DONATH, J; BOYD, D. Public displays of connection. BT Technology Journal, 22 (4), 2004, (p. 71-82).
GEORGALOU, Mariza. "Pathfinding" Discourse of Self in Social Networks Sites. In TAIWO, Rotimi. Handbook of Research on Discourse Behavior and Digital Communication - Language Structures and Social Interaction. IGI Global, New York, 2010. (p. 39 - 62)
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- Quando Mariza Georgalou traz a perspectiva dos desenvolvedores web, considerando que eles não apenas constroem um mundo virtual, mas são responsáveis pelos "selves" que o habitam (p. 45), não poderíamos pensar que os softwares também são em boa medida moldados e apropriados a partir de sentidos diferentes por grupos sociais diferentes através de suas práticas? Uma ferramenta web concebida para suprir uma determinada necessidade do usuário não poderia afinal ser usada com outro objetivo? É possível escapar à ideia de Software Cultural (Manovich, 2011), uma vez que ele carrega "átomos" da cultura em que está inserido?
- Donath e Boyd suscitam a ideia de que redes grandes e heterogêneas trazem como benefício o acesso a uma maior gama de informações e oportunidades, no entanto demandam custos para sustentá-las. Podemos então inferir que os sites de redes sociais ainda não alcançaram sua capacidade máxima, uma vez que eles potencializam, mas não criam, de fato, redes desconectadas do mundo "concreto" do usuário? Ao afirmarem que "as redes são a extensão de nosso mundo social, mas elas também agem como seu limite" (p.81), esse limite seria da própria rede ou do usuário? Será que as redes precisam realmente ter limites?
- Em suas conclusões, Mariza Georgalou afirma que a maioria dos respondentes da pesquisa veem a manutenção dos seus perfis como parte do cotidiano, sendo como um universo paralelo onde eles estão incessantemente em órbita. Tal assertiva edidenciaria a contradição de um momento em que o mundo virtual comça aser naturalizado? Ou seja, se de um lado eles veem a manutenção dos perfil como algo que faz parte do dia a dia (como os nativos), ele ainda veem a Internet como um inverso a parte (como os imigrantes)?
- Em "Public displays of Conection", as autoras questionam a cultura do crescimento dos networkings como marca das redes sociais na Internet, visto ser impossível gerenciar tantos contatos. A tendência é evoluirmos para formação de redes em camadas, em que sejam priorizados os "nós" da nossa redecom os quais temos mais pontos de contato?
- Separação entre vida online e vida offline; apresentação de si a partir de uma construção positiva de si mesmo; anonimato; voyeurismo etc. Independente de estarmos ou não no ambiente virtual, os indivíduos, em geral, não se preocupam em ressaltar os aspectos que consideram positivos acerca de si em seus relacionamentos? As matérias sobre como se comportar em entrevista de emprego; o uso adequado da vestimenta sem determinado ambiente organizacional; a escolha do uso da ‘melhor’ linguagem para determinados textos etc não seriam indicativos que, independente do ambiente, estamos sempre ‘nos ajustando’? Por que pensar que no ambiente virtual a situação deveria ser ou é diferente? Ou mesmo, porque considerar que no ambiente virtual este cuidado é algo fake, produzido, não real?
- Considerando que a maior parte das interações relacionais mediadas pela internet se dá através da escrita, a consciência da presença do ‘outro’ não é algo relativo? O outro pode não ser aquele que diz que é, ou seja, o ‘outro’ pode, na realidade, ser outra pessoa (aqui incluindo a questão do gênero, da idade etc). Com isto, os estereótipos e as imagens idealizadas entram na questão?
- As autoras, Donath e Boyd, estão - no fundo - tentando problematizar o quanto nossas relações com os outros definem quem nós somos? E, ao trazerem a discussão para os perfis dos sites das redes sociais digitais (SNS), buscam compreender o que está 'em jogo' quando publicamente nos vinculamos a alguém?
- Partindo do que o segundo texto destaca como "modelo sociológico das reivindicações implícitas e explícitas de identidade nos SNS", que permite observar a construção do self em termos não apenas narrativos, mas também enumerativos e pictóricos, é possível pensar a identidade pessoal como definidora do valor social do indivíduo nas redes sociais digitais?
