro da forma física prevista e determinada tacitamente pela a sociedade.

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