sexta-feira, 6 de abril de 2012

Fichamento - Novas mídias e redes sociais digitais


Texto: BOYD, D. M;, ELLISON, N. B. Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), article 11, 2007.

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Por Sílvia Dantas e Pedro Cordier


Sobre os autores:
BOYD, D. M. é pesquisadora sênior da Microsoft Pesquisas, Professora Assistente e pesquisadora em Mídia, Cultura e Comunicação na Universidade de Nova York, pesquisadora visitante na Harvard Law School, fellow no Harvard's Berkman Center, professora adjunta na Universidade de Nova South Wales.  

Desenvolve estudos centrados em como os jovens usam a mídia social em suas práticas cotidianas. Examina como meios de comunicação social, as práticas da juventude, as tensões entre público e privado, sites de redes sociais e outras interseções entre tecnologia e sociedade. http://www.danah.org/


ELLISON, N. B. é professora assistente do Departamento de Telecomunicações, Estudos de Informação e Mídia da Universidade do Estado de Michigan (EUA). Suas pesquisas têm girado em torno da compreensão das formas como as novas tecnologias de informação e comunicação moldam processos sociais (e como os processos sociais configuram as TICs). Ela tem estudado as implicações sociais dos sites de rede social e as questões de auto-apresentação, a formação e manutenção de relacionamentos e o gerenciamento de impressões em contextos online. Leciona na Universidade de Michigan as disciplinas Novas Midias, Velhas Mídias, Tecnologias da Informação e Organizações e Tópicos Especiais: as implicações sociais, culturais e psicológicas das comunicações mediadas por computador. Informações sobre publicações: https://www.msu.edu/~nellison/pubs.html.

Objetivos do capítulo:
Com base na revisão das principais pesquisas sobre Sites de Redes Sociais (SNSs), com ênfase naquelas reunidas no  Journal of Computer-Mediated Communication – muitos dos quais procuraram compreender as práticas, implicações, cultura e o significado destes sites, além de como as pessoas engajam-se neles –, as autoras pretendem, com este artigo, apresentar um conhecimento interdisciplinar sobre o tema. No texto, elas trazem uma definição sobre o que são SNS; uma trajetória histórica acerca de criação e expansão deste tipo de site (evolução e desenvolvimento), sumarizam sinteticamente o conhecimento já produzido sobre o tema e concluem com considerações para pesquisas futuras.

Argumentação Central:
Como fenômeno social emergente, os Sites de Redes Sociais (SNS) têm atraído a atenção de inúmeros pesquisadores, seja por seu alcance planetário, atraindo milhões de usuários em todo mundo; pelas transformações que provem em termos de sociabilidade, introduzindo-se muitas vezes no cotidiano dos seus usuários e influenciando seus comportamentos dentre e fora da internet; seja pela variedade de interesses, práticas e tecnologias que reúnem. 

Segundo as autoras, embora as características tecnológicas destes sites sejam similares, as culturas que emergem deles são as mais variadas possíveis. A maioria dos usuários usam as SNSs para conectar-se com pessoas que já conhece, mas há também aqueles que se unam a desconhecidos com base em interesses, atividades ou visões comuns. Muitos SNSs nasceram e continuam suportando/apoiando a manutenção e o fortalecimento de redes sociais pré-existentes. Uma parte dos SNSs é dirigido a audiências variadas; outros, reúne nichos de usuários, com base em afinidades raciais, sexuais, de linguagem, e mesmo territoriais.

Segundo constatam as autoras a partir da revisão blibliográfica, muitos usuários utilizam seus perfis e sua participação nos SNSs, suas conexões e a performance junto aos “amigos”, para construção de identidades e o gerenciamento de impressões sobre si.  A preocupação com privacidade e como se dá a concepção de “publico” e “ privado” nas redes virtuais também são questões que aguçam o interesse dos pesquisadores da área.  


