BARASH, Vladimir; DUCHENEAUT, Nicolas; ISAACS, Ellen; BELLOTTI, Victoria. Faceplant: Impression (Mis)management in Facebook Status Updates. Proceedings of the Fourth International AAAI Conference on Weblogs and Social Media, 2010.
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Por Andréa Souza, Leila Nogueira e Roberto Martins
VLADIMIR BARASCH é doutor em Ciências da Informação pela Cornell University. Seu interesse de pesquisa aborda mídias sociais e gerenciamento de impressão.
NICOLAS DUCHENEAUT é membro do laboratório de pesquisa em Ciências da Computação da Universidade de Palo Alto e doutor pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Sua pesquisa tem como foco a análise das interações sociais em ambientes online, assim como o desenvolvimento de ferramentas de análise específicas para este tipo de interação.
ELLEN ISAACS é pesquisadora da Universidade de Palo Alto e doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Stanford.
VICTORIA BELLOTTI é doutora em Interação Homem-Computador e pesquisadora da Universidade de Palo Alto, sendo conhecida por suas pesquisas sobre gerenciamento de informações pessoais através do uso da tecnologia.
Objetivos do paper: Apresentar os dados da pesquisa dos autores a partir de um aplicativo, desenvolvido pelos mesmos, cujo objetivo é a análise das impressões emitidas (given) e transmitidas (given off), de forma mais fluída, tendo como base as atualizações do status no perfil pelos usuários do Facebook.
Argumentação Central: De acordo com os autores, os usuários do Facebook, em geral, são bem sucedidos no tocante ao apresentar uma imagem positiva de si mesmos (impressões emitidas – given). No entanto, estes mesmos usuários do site de redes sociais (SRSs) em questão têm consciência parcial de como eles estão sendo vistos pelos outros (impressões transmitidas – given off), além de superestimarem a força da impressão que promovem.
Através das teorias de Goffman sobre gerenciamento de impressões, enquadramentos e performances, os autores do paper afirmam que em outros SRSs (os citados foram Twitter e Facebook), os usuários possuem consciência do processo de gerenciamento de impressões a partir das informações emitidas (given). Entretanto, ressalta-se que Goffman interessava-se pelos momentos em que os indivíduos se “desligavam” desse estado de consciência e cometiam pequenos “deslizes”, a partir de informações transmitidas (given off). Os autores discutem que, no Facebook, esses momentos são comuns e se propõem a estudá-los através das micro-atualizações dos perfis do referido site.
Tópico 1 – Measuring Micro Impression Management (medindo a gestão da impressão pelo micro). Os autores do paper afirmam que o trabalho de Goffman, ao mesmo tempo em que fornece uma metáfora bem estabelecida (palco e plateia), para compreender o gerenciamento de impressões, o mesmo permanece vago sobre as dimensões que constituem uma impressão em prática. É apresentado o conceito de face para Goffman (1963): “o valor social e positivo que uma pessoa efetivamente reivindica para si mesmo e que os outros supõem que foi tomada durante um contato específico. [...] É uma imagem de si, delineada em termos de atributos sociais aprovados”. Mas, os autores salientam que Goffman não forneceu uma lista de táticas com as quais as pessoas usariam durante a face-work, nem tão pouco o referido autor forneceu também uma taxonomia de formação de impressões. Neste sentido, o trabalho cita outros autores - Jones e Pittman (1982), McClelland (1988) e Leary (1995) - que tentaram preencher essa lacuna deixada por Goffman, explicitando táticas usadas durante o processo da gestão da impressão.
Barash, Ducheneaut, Isaacs e Bellotii tentaram adotar uma das taxonomias apresentadas pelos pesquisadores também citados no trabalho para caracterizar face-work no Facebook, mas concluíram que a maioria delas não se aplicava a maior parte das atualizações feitas pelos usuários no site de rede social pesquisado. Os autores destacam que a não aplicabilidade de tais taxonomias é fruto do que Goffman chamou de “contextualidade de gerenciamento de impressões”.
