Texto: BOYD, D. M;, ELLISON, N. B. Social network sites:
Definition, history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated
Communication, 13(1), article 11, 2007.
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Por
Sílvia Dantas e Pedro Cordier
Sobre os
autores:
BOYD,
D. M. é pesquisadora sênior da Microsoft Pesquisas, Professora Assistente e pesquisadora em Mídia, Cultura
e Comunicação na Universidade de Nova
York, pesquisadora visitante na
Harvard Law School, fellow no
Harvard's Berkman Center, professora adjunta na Universidade de Nova South Wales.
ELLISON,
N. B. é professora assistente do (EUA). Suas pesquisas têm girado em torno da compreensão das formas como as novas tecnologias de informação e comunicação moldam processos sociais (e como os processos sociais configuram as TICs). Ela tem estudado as implicações sociais dos sites de rede social e as questões de auto-apresentação, a formação e manutenção de relacionamentos e o gerenciamento de impressões em contextos online. Leciona na Universidade de Michigan as disciplinas Novas Midias, Velhas Mídias, Tecnologias da Informação e Organizações e Tópicos Especiais: as implicações sociais, culturais e psicológicas das comunicações mediadas por computador. Informações sobre publicações: https://www.msu.edu/~nellison/pubs.html.
da
Universidade do Estado de Michigan
Objetivos do capítulo:
Com base
na revisão das principais pesquisas sobre Sites de Redes Sociais (SNSs), com
ênfase naquelas reunidas no Journal of Computer-Mediated Communication – muitos dos quais procuraram compreender as práticas, implicações, cultura e o significado destes sites, além de como as pessoas engajam-se neles –, as autoras pretendem, com este artigo, apresentar
um conhecimento interdisciplinar sobre o tema. No texto, elas trazem uma
definição sobre o que são SNS; uma trajetória histórica acerca de criação e
expansão deste tipo de site (evolução e desenvolvimento), sumarizam
sinteticamente o conhecimento já produzido sobre o tema e concluem com
considerações para pesquisas futuras.
Argumentação
Central:
Como
fenômeno social emergente, os Sites de Redes Sociais (SNS) têm atraído a
atenção de inúmeros pesquisadores, seja por seu alcance planetário, atraindo
milhões de usuários em todo mundo; pelas transformações que provem em termos de
sociabilidade, introduzindo-se muitas vezes no cotidiano dos seus usuários e
influenciando seus comportamentos dentre e fora da internet; seja pela
variedade de interesses, práticas e tecnologias que reúnem.
Segundo
as autoras, embora as características tecnológicas destes sites sejam
similares, as culturas que emergem deles são as mais variadas possíveis. A
maioria dos usuários usam as SNSs para conectar-se com pessoas que já conhece,
mas há também aqueles que se unam a desconhecidos com base em interesses,
atividades ou visões comuns. Muitos SNSs nasceram e continuam
suportando/apoiando a manutenção e o fortalecimento de redes sociais pré-existentes.
Uma parte dos SNSs é dirigido a audiências variadas; outros, reúne nichos de
usuários, com base em afinidades raciais, sexuais, de linguagem, e mesmo
territoriais.
Segundo
constatam as autoras a partir da revisão blibliográfica, muitos usuários
utilizam seus perfis e sua participação nos SNSs, suas conexões e a performance
junto aos “amigos”, para construção de identidades e o gerenciamento de
impressões sobre si. A preocupação com
privacidade e como se dá a concepção de “publico” e “ privado” nas redes virtuais
também são questões que aguçam o interesse dos pesquisadores da área.
Tópico 1 - Sites de Redes Sociais: uma definição:
As
autoras definem os SNSs como um serviço que permite aos usuários (1) construir
perfis públicos e semi-públicos; (2) articular-se com outros usuários e (3)
visualizar suas conexões e a de outros usuários. Segundo as autoras, diferente
de outras formas de comunicação mediadas por computador (CMC), a prática principal
da maioria dos SNSs tem sido a conexão entre pessoas que já se conhecem – e não
entre estranhos. Por isto, elas adotam o termo network e não networking (mais
comum para relações incipientes ou iniciais). O que torna os SNSs originais ou
diferentes de outras formas de CMC é o fato de articular e dar visibilidade às
redes sociais dos usuários. Citando o conceito de Haythornthwaite (2005) sobre
“laços latentes”, estes sites possibilitam a conexão, o encontro de pessoas que
já se conhecem mas que, provavelmente, não teriam como fazê-lo se não fosse via
web.