Tópico 1 -  Sites de Redes Sociais: uma definição:
As autoras definem os SNSs como um serviço que permite aos usuários (1) construir perfis públicos e semi-públicos; (2) articular-se com outros usuários e (3) visualizar suas conexões e a de outros usuários. Segundo as autoras, diferente de outras formas de comunicação mediadas por computador (CMC), a prática principal da maioria dos SNSs tem sido a conexão entre pessoas que já se conhecem – e não entre estranhos. Por isto, elas adotam o termo network e não networking (mais comum para relações incipientes ou iniciais). O que torna os SNSs originais ou diferentes de outras formas de CMC é o fato de articular e dar visibilidade às redes sociais dos usuários. Citando o conceito de Haythornthwaite (2005) sobre “laços latentes”, estes sites possibilitam a conexão, o encontro de pessoas que já se conhecem mas que, provavelmente, não teriam como fazê-lo se não fosse via web. 

As autoras explicam como são construídos os perfis nas SNS, a partir do preenchimento de formulários com informações pessoais básicas, como idade, interesses, etc. Muitos dos sites permitem a inclusão de fotos e conteúdos multimídia, aplicativos (Facebook) e isto ajuda a incrementar, a dar maior visibilidade a este perfil, atraindo maior audiência para ele.

Boyd e Ellison argumentam que os sites de Redes Sociais diferenciam-se estruturalmente entre si em relação à forma de acesso e visibilidade aos perfis que possuem, citando as variações entre o Facebook, o LindkIn e o My Space.

A exposição publica das conexões dos usuários é dos aspectos mais cruciais nos SNSs.  Os serviços oferecidos para possibilitar a troca de mensagens e conteúdos entre os usuários também são essenciais, pois movimentam a rede reforçam as conexões entre eles (comentários, troca de mensagens instantâneas, mensagens privadas, envio/up load de fotos e vídeos, etc)


Tópico 2 – Uma história dos Sites de Redes Sociais:
Muitas das redes sociais atuais não surgiram como tal. Muitas começaram como sites de comunidades virtuais, fóruns de discussão, provedores de blog, etc, alguns de maneira regionalizada, inclusive, e que depois transformaram-se em sites de redes sociais, mudando de feição e adaptando-se à medida que cresciam.

As autoras citam que o primeiro site que pode ser chamado de Rede Social é Sixdegrees.com, lançado em 1997, que naquela época já permitia a criação de perfis, a criação de listas de amigos e a navegação por listas de amigos. Segundo Boyd e Ellison, estas características já existiam em sites de relacionamento e comunidades virtuais, mas o Sixdegrees.com foi inovador aos reunir todas estas características num só “lugar”. Como não se tornou um negócio auto-sustentável, embora tenha atraído milhões de usuários, foi encerrado em 2000. Na opinião de A. Weinreich (2007), citado pelas autoras, o Sixdegrees.com estava à frente do seu tempo.

As autoras vão citando exemplos de SNSs surgidas entre 1997 e 2003, como o LiveJournal, o Cyworld, o MiGente, etc, que envolviam a criação de perfis e a articulação de amigos. A próxima “onda” nas Redes Sociais começaria em 2001, com o Ryze.com, que foi criado com o objetivo de ajudar pessoas a alavancar suas redes de negócios. Outras redes sociais surgiram nesta esteira, como o LinkdIn, Tribe.net, etc. Destes, somente o LinkedIn

Através de uma linha do tempo, as autoras apresentam os principais sites de redes sociais criados até 2006, e escolhem três deles (Friendster, MY Space e Facebook) como cases, por serem representativos no cenário de negócios, cultura e pesquisa.

Segundo Chafkin (2007), o Friendster foi uma das maiores desilusões/fracassos da história da internet. Criado em 2002 como um complemento do Ryse.com para promover encontros entre amigos de amigos, rapidamente se popularizou, mas começou a enfrentar problemas técnicos e sociais. Os servidores e bases de dados falhavam constantemente, frustrando os usuários.