Ainda servindo-se da definição de Goffman sobre face-work, os autores desenvolveram um estudo piloto com mais de 20 usuários do Facebook e construíram uma lista de categorias as quais caracterizavam as principais dimensões coletadas. Estas dimensões são binárias para capturar a noção de “valor social positivo” contra o valor negativo correspondente.
As dimensões:
1) Legal / Não legal;
2) Divertido / Chato;
3) Motivante / Deprimente;
4) Auto-depreciativo / Auto-importante;
5) Compreensivo / Crítico
Os autores destacam que a partir destas dimensões não capturam, plenamente, a diversidade do face-work no SRSs estudado, mas, as mesmas capturam as impressões que usuários pesquisados acreditam serem ‘dadas’ e ‘subentendidas’, na maioria das atualizações de status. Em seguida, os pesquisadores usaram as dimensões para avaliar o alinhamento entre as impressões que as pessoas pretendem emitir com as impressões que os outros formam delas.
Tópico 2 – Methods (métodos). O aplicativo avalie seu feed de notícias apresenta aos usuários pesquisados uma lista de posts do seu feed de notícias, incluindo a sua própria mensagem e as de seus amigos. Cada post apresentava uma imagem do usuário publicador, o seu nome e o texto postado. Nenhuma ‘curtição’ ou comentário foram exibidos com a publicação, para não influenciar as percepções das pessoas. Abaixo de cada post foi colocado um conjunto de cinco barras deslizantes, um para cada uma das cinco dimensões da gestão da impressão, além de uma caixa de texto pedindo um adjetivo para descrever a forma como a pessoa ‘reagiu’ à publicação.
Tópico 3 – Results (resultados). Foram coletados dados de 100 participantes ao longo de 21 dias, resultando em 674 atualizações avaliadas. Destas, 575 foram atualizações de status de outras pessoas e 99 foram das próprias publicações dos participantes. Somente 30 publicações foram coletadas nas quais se verificaram avaliações tanto do próprio participante quanto por pelo menos por um amigo.
Tópico 4 – Relevance of Dimensions (relevância das dimensões). O resultado indica que as dimensões propostas pelos autores capturam as impressões da maioria dos tipos de atualizações de status do Facebook. Isto forneceu uma primeira indicação ao quarteto: de que pode haver um intervalo entre as impressões que pessoas acreditam estar emitindo e as impressões que elas formam dos outros.
Os resultados obtidos:
I – Ao avaliarem as publicações dos amigos:
a) Divertido / Chato – 47% das publicações;
b) Legal / Não Legal – 38%;
c) Compreensiva / Crítica – 35%;
d) Motivante / Deprimente – 34%;
e) Auto-importante / Auto-depreciativo – 28%.
II – Ao se auto-avaliarem:
a) Legal / Não Legal – 35%;
b) As demais dimensões (Divertido / Chato, Compreensiva / Crítica, Motivante / Deprimente, Auto-importante / Auto-depreciativo) – variando entre 24% a 28%.
Com base nestes dados, os autores consideraram que uma vez que as dimensões mais relevantes foram Divertido / Chato e Legal / Não Legal poderiam capturar um pouco de “valor social positivo que uma pessoa efetivamente reclama para si mesmo” (Goffman, 1963), no contexto do Facebook. Ou seja, ver um monte de atualizações ‘legais’ e ‘interessantes’ moldariam a percepção de um usuário sobre o que constitui face-work ‘bem sucedido’ nos sites de redes sociais, a exemplo do Facebook.
Tópico 5 – Alignment of Impressions Given vs. Given Off (alinhamento de impressões emitidas versus transmitidas).
No paper, os autores afirmam que “the crux of our interest is the degree to which the impressions people thik they are giving are aligned with the impressions others form of them” (o ponto crucial de nosso interesse é o grau em que as impressões que as pessoas acham que estão dando estão alinhadas com as impressões que os outros formam sobre elas). Para explorar tal questão, os autores compararam como as pessoas se avaliavam com relação à forma como os outros as avaliavam, tendo como base cada uma das cinco dimensões propostas.
No paper, os autores afirmam que “the crux of our interest is the degree to which the impressions people thik they are giving are aligned with the impressions others form of them” (o ponto crucial de nosso interesse é o grau em que as impressões que as pessoas acham que estão dando estão alinhadas com as impressões que os outros formam sobre elas). Para explorar tal questão, os autores compararam como as pessoas se avaliavam com relação à forma como os outros as avaliavam, tendo como base cada uma das cinco dimensões propostas.