As
autoras explicam como são construídos os perfis nas SNS, a partir do
preenchimento de formulários com informações pessoais básicas, como idade,
interesses, etc. Muitos dos sites permitem a inclusão de fotos e conteúdos
multimídia, aplicativos (Facebook) e isto ajuda a incrementar, a dar maior
visibilidade a este perfil, atraindo maior audiência para ele.
Boyd e
Ellison argumentam que os sites de Redes Sociais diferenciam-se estruturalmente
entre si em relação à forma de acesso e visibilidade aos perfis que possuem,
citando as variações entre o Facebook, o LindkIn e o My Space.
A
exposição publica das conexões dos usuários é dos aspectos mais cruciais nos
SNSs. Os serviços oferecidos para
possibilitar a troca de mensagens e conteúdos entre os usuários também são
essenciais, pois movimentam a rede reforçam as conexões entre eles
(comentários, troca de mensagens instantâneas, mensagens privadas, envio/up
load de fotos e vídeos, etc)
Tópico 2 – Uma história dos Sites
de Redes Sociais:
Muitas das
redes sociais atuais não surgiram como tal. Muitas começaram como sites de
comunidades virtuais, fóruns de discussão, provedores de blog, etc, alguns de
maneira regionalizada, inclusive, e que depois transformaram-se em sites de
redes sociais, mudando de feição e adaptando-se à medida que cresciam.
As autoras
citam que o primeiro site que pode ser chamado de Rede Social é Sixdegrees.com,
lançado em 1997, que naquela época já permitia a criação de perfis, a criação
de listas de amigos e a navegação por listas de amigos. Segundo Boyd e Ellison,
estas características já existiam em sites de relacionamento e comunidades
virtuais, mas o Sixdegrees.com foi inovador aos reunir todas estas
características num só “lugar”. Como não se tornou um negócio auto-sustentável,
embora tenha atraído milhões de usuários, foi encerrado em 2000. Na opinião de
A. Weinreich (2007), citado pelas autoras, o Sixdegrees.com estava à frente do
seu tempo.
As
autoras vão citando exemplos de SNSs surgidas entre 1997 e 2003, como o LiveJournal,
o Cyworld, o MiGente, etc, que envolviam a criação de perfis e a articulação de
amigos. A próxima “onda” nas Redes Sociais começaria em 2001, com o Ryze.com,
que foi criado com o objetivo de ajudar pessoas a alavancar suas redes de
negócios. Outras redes sociais surgiram nesta esteira, como o LinkdIn,
Tribe.net, etc. Destes, somente o LinkedIn
Através
de uma linha do tempo, as autoras apresentam os principais sites de redes
sociais criados até 2006, e escolhem três deles (Friendster, MY Space e
Facebook) como cases, por serem representativos no cenário de negócios, cultura
e pesquisa.
Segundo
Chafkin (2007), o Friendster foi uma
das maiores desilusões/fracassos da história da internet. Criado em 2002 como
um complemento do Ryse.com para promover encontros entre amigos de amigos,
rapidamente se popularizou, mas começou a enfrentar problemas técnicos e
sociais. Os servidores e bases de dados falhavam constantemente, frustrando os
usuários.
Segundo
Boyd, o crescimento geométrico também acarretou problemas sociais, como o fato
dos usuários terem que encarar seus chefes e colegas antigos de escola ao lado
de amigos mais íntimos, a criação e proliferação de perfis falsos – os fakes. A
companhia decidiu baní-los, eliminando uma prática muito popular entre os usuários,
que gostavam de visitar o “Fakesters” para se divertir ou encontrar usuários
fingindo ser outra pessoa. O site também restringiu as atividades de usuários
mais assíduos e apaixonados. A quebra de confiança entre usuários e site e os
problemas citados geraram grande insatisfação e foram fatores para o
enfraquecimento da rede social nos EUA. Curiosamente, o SNS é muito usado em
países Asiáticos.
