BURKITT, Ian. Social Selves – Theories Of Self And Society. SAGE Publications Inc. Thousand Oaks, California. 2008. p. 162-186.
HOGG, Michael A.; VAUGHAN, Graham M. Essentials of social psychology. Published Harlow: Pearson Education,
2010 (p. 64 - 90).
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> Tendo em vista que a personalidade é formada a partir da interação social, quais mundaças se consolidam num cenário em que grande parte das relações se dão sem o contato físico. Até que ponto existe uma mudança já que cada vez mais virtual é naturalizado e encarado como uma extensão do real?
> Numa sociedade de relações interpessoais mais frágeis, a identidade social — cada vez mais forte pois com as redes online a formação de grupos sociais se depara com barreiras geográficas — acaba por se sobrepor à identidade pessoal?
> Tendo em vista que a identidade na contemporaneidade é intrinsecamente ligada ao capitalismo globalizado e à redução da estabilidade do mercado de trabalho, haverá um aprofundamento do fosso entre capital e trabalho? E qual será a influência das redes online na organização e acúmulo de forças dos trabalhadores? Elas seão capazes de se tornar um contraponto que torne esta uma disputa de forças menos desiguais?
> Num cenário em que, além dos laços pessoais fracos, os laços sociais emintentemente comunitários também estão em declínio, o noticiário de caráter local acaba se tornando menos essencial? Há um impacto deste contexto social no nível de interesse no consumo de notícias e fidelização nos jornais locais?
> Se somos moldados pelo meio que vivemos, somos totalmente influenciáveis. O que de nós permanece nosso e porque?
> Citados por Burkitt, diversos autores tentam caracterizar este mundo contemporâneo (postmodernity, high-modernity, liquid modernity) de grande diversidade e múltiplas escolhas, em que nós podemos ser muitos e negociamos a todo instante nosso self nas interações sociais. No entanto, este mesmo mundo, que encontra expressão maior de liberdade na Internet e suas redes sociais, não camuflaria na realidade uma constante vigilância em que não nos é possível esconder/escapar de nosso core self?
> Já na introdução Hogg e Vaughan sugerem que o self e a identidade são construtos cognitivos que influenciam a interação social e são eles próprios influenciados pela sociedade. Como sustentar então o self-enhancement - a tendência de favorecer auto imagens positivas - no caso do pertencimento a determinados grupos que enfrentam uma configuração social estigmatizada no contexto brasileiro? Seria essa configuraçao social desfavorável ao mesmo tempo o desafio e o mote para a auto-afirmação?
> Stuart Hall já tem dito que o processo de
descentralização e deslocamento que a identidade do sujeito pós-modeno passou a
sofrer é decorrência das transformações iniciadas com a modernidade. Por
identidade aqui discute-se como aquela que é estabelecida de forma relacional e
a partir da representação inserida em um sistema de significações e
representações simbólicas que lhe dão sentido. A identidade prática, portanto,
é forjada em uma cultura política de costumes, atitudes, valores e
comportamentos e transformações constantes, mesclando, dessa forma, velhos e
novos valores, cuja eficácia de suas práticas é colocada em dúvida é a que
passa a ser discutida no texto “Self in contemporary society”.
Ian Burkitt traz a análise desse processo
de construção de identidade, a partir da exame dos pontos de referência da
identidade e do “eu” como um narrativa biográfica. Colocando, portanto, em
xeque aquilo que acreditamos ser, como auto-idealização, e o que realmente
somos, afirmando que certamente somos muito diferentes do que achamos ser. A
partir da análise da teoria de Kenneth J. Gergen sobre a saturação social e do
“self”, o autor ao lançar mão dessa teoria, dialoga com muitas outras, como as
de Mikhail Bakhtin, Fredric Jameson, Jean-François Lyotard, Anthony Giddens, Jean
Baudrillard e Zygmunt Bauman.
Chega-se
a conclusão de que estamos diante de uma encruzilhada de relações na construção
do próprio “eu”, cujas referências são instáveis. Em
Giddens, a identidade é definida como uma narrativa reflexiva do eu e aparece no contexto de uma leitura
do impacto causado pelas transformações da modernidade na experiência
individual, como uma articulação, portanto, entre a experiência subjetiva e os
modos de organização social. Tal forma narrativa teria como funções básicas
estabelecer no campo da subjetividade a continuidade entre passado, presente e
futuro e garantir a integridade psicológica, bem como o mínimo de segurança
ontológica que permite enfrentar o contexto de risco e a sensação de
insegurança que caracterizam o mundo atual. Bauman, por sua vez, mostra que
neste mundo cambiante e multifacetado, torna-se difícil manter a idéia de
identidade, para ele as identidade “flutuam no ar”, algumas de nossa
própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta.
Para eles não podemos escapar das demandas a que somos submetidos na
modernidade líquida e daqueles que estão a nossa volta. Assim, nos refazemos de
acordo com o que é requerido pela situação e também no estado crônico das
dúvidas.
Já
com Bakhtin, o autor com o conceito do caráter plural da linguagem, das vozes
sociais que se colocam enquanto posicionamentos nos discursos, da polifonia, da
polissemia e da saturação semântica das palavras da língua e das muitas vozes
do discurso que permeiam nosso diálogo e fazem parte do processo de construção
do “eu”, portanto da nossa identidade (“nossa?”).
