domingo, 1 de abril de 2012

Fichamento - Identidade e Self [texto 2]

HOGG, Michael A.; VAUGHAN, Graham M. Essentials of social psychology. Published Harlow: Pearson Education, 2010 (p. 64 - 90).

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SELF, IDENTITY AND SOCIETY

Por Thais Bittencourt de Miranda

Sobre os autores:

Dr. Michael Hogg (PhD Bristol, UK) é Professor de Psicologia Social da Escola de Ciências Comportamentais e Organizacionais da Claremont Graduate University. Ele é Professor Convidado de outras Universidades, tais como a University of Kent e a University of Queensland. Além disso, Hogg é membro da Association for Psychological Science, dentre outras: Society for Personality and Social Psychology, Society of Experimental Social Psychology, Society for the Psychological Study of Social Issues, Western Psychological Association, Academy of the Social Sciences (Australia). Grahan Vaughan é Professor do Departamento de Psicologia da University of Auckland. Anteriormente, ele ocupou cargos na Bristol University, Cambridge University, na Maison des Sciences de L´Homme (Paris), na University of Illinois, na Princeton University e na National University of Singapore.

Objetivos do capítulo:
Essentials of Social Psychology trata-se de uma obra introdutória ao campo da Psicologia Social. Neste capítulo, intitulado “Self, Identidade e Sociedade”, os autores visam discorrer sobre o conceito de self, explorando seu significado, suas origens e de que forma ele influencia os pensamentos e a vida em sociedade.

Argumentação Central

Introdução: Hogg e Vaughan apresentam a importância da discussão sobre o self e a identidade como construtos cognitivos que influenciam a interação social e a percepção. Segundo os autores, a interação social depende das pessoas saberem quem elas são e quem são os outros. O conhecimento da nossa identidade regula e estrutura as formas com que interagimos uns com os outros. Possuir uma alta consciência de quem somos - do nosso self, portanto - é uma conseqüência da capacidade humana de refletir sobre sua própria existência e sobre o outro. Self e identidade são elementos constituintes fundamentais do ser humano e não é à toa, pois, que o self desperta a curiosidade de muitos pesquisadores - especialmente nos últimos anos, quando os estudos acerca do tema cresceram significativamente.

O self na história e o self psicodinâmico: A ideia de que cada indivíduo possui um self é relativamente recente, já que a identidade era atribuída aos papéis e posições sociais ocupadas – e de suas variáveis constituintes (local de nascimento, família, sexo, raça, religião etc). Os autores apresentam quatro principais fatores que impulsionaram, no século XVI, a atual compreensão (complexa) do self e da identidade: secularização, industrialização, iluminismo e psicanálise. Quanto a este último, Hogg e Vaughan destacam a influência de Freud na discussão acerca do self psicodinâmico. Para Freud, a única maneira de acessar o self e de se conhecer, de fato, seria através da hipnose ou da psicanálise, onde o indivíduo revelaria seus pensamentos reprimidos.

O self: “Eu” (“I”) ou Nós? Neste tópico, os autores questionam se o self deve ser entendido como um fenômeno individual ou coletivo. Inicialmente, para alguns psicólogos, o self era percebido como algo individual. Já em outras ciências, que estudavam o indivíduo em coletividades/comunidades, existia a tendência de perceber uma identidade compartilhada. A teoria das multidões, por exemplo, postulou que existiria um comportamento próprio das massas. Para os psicólogos que estudam as interações entre indivíduos, as teorias do self como algo apenas individual foram sendo substituídas, gradativamente. Pesquisadores mais recentes entendem o self como algo que se desenha a partir das propriedades dos grupos: um self coletivo, estudado pela Teoria da Identidade Social.

O self e a interação social: Os autores apontam que, para George Mead e outros pesquisadores do Interacionismo Simbólico do final do século XIX, o self nasce e é influenciado pela interação social, que, por sua vez, influencia o comportamento das pessoas. O self poderia ser entendido como o “Eu/I” - o fluxo da consciência - e como o “Me”, objeto de percepção. O pensamento reflexivo é possível porque o “I” tem consciência do “Me” e então os indivíduos podem se conhecer (self-knowledgment). Essa percepção acerca de quem são não é muito apurada e as pessoas tentam se reconstruir, sem se dar conta desse processo. Entretanto, os indivíduos possuem a consciência do “Me” (self percebido). O Interacionismo Simbólico desenvolve o conceito deste self que surge da interação social e é constantemente recriado ao longo do tempo e das influências sociais. Interagir, então, seria, assim, agir a partir de pensamentos e expectativas dos outros em relação a si. Para Mead, a interação humana é simbólica porque ela se dá através de aspectos verbais e não verbais, que são cheios de significados – mais do que pelas nossas ações, simplesmente. 
A Interação simbólica passa também por assumir o papel do outro, ou seja, trata-se de ver a si mesmo como pensamos que os outros nos vêem, como uma espécie de objeto (“me”), mais do que como um sujeito social (‘I”). Esse self derivado do olhar do outro sobre nós é chamado, pelos interacionistas, de “looking-glass self”. Na verdade, os autores mostram que nós nos vemos não como os outros nos vêem, mas como nós imaginamos sermos vistos.