Em
relação à trajetória do My Space, as
autoras contam que os criadores da rede queriam atrair especialmente os
usuários insatisfeitos do Friendster. Um dos que catapultaram ajudaram na
popularização do My Space foram bandas
de Indie-rock, que incentivaram seus fãs a saírem o Friendster. As bandas foram
bem-sucedidas no My Space. Elas usavam a rede para divulgar seus trabalhos e
shows e para se conectar com os fãs.
O novo
SNS se popularizou principalmente entre músicos e artistas, adolescentes e
universitários. Ele se diferenciava de outras redes sociais por (1) adicionar
características com base na demanda dos usuários e (2) permitir que eles
personalizassem seus perfis. Depois de ter sido comprado pela News Corporation
por U$ 580 milhões, a rede social foi envolvida em escândalos por conta de
suspeita de interações sexuais entre adultos e menores de idade. Algumas
pesquisas apontaram que, apesar do pânico moral e da repercussão das suspeitas,
a preocupação foi exagerada.
Refletindo
sobre redes sociais que se expandiram em nichos de comunidades e se tornaram
sucesso de audiência, as autoras relatam o case do Facebook. Criado em 2004, inicialmente como uma rede da
Universidade de Harvard, passou gradativamente a agregar usuários de outras
faculdades, escolas e rede corporativas.
Diferente
de outras redes, no Facebook os usuários (à época) não eram capazes de
construir perfis completo visíveis a todos os usuários. Mas a rede social
permitia que desenvolvedores externos construíssem aplicativos que os usuários
adotavam para personalizar seus perfis e fazer tarefas, como comparar filmes.
As autoras
compreendem as redes sociais como um fenômeno global, mas não explicam o porquê
de determinadas redes fazerem sucesso em determinados lugares e nem tanto em
outros, como é o caso do Orkut (que foi a principal rede social no Brasil
durante algum tempo), mas teve recepção morna em outros países. Citam os
exemplos de sucesso do Mixi no Japão, do Gono, na Polônia, e do Hi5 em alguns
países da América Latina.
As autoras
também registram as reações de empresas e governos ao crescimento exponencial
das redes sociais. Enquanto algumas empresas tem investido na criação,
manutenção e divulgação em redes sociais, outras estão bloqueando o acesso de
seus funcionários a este tipo de site. Frosch (2007) relata que o exercito
americano, por exemplo, proibiu os soldados de entrarem no MySpace.
Segundo
as autoras, a ascensão das redes sociais indica uma mudança na organização das
comunidades on line. Elas são organizadas em torno das pessoas – são
egocentradas; os indivíduos são o centro de sua rede social, de sua própria
comunidade. Citando Wellman (1988), as autoras defendem que este modelo é mais
apropriado para espelhar estruturas sociais não mediadas, onde “o mundo é
composto por redes e não grupos”.
Tópico 3 – Conhecimento Anterior:
O
objetivo desta parte do artigo é examinar pesquisas sobre as SNSs, identificando
o estágio em que se encontram os estudos sobre o tema. As maior parte dos
trabalhos gira em torno dos seguintes temas: (1) gerenciamento de impressões;
(2) performance na manutenção de amizades; (3) redes e estrutura de redes; (4)
conexões online e off-line; e (5) privacidade.
Segundo
Boyd (2004), num texto anterior, os SNSs são um “locus” para articulação
publica de redes redes sociais que permitem os usuários negociarem
apresentações de si e conectarem-se com outras pessoas. Boyd e Donath (2004)
sugerem que a exposição publica de conexões serve como um importante sinal
identitário que ajuda as pessoas a navegarem no mundo das redes sociais e que
uma lista extensa de amigos serve para validar as informações identitárias
informadas nos perfis.
A partir
da análise do fenômeno dos “fakesters”, Boyd argumenta que perfis em SNSs nunca
pode ser totalmente verdadeiros ou
“reais”. Já Skog (2005) defende que o status influencia como as pessoas
se comportam e o que elas escolhem revelar.