Dessa
maneira, para Burkitt, estamos tentando criar uma identidade sem a clara idéia
do que teríamos como resultado, uma vez que vivemos num mundo em que os fragmentos
de nossas vidas estão no interior de episódios desconectados ou que refletem
diversas imagens do que nós somos aos olhos de quem está ao nosso redor.
Diante
disso, como, pois, manter um discurso coeso do “eu biográfico” na
contemporaneidade? Como manter uma idéia de identidade diante da saturação
social apontada no texto, diante de um fluxo da necessidade de adaptabilidade
da identidade às demandas que lhes são impostas?
Qual,
pois, o sentido do questionamento “Quem sou eu?” nesse contexto? O que realmente
se espera como resposta ao se fazer tal pergunta?
> Com tantas opções digitais e diversas possibilidades de mudanças, como construir nossa própria identidade, considerando os fragmentos de nós mesmos deixados em redes sociais distintas, com difusão super ampliada da nossa imagem, e também em tantos lugares tangíveis distintos, que podemos ir tão mais facilmente, considerando que a forma como nos vemos, nos definimos, está sempre conectada com a imagem que os outros têm de nós?
> A constante possibilidade de desconexão do lugar físico que estamos (por uma chamada no celular, um e-mail) aumenta nossa tensão, pela iminência de a qualquer momento precisarmos ir encontrar alguém no espaço virtual, e sermos obrigados a estar no tangível e virtual simultaneamente?
> Elenque aspectos/características da pós-modernidade que têm contribuído para a disseminação, em um número crescente de indivíduos, de sentimentos como angústia, insegurança e depressão?
> A partir das discussões trazidas pelo texto, qual a relação do capitalismo com a conformação e/ou corrupção do caráter e da identidade do indivíduo (self) ou indivíduos (selves)?
> O acesso a circulação de informações (presencial ou virtual) pode ser pensada como experiência, e esta como lugar de saber?
> Para relacionar-se nos mais variados ambientes, é necessária a construção de uma identidade que seja compatível com o perfil dos indivíduos que fazem parte destes locais. O que diferencia os processos de construção de imagem no âmbito digital e no real?
> A necessidade de assumir variadas personas para adequação aos meios digitais, pode causar uma descaracterização de identidade pessoal no âmbito real?
> Que
papel desempenha os SELFs (selves) durante a conexão com os nós das redes
sociais?
> Que componentes se combinam na equação da qual resulta o self? Experiências vividas, conexões internas, medos, expectativas? Qual peso teria os componentes internos e os componentes externos nessa equação? 50/50%?
> A autoestima é construída, também, a partir da vivência em sociedade? Daquilo que esperamos que seja valorizada, em nós, a partir do olhar do outro?
> Quem
sou/somos eu/nós?
> A mudança da modernidade para o que Gergen classifica como pós modernidade incide, sobretudo, nos reflexos da velocidade à qual está submetida a sociedade contemporânea. Neste sentido, o rompimento com certas tradições como as relações interpessoais (em espaço físico), além de serem efeitos deste tempo, não seriam também agentes da crise de identidade que se estabelece?
> As chamadas "tecnologias de saturação social" que, à vista de alguns autores, acabam por dissolver as relações construídas no âmbito local, não se encontram, atualmente, em outro estágio, visto sua potencialidade na difusão de mensagens e consequente capacidade de organização social, a exemplo dos flash mobs?
> A noção de Self está, então, relacionada a algo como Consciência ou mesmo o que alguns costumam chamar de Juízo? Pode ser compreendida como uma faculdade mental que dá conta dos processos intuitivos e cognitivos e, portanto, se configura a partir das experiências?
> É o Self que operacionaliza a identidade num contexto social? Ele funciona como uma entidade que filtra e ao mesmo tempo gerencia as representações úteis para definir (e redefinir) quem somos e como conseguiremos viver bem em sociedade hoje e num futuro onde os conceitos e valores já não serão mais os mesmos?
> No texto Self in contemporary society, no penúltimo e último parágrafo da página 174, Burkitt aborda sobre a mobilidade de capitais e pessoas em um momento de “ligth capitalism”. Nesta etapa, característica do Século XXI, uns como outros, estariam “prontos pra movimentar”. De tal sorte, num “mundo em fragmentação”, onde as tecnologias apontam para a mobilidade, não seria um contra-senso o surgimento de empreendimentos imobiliários, ao mesmo tempo residenciais e empresarias, os quais divulgam como sua grande vantagem justamente a imobilidade? Ou seja, a fato de se ter tudo no mesmo local. Ou será que Salvador chega tardiamente a este fenômeno?
> Não é raro, ouvir várias pessoas diferentes, de estilos e modos de ser diferenciadas umas das outras, dizer diante de uma composição musical que: “esta letra parece que foi feita pra mim!”. Vaughan trata desta questão, quando diz na página 65 de Self, Identiti Society que “in this sense that the self can be a shared or collective self – a “we” or “us”. De tal forma, imaginando que a identidade individual é também formada pela identidade coletiva e as pessoas tem um leque comum de experiência, como poderíamos imaginar o self de uma pessoa que, numa situação hipotética, não tivesse construído a sua vida em sociedade?
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