No geral, as pessoas foram bem sucedidas em projetar uma imagem positiva delas mesmas, exceto por uma tendência a se expressar como ‘auto-importante’. Já os dados de auto-avaliação sugerem que, enquanto as pessoas acreditam que estavam se retratando como ‘compreensivas’, elas não estavam tão cientes das impressões que estavam criando ao longo das outras dimensões.
Em seguida, os autores verificaram se as pessoas tinham noção do grau em que elas estavam emitindo essas impressões. Ao se avaliar e ao avaliar o outro, foi analisado a proporção de avaliações negativas para positiva ao longo de cada dimensão. Embora as pessoas soubessem que estavam se expressando como mais ‘auto-importante’ do que ‘auto-depreciativa’, elas subestimaram o grau em que isto se dava. Do mesmo modo, embora as pessoas acreditassem estar se saindo como ‘compreensivas’, elas superestimaram o grau em que isto acontecia.
Segundo os autores, não houve diferenças significativas entre si e outras classificações sobre as dimensões restantes.
Tópico 6 – Face-work that Provokes a Response (Face-work que provoca uma resposta).
Outro interesse dos autores foi ver quais tipos de publicações tinham a maior probabilidade de provocar uma resposta através dos comentários de texto e avaliações ‘curtir’.
Outro interesse dos autores foi ver quais tipos de publicações tinham a maior probabilidade de provocar uma resposta através dos comentários de texto e avaliações ‘curtir’.
As publicações que foram vistas como ‘divertidas’ e ‘deprimentes’ provocaram mais comentários do que as ‘chatas’ e ‘motivantes’. No entanto, os autores não encontram um padrão nos tipos de publicações que conquistaram votos ‘curtir’.
A experiência subjetiva do Facebook, na visão dos autores, sugere que estes resultados podem refletir dois padrões comuns de comentários: a) o fático (Schneider, 1998), muitas vezes visto depois de uma mensagem divertida (‘há, há, há’, ‘hilariante’, ‘rs’, ‘kkk’); b) ou ofertas de simpatia como ‘coitado de você’ ou ‘ isso é terrível’, oferecidas depois de um participante anunciar más notícias.
Os autores destacam ainda que os ‘risos’ gerados por atualizações de entretenimento ilustram como ser engraçado é um dos ‘atributos sociais aprovados’ (Goffman, 1963) que participantes querem reforçar através de feedback positivo explícito no contexto do Facebook.
Tópico 7 – Conclusão.
Os autores concluem o paper declarando que esta análise inicial esclarece algumas questões sobre o ‘jogo de gerenciamento de impressões’ reproduzido através das atualizações de status do Facebook.
Os autores concluem o paper declarando que esta análise inicial esclarece algumas questões sobre o ‘jogo de gerenciamento de impressões’ reproduzido através das atualizações de status do Facebook.
A prevalência das dimensões ‘legal’ e ‘divertida’ sugere que estas dimensões são altamente relevantes para o sucesso da face-work em sites de redes sociais, uma vez que as publicações, assim caracterizadas, atraem mais comentários do que as demais.
Enquanto os usuários se esforçam (e muitas vezes conseguem) projetar uma imagem positiva ao longo destas dimensões, eles subestimam o quanto certas atualizações os tornam ‘auto-importantes’. Esta descoberta alinha-se com uma percepção comum de que as atualizações podem ir ‘longe demais’ e projetar uma imagem de auto-engrandecimento que se choca com o tom leve da maioria dos SRSs.
Para finalizar, os autores afirmam que “em um mundo de contato permanente (Joinson, 2008), onde as pessoas formam impressões rápidas e duradouras dos outros (Gosling et al., 2007; Stecher & Counts, 2008) nossos dados mostram que os usuários, agora mais do que nunca, precisam caminhar numa linha tênue entre as impressões que eles ‘dão’ (given) e, inadvertidamente, ‘emitem’ (given off) (Goffman, 1959”.
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