Consciência do self/auto-consciência (self awareness): A partir de relato de pesquisas feitas no intuito de averiguar o “looking-glass self”, os autores discorrem sobre o conceito de self awareness. Segundo eles, o momento em que o indivíduo encontra-se consciente de si como um objeto, é chamado de self awareness e é quando comparamos quem somos, de fato, com quem gostaríamos de ser. A partir dessa teoria, Charles Carver e Michael Scheir propõem dois tipos de self dos quais nós temos consciência: Self Privado (pensamentos particulares, sentimentos, atitudes) e Self Público (como as pessoas te vêem, imagem pública). Estar no estado de self awareness pode nos deixar ansiosos: se sob alerta do self privado, tendemos a um comportamento associado aos nossos valores internos, enquanto que estar sob alerta no self público conduz a uma apresentação de ações positivas para os olhos dos outros. Por outro lado, existem momentos em que nos encontramos em estados de pouca consciência. O oposto do self awareness é a desindividualização (deindividuation): beber demais, perder o controle das nossas atitudes ou agir impulsivamente são alguns exemplos.

Conhecimento de si (self-knowledgment): Quando as pessoas estão no estado de self awareness, o que elas estão conhecendo, de fato? Segundo os autores, o processo de auto-conhecimento é construído da mesma forma através da qual construímos representações de outras pessoas. Esse processo está relacionado a diversos fatores/etapas. São eles: esquemas (self-schemas), aprendizado (learning), comparação social e auto-conhecimento (social comparison e self-knowledgment) e regulação (self regulation).



Muitos Selves, Identidades múltiplas: Neste momento do capítulo, os autores propõem uma questão para discussão: você já se sentiu como se fosse mais de uma pessoa? Hogg e Vaughan explicam que existem duas categorias de identidades que definem tipos variados de selves: identidade social e identidade pessoal. A identidade social define o self em termos de pertencimento a grupos, enquanto a identidade pessoal o trata de acordo com as características e relacionamentos idiossincráticos. Os autores defendem o caráter variado do self a partir das diferentes formas que estes se apresentam: self individual, self relacional e self coletivo. Em seguida, os autores estabelecem critérios para que se possa distinguir entre self e identidade. Já que os indivíduos possuem uma diversidade de selves, é preciso buscar formas de se manter um retrato integrado de quem somos – trata-se de manter coerência (self-coeherence) e estabilidade no comportamento.

Motivos do Self (Self Motives): Os psicólogos sociais identificaram três tipos de motivos que influenciam a construção do self e a busca por auto-conhecimento: self-assessment (validação do self), self-verification (consistência), self-enhancement (parecer bem). Self-assessment é o processo pelo qual as pessoas procuram informações detalhadas e confiáveis sobre o self. Self-verification é a tendência de confirmar o que os indivíduos já pensam de si, para manter uma consistência. Self-enhancement descreve a tendência que os indivíduos possuem de procurar, revisitar e dedicar mais atenção a informações que construam imagens favoráveis de si. Os autores relatam que em um dado experimento, Sedikides descobriu que, naquele contexto, o self-enhancement destaca-se como motivo mais forte de auto-conhecimento, seguido de self-verification e self-assessment. Ou seja, prevalece o favorecimento das imagens positivas e desejáveis do self.

Auto-Estima: Em seguida, os autores discutem a auto-estima, numa tentativa de responder por que as pessoas são tão motivadas a pensar positivamente sobre si mesmas. Nesse sentido, Sedikides e Gregg reuniram três características do pensamento humano quanto a esse tema, chamando esse conceito de self-enhancing triad: os indivíduos costumam superestimar seus pontos favoráveis, superestimar seu controle sobre os eventos e são irrealmente otimistas acerca de si. Uma questão colocada pelos autores é “por que as pessoas buscam auto-estima”? Para eles, existem duas motivações possíveis: (1) medo da morte, já que as pessoas detentoras de auto-estima sentir-se-iam melhores e mais empolgadas com a vida e (2) indicador de aceitação social (sociometer).

Conclusão: No último tópico deste capítulo, os autores discutem questões como auto-apresentação (self presentation) e gerenciamento de impressões. Ancorados pelo trabalho de Erving Goffman sobre o tema, os autores identificam duas categorias de auto-apresentação: estratégica (foco na manipulação do outro) e expressiva (foco nas atitudes do sujeito). O conceito de auto-apresentação estratégica inclui aquelas pessoas que se monitoram mais, uma vez que estas moldam, de forma mais consciente, seu comportamento para as diferentes audiências. Nesse sentido, a auto-apresentação estratégica pode ser explicada, por sua vez, a partir de cinco elementos principais: (1) auto-promoção; (2) agraciamento/ingratiation; (3) intimidação; (4) exemplificação/referência e (5) súplica. Já a ideia de auto-apresentação expressiva envolve demonstrar o conceito que o indivíduo possui de si, através de suas ações.

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