Segundo Boyd, o crescimento geométrico também acarretou problemas sociais, como o fato dos usuários terem que encarar seus chefes e colegas antigos de escola ao lado de amigos mais íntimos, a criação e proliferação de perfis falsos – os fakes. A companhia decidiu baní-los, eliminando uma prática muito popular entre os usuários, que gostavam de visitar o “Fakesters” para se divertir ou encontrar usuários fingindo ser outra pessoa. O site também restringiu as atividades de usuários mais assíduos e apaixonados. A quebra de confiança entre usuários e site e os problemas citados geraram grande insatisfação e foram fatores para o enfraquecimento da rede social nos EUA. Curiosamente, o SNS é muito usado em países Asiáticos.

Em relação à trajetória do My Space, as autoras contam que os criadores da rede queriam atrair especialmente os usuários insatisfeitos do Friendster. Um dos que catapultaram ajudaram na popularização  do My Space foram bandas de Indie-rock, que incentivaram seus fãs a saírem o Friendster. As bandas foram bem-sucedidas no My Space. Elas usavam a rede para divulgar seus trabalhos e shows e para se conectar com os fãs.

O novo SNS se popularizou principalmente entre músicos e artistas, adolescentes e universitários. Ele se diferenciava de outras redes sociais por (1) adicionar características com base na demanda dos usuários e (2) permitir que eles personalizassem seus perfis. Depois de ter sido comprado pela News Corporation por U$ 580 milhões, a rede social foi envolvida em escândalos por conta de suspeita de interações sexuais entre adultos e menores de idade. Algumas pesquisas apontaram que, apesar do pânico moral e da repercussão das suspeitas, a preocupação foi exagerada.

Refletindo sobre redes sociais que se expandiram em nichos de comunidades e se tornaram sucesso de audiência, as autoras relatam o case do Facebook. Criado em 2004, inicialmente como uma rede da Universidade de Harvard, passou gradativamente a agregar usuários de outras faculdades, escolas e rede corporativas.

Diferente de outras redes, no Facebook os usuários (à época) não eram capazes de construir perfis completo visíveis a todos os usuários. Mas a rede social permitia que desenvolvedores externos construíssem aplicativos que os usuários adotavam para personalizar seus perfis e fazer tarefas, como comparar filmes.

As autoras compreendem as redes sociais como um fenômeno global, mas não explicam o porquê de determinadas redes fazerem sucesso em determinados lugares e nem tanto em outros, como é o caso do Orkut (que foi a principal rede social no Brasil durante algum tempo), mas teve recepção morna em outros países. Citam os exemplos de sucesso do Mixi no Japão, do Gono, na Polônia, e do Hi5 em alguns países da América Latina. 

As autoras também registram as reações de empresas e governos ao crescimento exponencial das redes sociais. Enquanto algumas empresas tem investido na criação, manutenção e divulgação em redes sociais, outras estão bloqueando o acesso de seus funcionários a este tipo de site. Frosch (2007) relata que o exercito americano, por exemplo, proibiu os soldados de entrarem no MySpace.

Segundo as autoras, a ascensão das redes sociais indica uma mudança na organização das comunidades on line. Elas são organizadas em torno das pessoas – são egocentradas; os indivíduos são o centro de sua rede social, de sua própria comunidade. Citando Wellman (1988), as autoras defendem que este modelo é mais apropriado para espelhar estruturas sociais não mediadas, onde “o mundo é composto por redes e não grupos”.


Tópico 3 – Conhecimento Anterior:
O objetivo desta parte do artigo é examinar pesquisas sobre as SNSs, identificando o estágio em que se encontram os estudos sobre o tema. As maior parte dos trabalhos gira em torno dos seguintes temas: (1) gerenciamento de impressões; (2) performance na manutenção de amizades; (3) redes e estrutura de redes; (4) conexões online e off-line; e (5) privacidade.

Segundo Boyd (2004), num texto anterior, os SNSs são um “locus” para articulação publica de redes redes sociais que permitem os usuários negociarem apresentações de si e conectarem-se com outras pessoas. Boyd e Donath (2004) sugerem que a exposição publica de conexões serve como um importante sinal identitário que ajuda as pessoas a navegarem no mundo das redes sociais e que uma lista extensa de amigos serve para validar as informações identitárias informadas nos perfis.