- No trabalho de Donath e Boyd, as autoras citam com frequência a relevância do que elas chamam de "bridges" nas redes sociais. Estes "usuários-ponte" atuam como "hubs", conectando pessoas distantes socialmente cujo a interação é julgada como adequada ou pertinente. A partir daí, estas pessoas criam laços ("ties") de acordo com as similaridades, interesses etc. Estas relações, segundo elas, se diferenciam em duas vertentes: os laços fortes e os laços fracos. Quais são os traços definidores destes laços e quais os custos envolvidos na manutenção de tais contatos?
- Ambos os textos tratam do self enquanto uma construção multifacetada, dotada de inúmeras janelas, que fornecem ao observador distintos pontos de vista. Considerando esta premissa, como pensar o gerenciamento de impressões no indivíduo que possui diversos perfis em redes com finalidades específicas? O self contemporâneo é um somatório de fragmentos de si em bits?
- Logo no início do paper, as autoras (DONATH, BOYD, 2004) afirmam que "o uso da internet cresceu muito e que hoje, é muito mais fácil que seus amigos e pessoas que você desejaria ser amigo estejam presentes no ciberespaço". Nesse sentido, questionamos: em 2004, ainda cabia a distinção entre mundo online e mundo offline, como sugerem as autoras? E quanto ao termo ciberespaço? Ele não se mostrou pouco capaz de explicar o então momento, fortemente marcado pelo boom dos sites de redes sociais?
- As autoras afirmam que "since one's connections are linked to one's profile, which they have presumably viewed and implicitly verified, it should ensure honest self-presentation." A partir das leituras prévias acerca de self-presentation, questionamos: é possível pensarmos em alguma forma "honesta" de self-presentation? Como seria, então, uma self- prsenation "desonesta"?
- Segundo o texto Donath & Boyd, a confiabilidade das informações expostas dependem de para que elas serão usadas; isso não evocaria uma fragmentação, fragilidade ou ao menos incerteza e instabilidade nas informações que agenciam a suposta identitdade do self exposto na rede? Seria então uma redução para uma vivência de simulacro espetacular na relação vincular dos laços sociais na rede?
- Se no texto de Donath & Boyd, ele afirma que nos sites parace haver a máxima ‘Não importa o que você é, mas o que você aparenta ser’ como vetor imputado nas auto-apresentações das redes sociais; isso parece contrapor a possibilidade de ocorrência de traços identidades consolidados como parece indicar na pesquisa em Georgalou?
- As novas redes de contato permitem novos encontros e revisitações de relacionamentos passados, como amigos de infância que não se encontram há décadas. Nestas décadas, todos mudaram. Em especial na última, justamente pelo aceleramento das possibilidades humanas de conhecimento, de deslocamento, de novos laços que fomentaram um ser distinto daquele. Até que ponto este reencontrar com amizades antigas de uma pessoa que já fomos e atualmente pouco se reflete em nós é benéfico, e não apenas mais uma auto-cobrança de mantermos muitos laços, sendo isto cada vez mais visto socialmente como competência social?
- As novas redes de contato permitem novos encontros e revisitações de relacionamentos passados, como amigos de infância que não se encontram há décadas. Nestas décadas, todos mudaram. Em especial na última, justamente pelo aceleramento das possibilidades humanas de conhecimento, de deslocamento, de novos laços que fomentaram um ser distinto daquele. Até que ponto este reencontrar com amizades antigas de uma pessoa que já fomos e atualmente pouco se reflete em nós é benéfico, e não apenas mais uma auto-cobrança de mantermos muitos laços, sendo isto cada vez mais visto socialmente como competência social?
- As redes sociais
impuseram uma auto-reflexão sobre a necessidade do ser manter uma lógica
comportamental, em função de estar sendo analisado por muitos e recebendo tal
feedback, aumentando a cobrança, em geral, da pessoa consigo mesma, sobre a
coerência do que se é, em um tempo em que nos fragmentamos e alteramos
constantemente nossas trajetórias de vida tantas vezes, nos distanciando de
pontos iniciais? Estes novos encontros com velhos conhecidos são benéficos, ou
encontros virtuais fragilizados pelo tempo, são decepcionantes para ambas as
partes que se decepcionam consigo mesmas pela (in)capacidade de ter mantido uma
trajetória de vida “linear”?
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