Refletindo
sobre a performance friendship, Boyd (2006) acredita que o conceito de “
amigos” nas redes sociais é diferente do conceito no senso comum; a ferramenta
“Friends” oferece uma audiência imaginada que guia normas de comportamento na
rede. Outros estudos ainda dão conta do uso da ferramenta “testemunhal” como um
instrumento de auto-apresentação ou analisam como a atratividade dos amigos
provoca impressões.
Em
relação à estrutura dos SNSs, os pesquisadores destacam a importancia das bases
de dados para a viabilização da conexão entre amigos e a ampliação dos links de
amizades. Kumar, Novak e Tomkis (2006) apontaram que numa rede social existem
membros passivos, convidadores e linkadores, e eles contribuem para evolução
social das redes.
A partir
de pesquisa sobre o Orkut, Spetus, Sahami e Buyukkokten (2005) sugeriram que os
SNSs podem usar a topologia de usuários para recomendar comunidade adicionais à
quais se interessem. E Lui, Maes e Davenport (2006) defendem que não apenas as
conexões com amigos deve ser a única estrutura de rede a ser investigada, mas
também a performance de gosto (taste fabric).
Sobre a
questão da relação de SNSs com redes sociais preexistentes, muito autores
argumentam que as interações on line reforçam as conexões off line. Foi assim
com o Facebook e com outras redes. Algumas pesquisas constataram que as SNSs
são usadas principalmente para conectar pessoas que já se conhecem – e menos
para conhecer ou interagir estranhos. Isto
reforça os laços pré-existentes fora da internet.
As
pesquisas também têm apontado o uso das redes sociais no cotidiano das pessoas.
Os usuários entram diariamente nas redes, incorporam o acesso aos SNSs às suas
práticas cotidianas.
Sobre a
questão da privacidade, outro tema que mobilizado uma parte das pesquisas, a
suposta ameaça potencial das redes sociais à privacidade encontra defensores e
pesquisadores contrários a esta tese. Acquisti e Gross (2006), por exemplo,
acreditam que há uma desconexão entre o desejo dos estudantes de proteger a
privacidade e seus comportamentos, já que eles fornecem informações pessoais
perigosas em seus perfis. Muitos adolescentes não teriam consciência da
natureza publica da internet, provocando o que se chamou de “paradoxo da privacidade”
(Barners, 2006).
Uma outra
corrente de pesquisadores acreditam que os jovens tem adotados medidas para
diminuir o risco de exporem informações pessoais nas redes sociais, como por
exemplo o uso de informações falsas, demonstrando preocupação com a privacidade.
A questão é tão complexa que permeia o campo jurídico: a polícia pode ter
acesso a informações em redes sociais sem mandado judicial para investigar
suspeitas de crimes?
Tópico 4 – Visão Geral tema
Especial da Seção:
Outras
pesquisas interessantes estão em andamento, com base em variadas teorias e
metodologias, tentando dar conta de como as experiências online e off-line estão cada vez mais
entrelaçadas. Segundo as
autoras, os trabalhos estão girando em torno de temas como a manutenção de
relacionamentos, identidade, auto-apresentação, engajamento cívico, o uso
educativo das redes sociais, etc. Elas citam os trabalhos que estão sendo
desenvolvidos por pesquisadores como Kyung-Hee Kim e Haejin Yun, Dara Byrne,
Patricia Lange e Hugo Liu, investidando redes como Cyworld, Black Planet e o My
Space.
Tópico 5 – Pesquisas Futuras:
Refletindo
sobre o andamento das pesquisas sobre redes sociais, as autoras reconhecem que
ainda há muito que se avançar. À época, os estudiosos não tinha muita clareza
de quem estava usando e não estava usando este tipo de site, e com que
objetivo. Também não havia estudos experimentais ou de longo prazo que
possibilitassem afirmações sobre causalidade de determinados fenômenos nos
SNSs.
Elas
esperam que as pesquisam que estão em andamento e que foram descritas no artigo
produzido por elas ajude no desenvolvimento de futuras pesquisas sobre SNSs.
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