A partir da análise do fenômeno dos “fakesters”, Boyd argumenta que perfis em SNSs nunca pode ser totalmente verdadeiros ou  “reais”. Já Skog (2005) defende que o status influencia como as pessoas se comportam e o que elas escolhem revelar.

Refletindo sobre a performance friendship, Boyd (2006) acredita que o conceito de “ amigos” nas redes sociais é diferente do conceito no senso comum; a ferramenta “Friends” oferece uma audiência imaginada que guia normas de comportamento na rede. Outros estudos ainda dão conta do uso da ferramenta “testemunhal” como um instrumento de auto-apresentação ou analisam como a atratividade dos amigos provoca impressões.

Em relação à estrutura dos SNSs, os pesquisadores destacam a importancia das bases de dados para a viabilização da conexão entre amigos e a ampliação dos links de amizades. Kumar, Novak e Tomkis (2006) apontaram que numa rede social existem membros passivos, convidadores e linkadores, e eles contribuem para evolução social das redes.

A partir de pesquisa sobre o Orkut, Spetus, Sahami e Buyukkokten (2005) sugeriram que os SNSs podem usar a topologia de usuários para recomendar comunidade adicionais à quais se interessem. E Lui, Maes e Davenport (2006) defendem que não apenas as conexões com amigos deve ser a única estrutura de rede a ser investigada, mas também a performance de gosto (taste fabric).

Sobre a questão da relação de SNSs com redes sociais preexistentes, muito autores argumentam que as interações on line reforçam as conexões off line. Foi assim com o Facebook e com outras redes. Algumas pesquisas constataram que as SNSs são usadas principalmente para conectar pessoas que já se conhecem – e menos para conhecer ou interagir estranhos.  Isto reforça os laços pré-existentes fora da internet.

As pesquisas também têm apontado o uso das redes sociais no cotidiano das pessoas. Os usuários entram diariamente nas redes, incorporam o acesso aos SNSs às suas práticas cotidianas.

Sobre a questão da privacidade, outro tema que mobilizado uma parte das pesquisas, a suposta ameaça potencial das redes sociais à privacidade encontra defensores e pesquisadores contrários a esta tese. Acquisti e Gross (2006), por exemplo, acreditam que há uma desconexão entre o desejo dos estudantes de proteger a privacidade e seus comportamentos, já que eles fornecem informações pessoais perigosas em seus perfis. Muitos adolescentes não teriam consciência da natureza publica da internet, provocando o que se chamou de “paradoxo da privacidade” (Barners, 2006).

Uma outra corrente de pesquisadores acreditam que os jovens tem adotados medidas para diminuir o risco de exporem informações pessoais nas redes sociais, como por exemplo o uso de informações falsas, demonstrando preocupação com a privacidade. A questão é tão complexa que permeia o campo jurídico: a polícia pode ter acesso a informações em redes sociais sem mandado judicial para investigar suspeitas de crimes?


Tópico 4 – Visão Geral tema Especial da Seção:
Outras pesquisas interessantes estão em andamento, com base em variadas teorias e metodologias, tentando dar conta de como as experiências online e off-line estão cada vez mais entrelaçadas. Segundo as autoras, os trabalhos estão girando em torno de temas como a manutenção de relacionamentos, identidade, auto-apresentação, engajamento cívico, o uso educativo das redes sociais, etc. Elas citam os trabalhos que estão sendo desenvolvidos por pesquisadores como Kyung-Hee Kim e Haejin Yun, Dara Byrne, Patricia Lange e Hugo Liu, investidando redes como Cyworld, Black Planet e o My Space.

Tópico 5 – Pesquisas Futuras:
Refletindo sobre o andamento das pesquisas sobre redes sociais, as autoras reconhecem que ainda há muito que se avançar. À época, os estudiosos não tinha muita clareza de quem estava usando e não estava usando este tipo de site, e com que objetivo. Também não havia estudos experimentais ou de longo prazo que possibilitassem afirmações sobre causalidade de determinados fenômenos nos SNSs.

Elas esperam que as pesquisam que estão em andamento e que foram descritas no artigo produzido por elas ajude no desenvolvimento de futuras pesquisas sobre SNSs. 

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